Há alguns dias, participei de um evento que transformou minha percepção sobre a violência contra mulher, especialmente em suas formas mais sofisticadas e silenciosas. A segunda edição do Fórum EVA Empodera, promovido pelo Instituto Júlio Karolino, reuniu autoridades públicas, especialistas e ativistas para discutir e conscientizar sobre as múltiplas expressões da violência contra mulher.
Por isso, o encontro se tornou um espaço de escuta, reconhecimento e renascimento, onde tive a honra de receber a homenagem:
Mulheres Q-Inspiram São Bernardo do Campo
“Em reconhecimento à sua trajetória marcada pela força, sensibilidade e liderança que inspira outras mulheres e contribui de forma significativa para a transformação da sociedade e a construção de um futuro mais justo, humano e igualitário.”
A partir do conteúdo apresentado no evento, somado à relatos compartilhados por mulheres nas minhas sessões de Terapia de Estilo e experiências vividas por mim e por tantas outras, decidi ampliar essa discussão com objetivo de nomear, expor, conscientizar e prevenir formas de abuso normalizados socialmente; sutis, contínuos e presentes no cotidiano feminino em todas as áreas da vida, seja pessoal, familiar ou profissional.
Violência Contra Mulher: Nomear para conscientizar
Um ataque de violência contra mulher nem sempre é fácil de identificar, especialmente porque muitos acontecem de forma ardilosa, disfarçados de “preocupação”, “parceria”, “amizade”, “dinâmica de grupo” ou “brincadeira”. Essas estratégias confundem a vítima e a deixam sem argumentos para reagir.
A seguir, listo sete formas de agressão tão cruéis quanto aquelas que já conhecemos:
1. Violência Estética
Esse tipo de agressão merece um destaque especial, porque muitas vezes vem disfarçado em deboche ou sob a imposição de um dress code corporativo inexistente, baseado somente nos valores pessoais da liderança ou nas opiniões dos colegas de trabalho; sem regras claras ou normas de vestuário estabelecidas pela empresa.
👉 A pressão para ostentar um ideal de beleza, silenciar o corpo ou se adequar a padrões de imagem e comportamento que não acolhem a autenticidade da mulher é uma forma profunda de violência estética. Um exemplo clássico aparece na novela Vale Tudo, em que a personagem Aldeíde é humilhada por seu chefe, Marco Aurélio, por causa do seu estilo considerado “cafona”.
2. Violência Digital
É o monitoramento obsessivo das redes sociais da vítima, com reações passivo-agressivas ao seu conteúdo, carregadas de indiretas, mensagens de duplo sentido e uma vigilância constante por meio de perfis falsos (fakes). Os stalkers nem sempre estão motivados por desejo amoroso, podem ser amigos, familiares ou colegas de trabalho que, por trás de uma fachada de proximidade, nutrem algum sentimento de posse ou domínio.
👉 O objetivo é controlar sua presença online, punir sua autonomia, gerar medo, culpa e a sensação de inadequação. Trata-se de uma tentativa velada de minar sua liberdade de expressão e restringir seus movimentos no ambiente virtual.
3. Violência Moral disfarçada de “Cavalheirismo”
Frequentemente presente em ambientes corporativos, esse tipo de violência utiliza uma linguagem aparentemente polida. Frases como “falta de profissionalismo”, “falta de ética” ou “traição de confiança” são lançadas ao vento, mas têm alvo claro: você.
Além disso, há cobranças emocionais como a exigência de mensagens de voz, a necessidade de responder imediatamente ou de enviar “bom dia” diários. Mesmo favores profissionais, só com a intenção de “ajudar”, ou convites despretensiosos para refeições funcionam como moeda de controle emocional.
👉 Por trás da “gentileza”, existe uma imposição de regras de conduta e uma manobra sutil de mantê-la na posição de “gratidão eterna” por algo que fez por você. Isso impede rupturas saudáveis e perpetua o controle pela culpa.
4. Gaslighting Profissional
Essa forma de violência ocorre quando um homem tenta apagar as conquistas de uma mulher, bem como desqualificar sua autoridade pública. Ele pratica esse abuso ao excluí-la de conteúdos estratégicos, como postagens em redes sociais, relatórios, e-mails ou mensagens sob sua administração, com objetivo de evitar qualquer reconhecimento da reputação intelectual e profissional da vítima.
👉 É uma forma de abuso psicológico que busca colocar a mulher em posição de inferioridade, fragilizar sua autonomia e desmoralizá-la de maneira indireta. Aqui, ele faz a vítima duvidar das suas próprias conquistas e insinua que, sem sua ajuda ou autorização, ela não chegará a lugar nenhum.
5. Violência Reputacional
Humilhações verbais proferidas com gritos, deboches e gestos intimidantes, em público ou não, que ridicularizam a trajetória da mulher, desmerecem seu trabalho e subestimam e/ou anulam seus esforços.
Um exemplo marcante, que presenciei ao vivo, na TV, ocorreu no episódio 06 (parte 2) da atual temporada do MasterChef Brasil. A participante Glória foi duramente criticada por seus pratos, sendo verbalmente humilhada em público. O chef Fogaça chegou a dizer que o prato apresentado era “escroto” (termo que foi cortado na edição do YouTube).
Na mesma cena, o chef Jacquin adota outra forma de humilhação, mais disfarçada e sofisticada: o sarcasmo. Ele debocha de Glória, diz que ela jamais deveria convidá-lo para comer em sua casa. É uma fala carregada de desprezo, dita em tom “brincalhão”, mas que fere profundamente.
A pressão e o constrangimento foram tão intensos que, no final do episódio, visivelmente magoada, Glória desabafa:
“Só quem tem sangue de barata que escuta isso numa boa”.
👉 Trata-se de uma coação emocional disfarçada de “exigência profissional”, com um verniz de humor. É uma forma de agressão socialmente normalizada, que apaga o valor de uma pessoa, desacredita sua competência e expõe publicamente sua fragilidade emocional. No caso específico do programa, por exemplo, o abuso é chancelado pela emissora e amplamente aceito pelo público, sem qualquer tipo de questionamento.
6. Chantagem e Manipulação Afetiva
Nessa dinâmica, acontece a famosa “chantagem emocional”. O agressor compartilha histórias tristes, fala sobre o medo de envelhecer sozinho, diz que nada dá certo na vida dele ou até afirma que sua existência perdeu o sentido, ou seja, induzindo a vítima a acreditar que ele pode fazer algo contra si mesmo. Esse tipo de comportamento costuma acontecer justamente quando a mulher está feliz; sendo muito comum aos finais de semana ou em momentos de celebração pessoal.
Assim que despeja sua carga emocional, ele desaparece. Não responde às mensagens, não atende suas ligações ou, simplesmente diz que é melhor encerrar o assunto e pede que ela esqueça tudo o que foi dito — até a próxima vez em que vê-la feliz novamente, é claro. É o famoso “desmancha-prazeres”.
👉 Isso é manipulação afetiva. Esse padrão tem como objetivo desestabilizar a mulher emocionalmente, mantê-la presa ao controle e, claro, impedir que ela celebre a própria vida, porque, assim, continua ocupada demais se preocupando com problemas que são exclusivamente dele. Não se engane: você não é responsável pelo bem-estar emocional de ninguém.
7. Abuso Sexual Verbal
Acontece quando um homem compartilha boatos sobre a vida sexual de outras mulheres ou expõe detalhes da própria intimidade sem o consentimento da interlocutora. Desta forma, esse tipo de fala, que pode parecer “apenas” um comentário malicioso, coloca a mulher no papel de confidente forçada e funciona como uma forma de excitação disfarçada de desabafo. Pode vir de líderes, colegas de equipe, parceiros de trabalho, amigos e até familiares.
👉 Trata-se da objetificação da mulher mascarada de confiança. Isso é assédio sexual disfarçado de “amizade”, “piada”, “brincadeira” ou “mal-entendido”. Essa forma de violência, que já está enraizada na estrutura social, além de causar constrangimento, gera dores silenciosas e traumas invisíveis.
Essas formas de violência corroem, silenciosamente, o potencial feminino em todas as esferas sociais. Por isso, precisam ser expostas e combatidas.
E como a Mitologia Grega pode nos ajudar a entender e ressignificar a violência contra mulher?
Perséfone: A donzela que é arrancada da inocência e retorna como Rainha do Submundo
O mito de Perséfone nos revela que a violência contra a mulher tem raízes profundas e ancestrais, mas também mostra que é possível curá-las com consciência e ressignificação.
Perséfone foi raptada por Hades e levada ao submundo. Ela não escolheu descer. Ela foi arrancada. Assim como muitas de nós, roubadas dos nossos ciclos, das nossas vozes e das nossas primaveras. Mas Perséfone retornou. E com o tempo, se tornou Rainha do Submundo. Aprendeu a transitar entre o inverno e a primavera.
Renasceu. Voltou soberana. Assim como nós também voltamos: mais sábias, mais fortes, mais conscientes. Não como vítimas. Mas como rainhas.
Qual Deusa te veste para as batalhas da sua vida?
Esse é o cerne do meu trabalho como Consultora de Imagem Integrativa: resgatar a imagem como identidade de poder, liberdade e autonomia. Uma imagem que vai além da estética; é também emocional e psicológica.
A forma como nos vestimos e ocupamos nossos espaços comunica o que, muitas vezes, não conseguimos verbalizar. No Fórum EVA Empodera, me inspirei na Deusa Perséfone; aquela que me veste nas batalhas da vida e, hoje, me ajuda a expressar o que um dia tentaram calar. Escolhi usar bota e sobretudo vermelhos: símbolos de sangue, vida, luta, proteção e resistência. Assim como fizeram nossas ancestrais, e como ainda fazem tantas mulheres que seguem lutando, simplesmente, para existir em paz.
Cada peça carrega uma mensagem.
Cada mensagem é um manifesto!
E foi aí que uma jovem Miss me abordou e disse: “Você é a minha inspiração.”
Então eu entendi tudo: Quando uma mulher se levanta, outras se inspiram e sobem junto.
O silêncio não é mais uma opção
Se você reconheceu neste artigo alguma forma de violência, saiba que você não está exagerando, nem dramatizando. O abuso que vem em forma de piada, conselho, gentileza ou “cuidado” é ainda mais cruel. Porque ela não nos deixa gritar.
Mas agora, nós estamos falando. E não se calar é o primeiro passo para se proteger e conscientizar outras mulheres também.
Porque quando a gente verbaliza e conscientiza a gente neutraliza o veneno. E, mais ainda:
Abre caminho para outras mulheres saírem do silêncio. Não como vítimas. Mas como Rainhas.
Para quem busca orientação confiável, o Protocolo “Não Se Cale” é uma iniciativa oficial do Governo do Estado de São Paulo, sob a coordenação da Secretaria de Políticas para Mulheres. Ele apresenta um passo a passo claro sobre como identificar situações de violência e onde procurar ajuda, inclusive em ambientes públicos, eventos, bares e empresas.
Clique aqui e acesse o Protocolo “Não se Cale” gratuitamente.
Por fim, lembre-se: Em caso de emergência, você pode ligar para o 180 ou procurar uma Delegacia da Mulher mais próxima.
Agradecimentos especiais:
- Fernanda Karolino – Presidente do Instituto Karolino
- Chris Pereira – Presidente do Instituto Mulheres Extraordinárias de SBC
- Danilo Lima – Presidente da Câmara de São Bernardo do Campo
- Jéssica Kormick – Vice-Prefeita de São Bernardo do Campo
- Valéria Bolsonaro – Secretária da Mulher do Estado de São Paulo
- Sandra do Leite – Vereadora em São Bernardo do Campo
- Dra. Jaqueline Valadares – Presidente do Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado de SP
- Dra. Sandra Vilela – Advogada de Família
- Vanessa Vizza – Psicanalista
- Mel Medeiros – Miss Dreams Internacional
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