O bairro do Flamengo, na Zona Sul do Rio de Janeiro, vai ganhar um dos maiores empreendimentos imobiliários dos últimos anos. O terreno de 15 mil metros quadrados que abrigava o tradicional Colégio Bennett foi vendido por cerca de R$60 milhões ao banco BTG Pactual e ao empresário Rogério Chor. O projeto prevê um condomínio de alto padrão com 350 unidades residenciais, áreas de lazer, segurança reforçada e a restauração de um palacete histórico do século XIX, tombado como patrimônio cultural.
O início das obras está previsto para 2025 e o Valor Geral de Vendas (VGV) pode chegar a R$500 milhões, com o metro quadrado estimado em R$20 mil.
Mas, além da valorização imobiliária, o projeto desperta discussões importantes sobre convivência, segurança e gestão eficiente de grandes condomínios. A síndica profissional Juliana Moreira, especialista em gestão condominial, chama atenção para os desafios que começam muito antes da entrega das chaves.
Convivência e integração com o bairro
Para Juliana, o maior desafio de empreendimentos desse porte é promover uma convivência harmônica, tanto entre os moradores quanto com a vizinhança.
“É natural que um empreendimento tão grande modifique a dinâmica local. A gestão precisa pensar desde o início em canais de comunicação ativos, eventos de integração e regras claras de convivência”, explica.
Ela defende que, quando os moradores se sentem parte de uma comunidade organizada, os conflitos diminuem e a sensação de pertencimento aumenta.
Segurança de “pequeno bairro”
Outro ponto de atenção é a segurança, especialmente porque o terreno continuará abrigando uma escola e, futuramente, uma faculdade de medicina.
“Teremos estudantes, funcionários e moradores circulando ao mesmo tempo. Isso exige portaria treinada, protocolos rigorosos de identificação e tecnologia de controle de acesso”, alerta Juliana.
A síndica sugere simulações de emergência, câmeras integradas, identificação facial e sistemas de dupla checagem na entrada, reforçando que a segurança deve ser pensada “como a de um pequeno bairro”.
Gestão profissional desde o início
Juliana defende que a gestão condominial seja estruturada ainda durante as obras.
“Não se trata apenas de administrar áreas comuns. Um condomínio com 350 unidades exige planejamento estratégico, cronogramas de manutenção e fluxo de caixa bem estruturado”, afirma.
Ela alerta que a falta de organização inicial pode comprometer o valor dos imóveis a longo prazo.
Valorização com responsabilidade
O projeto também vai restaurar o palacete tombado do antigo Colégio Bennett, que será integrado ao novo condomínio. Para Juliana, essa é uma oportunidade de criar um espaço vivo de cultura e memória.
“Esse patrimônio não pode ficar isolado. Pode ser um centro de convivência, biblioteca, espaço para eventos ou museu aberto à comunidade”, sugere.
Sobre a especulação imobiliária, ela faz um alerta:
“Com unidades tão valorizadas, é comum atrair investidores que não moram no local. Isso pode impactar o cuidado com o imóvel. É preciso ter regras claras, inclusive para aluguéis de curto prazo, que devem ser controlados com rigor.”
Construir prédios ou construir comunidades?
Para Juliana Moreira, o verdadeiro sucesso do projeto vai muito além do luxo.
“Mais do que construir prédios, é preciso construir comunidades. Quando isso acontece, o resultado vai além da valorização financeira: cria-se um lugar onde as pessoas realmente querem viver.”