A versão original de “Vale Tudo”, exibida em 1988, sempre será lembrada como uma obra fascinante. Como o próprio ator Antônio Fagundes disse, em entrevista recente, ” ela foi uma novela na qual tudo funcionou perfeitamente”. E digo mais: ao mostrar as falhas de caráter das personagens, combinadas ao meio (o Brasil desigual), “Vale Tudo”, a original, conseguiu também traduzir o poder da literatura realista para o público, o que é muito bacana, já que nossas novelas que bebem exaustivamente da fonte do “romantismo”.
Mas, isto em 1988, tendo em vista que a atual versão, infelizmente, não teve este mesmo poder. Apesar de bem-sucedida comercialmente e também de agradar ao público, como mostrou uma pesquisa recente do Instituto Datafolha – 68% aprovam a trama – o remake de Manuela Dias fica longe de produzir os efeitos de sentido que tornaram a história um clássico.
Tiveram boas cenas? Sim! Mas a maioria delas já estavam escritas no passado, ou seja, a espinha dorsal daquilo que funcionou já estava ali pronta. Mesmo assim, houve méritos, como o filho escondido de Odete Roitman (Débora Bloch). De fato, a sacada da doação de medula foi muito boa, porém, perdeu força ao longo do tempo, principalmente com a chegada da personagem Ana Clara (Samantha Jones), que, salvo engano, é estudante de medicina e passa a maior parte do tempo correndo atrás de chantagear Odete. Estudar que é bom, nada né?
E por falar em chantagem/ vingança: parece que esses sentimentos se tornaram os únicos motores desta reta final. Realmente virou um “Vale Tudo”, mas de ringue de boxe ! Não que seja de todo ruim, mas está longe de levar o telespectador a um lugar maior, como fez a versão original.