O público tem comemorado a participação da Drag Queen Bianca DellaFancy na pele de Janaína, em “Renascer”, na TV Globo. Juntamente com a personagem trans Buba (Gabriela Medeiros), Janaína tem levado alegria ao público e mostrado a importância de uma rede de apoio para pessoas trans e LGBTQIAP+ em geral. Ana Maria Digital bateu um papo com a artista para registrar tudo deste momento especial na carreira dela, e que reflete a transformação da televisão brasileira.
Até quando poderemos ver Janaína em “Renascer”?
“Eu não sei dizer ao certo até quando, mas espero que haja muito mais dela, pois estou amando participar. Cada dia de gravação é de muito aprendizado e felicidade, tanto pessoal quanto profissional. Contracenar com os atores e estar na novela das nove é uma felicidade imensa, em uma obra tão especial e importante. É gratificante imaginar o quanto trabalhei para chegar até aqui, o quanto sonhei em estar em um lugar tão grande, com tamanha visibilidade, representando tantas pessoas.”
Qual foi sua inspiração para criar ela?
“Para criar Janaína, eu me inspirei muito na Bianca DellaFancy no início da carreira. Janaína é uma drag queen que sonha em se tornar uma estrela. Ela anseia por ser reconhecida pelo mundo. Na verdade, para ela, o mundo já a conhece, mas isso é apenas um detalhe. Busquei as minhas próprias memórias da época em que comecei a me montar, cerca de dez anos atrás. Naquele tempo, eu era como o Felipe, que estava começando a entender o que era a arte drag e a se expressar artisticamente. Minha maquiagem, as palavras e meu comportamento não eram tão refinados. Eu simplesmente falava o que vinha à mente, sem me importar muito. Tinha uma grande vontade de ser famoso; de ser reconhecido. Isso mudou com o tempo. Meu objetivo agora é ser reconhecido, valorizado e notado pelo meu trabalho, pela minha arte, muito mais do que ser famoso. Mas a Janaína ainda aspira à fama; ela está no início de sua jornada e ainda vai compreender que ser famoso não é o mais importante.”
Como tem sido a repercussão da personagem com o público? Você ganhou novos seguidores?
“Ganhei novos seguidores, o que me deixa muito feliz. Não apenas porque é importante para o meu trabalho na internet ou para fechar publicidade. As marcas frequentemente procuram pessoas com bom engajamento e um número considerável de seguidores. Mas não é só por isso; ver o número de seguidores crescendo é como um termômetro para entender o quanto as pessoas estão gostando do personagem, se estão se relacionando com ele e se estão sendo positivamente impactadas por ele. Quando as pessoas seguem, como têm feito, isso mostra um pouco de como a Janaína tem sido muito querida pelo público, e isso me deixa muito feliz. A repercussão tem sido incrível; o público que já me acompanha há algum tempo fica muito feliz por essa vitória na minha carreira, como se fôssemos amigos próximos mesmo.”
Como a Janaína vai ajudar a Buba a lidar com os problemas com a rival? E toda a questão da falsa gravidez?
“A Janaína tem o papel de abrir os olhos da Buba em toda e qualquer situação. Não sei se ela estará presente em relação aos problemas com a rival ou à falsa gravidez. Não sei se haverá uma participação direta da Janaína nesses assuntos. Mas, de modo geral, os conselhos dela são para a Buba aceitar a si mesma, reconhecer seu próprio valor. Janaína incentiva Buba a perceber sua competência para lidar com a própria vida, sem depender de ninguém, e a não se submeter às expectativas alheias, como já ocorreu antes. Ainda não sei se o personagem estará presente nessas cenas, ou aconselhando a Buba sobre a rival e a falsa gravidez. No entanto, se ela for esperta, a Buba poderá aplicar os conselhos de Janaína nessas circunstâncias também.”
Na sua carreira como drag, qual foi a principal dificuldade que você encontrou no caminho?
“Eu acho que a maior dificuldade sempre foi fazer as pessoas entenderem que o que eu faço é arte e é, de fato, o meu trabalho. Sendo o meu trabalho, eu mereço ser reconhecido e valorizado, inclusive financeiramente. Isso hoje em dia está mais fácil de entender. Nós estamos trabalhando há alguns anos para que as pessoas entendam isso. Mas no começo, era meio difícil fazer as pessoas entenderem isso. Sempre que eu falava que era drag, eu sempre ouvia, ‘Ah, que legal! E você trabalha com o quê?’ Eu falava: ‘Não, esse é o meu trabalho.’ Hoje em dia, as pessoas já conseguem entender, mas só depois de eu ter acessado lugares tão incríveis como esse da novela. É explícito que é o meu trabalho, que é o meu ganha pão. Então, acho que essa foi uma das maiores dificuldades. Fora as dificuldades que eu mesmo imponho a mim mesmo como auto-sabotagem, mas essas eu tenho tratado na terapia e vou muito bem, obrigado (risos).”
