Haonê Thinar vem conquistando o público brasileiro com sua força, talento e naturalidade em “Dona de Mim”. Muito além de uma participação marcante na novela, a atriz se tornou uma voz importante no debate sobre representatividade e a forma como pessoas com deficiência são retratadas na mídia e na sociedade. Em conversa com a coluna Melhores da TV, AnaMaria, ela fala sobre o impacto da personagem Pâmela, que vive a vida como qualquer mulher comum; comenta a diferença entre viver em São Paulo e no Rio de Janeiro quando o assunto é acessibilidade; e conta como tem equilibrado as gravações da novela com a maternidade. Confira!
Você já disse em entrevista que pessoas PCD são retratadas como “anjos de luz”, em referência à idealização e vitimização. Pode nos falar sobre isso ?
“Quando falamos de PCD, já falamos de pessoas com deficiência. Então, o correto é falar somente PCD, não pessoas PCDs, porque PCD já é pessoa com deficiência. E sim, já vi muitas pessoas serem retratadas como ou a gente é infantilizada e colocado nesse lugar de anjos, de luz e referência e exemplo de superação ou tem o outro lado também que acabam demonizando a pessoa com deficiência, que é quando falam para um filho: ‘oh, isso daí, ela está sendo uma perna porque ela desobedeceu… a mãe dela caiu e perdeu a perna…” e isso acaba afastando as pessoas da gente também. Esse lugar de colocar a gente como sempre ser alguém que superou, que somos exemplos de superação não é legal porque colocam como se a gente fosse super-heróis e não somos. Temos uma deficiência e vivemos dentro das nossas possibilidades como todas as pessoas vivem. Uma pessoa que acorda cedo, vai trabalhar, pega um transporte público para pagar a conta dela, ela também é um exemplo de superação. Ela se superou em sair de sua própria zona de conforto e honrar com seus compromissos financeiros. Então, não acho legal colocar a gente nesse lugar de ‘anjo’, por exemplo. Somos pessoas com opiniões, sentimentos, desejos, crença, pessoas comuns na sociedade, porém com uma deficiência.”
Neste sentido, por que o seu papel em “Dona de Mim” avança no debate ?
“O meu papel em ‘Dona de Mim’ avança muito nesse debate porque eles colocaram a Pâmela em um lugar de uma pessoa que está em sociedade independentemente dela ter uma deficiência ou não. Então a Pam trabalha, ela estuda, já se relacionou com outras pessoas. Ela tem amigos, frequenta o forró, ela faz tudo que uma pessoa sem deficiência também faz, porque isso acontece estar na sociedade como eu, né? Eu, Haonê, nunca deixei de viver ou de fazer nada por conta da minha deficiência. Sempre trabalhei, tive amigos, me relacionei. Hoje sou casada, tenho dois filhos, eu também cuido da casa e dos meus filhos.
Faço tudo que uma pessoa sem deficiência também faz. A Pam não é estereotipada pela deficiência. Ela representa uma pessoa comum, porém com as suas diferenças que é diferente de limitações. A Eu, Haonê, também tenho pouquíssimas limitações. Minha única limitação é precisar carregar algo na mãos estando com as muletas. Mas não tenho problema nenhum com escada, em subir ladeira, nem para me deslocar. Eu não me vejo como uma pessoa limitada, até porque nunca deixei de fazer nada. Cada um tem o seu jeito de viver e que é diferente do outro, como é também para as pessoas sem deficiência.”
Você é de São Paulo, mas está morando no Rio. Como foi essa mudança ? No que diz respeito à acessibilidade, qual das duas cidades se sai melhor, em sua opinião ?
“Sim, eu moro em São Paulo e hoje estou no Rio de Janeiro em função do trabalho na novela. Pela minha experiência particular, falando em acessibilidade, acho que lugar nenhum ainda está preparado 100% para acessibilidade, nem São Paulo, nem Rio. Eu acho que a acessibilidade ainda tem muito que evoluir em todos os lugares. Banheiros acessíveis, que muitas vezes ficam trancados em vários estabelecimentos, tanto aqui quanto em São Paulo, as pessoas não respeitarem assentos preferenciais em transportes públicos. Então, infelizmente, isso ainda é comum.”
Vida pessoal: você teve sua filha pouquíssimo tempo antes das gravações na Globo. Como tem conciliado esses dois desafios ?
“Sim, minha filha, Lavinia, tem 10 meses. Ela tem a ‘idade’ da novela e o Felipe Gabriel tem 7 anos. Claro que conto com a parceria do meu marido na ajuda e criação dos filhos. É tudo bem compartilhado. Não é a coisa mais fácil do mundo conciliar trabalho com maternidade. Mas trabalhar muito e ter dois filhos tem feito eu evoluir. Muito como pessoa e principalmente como mãe.”








