Interpretar um personagem real que foi vítima de uma tragédia nacional não é tarefa fácil. Mas Edison Alcaide mergulhou de corpo e alma no papel de Jean Charles de Menezes, o eletricista brasileiro morto por engano pela polícia britânica em 2005. Em entrevista exclusiva à AnaMaria, o ator compartilha os desafios de viver esse papel, seu amor pelo ofício, e os valores que carrega consigo — dentro e fora das telas.
“Esse projeto significou tudo pra mim”, revela Edison, com os olhos marejados ao falar da importância de protagonizar a minissérie Caso Jean Charles, disponível no Disney+. “O caso sempre foi rodeado de mentiras e muita injustiça. Então, foi uma honra ajudar a contar a verdade e, de alguma forma, trazer um pouco de justiça através da arte.”
E não foi só na atuação que Edison se entregou: ele conheceu familiares de Jean em Londres, manteve um diário com os pensamentos do personagem e mergulhou nos mínimos detalhes da vida do rapaz que teve seus sonhos interrompidos. “Queria saber até que tipo de comida ele gostava. Tudo isso ajuda a dar verdade ao personagem.”
Criado entre Brasil e Espanha, Edison viu o amor pelo cinema nascer ainda pequeno. “Minha mãe teve que jogar fora a fita VHS de O Mágico de Oz, porque eu assistia todos os dias”, conta, rindo. Foi essa paixão que o fez cruzar fronteiras e construir uma carreira sólida em Londres, onde vive desde os 18 anos.
A atuação, para ele, vai além da performance. “Gosto de viver intensamente os personagens. Me inspiro em atores como Jeffrey Wright, que entregam verdade. Não gosto de interpretações mecânicas ou exageradas. Quero sentir, não atuar.”
Essa sensibilidade também se reflete na forma como enxerga o mundo. Crítico às injustiças sociais, Edison não foge de temas polêmicos. “O genocídio na Palestina, por exemplo, é uma barbaridade. Precisamos cobrar mais dos governantes e protestar”, afirma. E também se posiciona contra discursos de ódio, como os da escritora J.K. Rowling. “Ela parece uma vilã mal escrita de novela”, dispara, sem medo de se comprometer.
Na vida pessoal, o ator preza pela liberdade e autenticidade. “Amor, pra mim, é liberdade. E sem regras. Eu me sinto sozinho apenas quando estou cercado de pessoas que não me compreendem. Fora isso, sou feliz na minha própria companhia… e com meu cachorro, o Bruno!”
Ao ser perguntado sobre o que o faz feliz, Edison responde sem hesitar: “Uma rede, um livro, um café, comida boa, cachorros, amigos, música brasileira. Coisas simples.” A música que o representa no momento? Bandido Corazón, de Ney Matogrosso. “Mas já foi Coração Vagabundo do Caetano. Acho que tenho um lado um pouco cafajeste”, brinca.
Sua mãe, Pepa, revela que Edison sempre foi criativo e cheio de carisma. “Ele fazia filminhos quando criança, sempre dizendo que queria ser ator. Esse sonho nunca passou”, lembra, com orgulho. A melhor amiga, Laura, que o acompanha há mais de 12 anos, destaca sua generosidade: “Ele vê o lado bom de tudo e tem uma sensibilidade rara.”
Já o produtor da série, Kwadjo Dajan, não economiza elogios: “Recebemos mais de 100 inscrições, mas o Edison tinha algo a mais — uma qualidade cativante que refletia o verdadeiro Jean Charles. Foi a escolha perfeita.”
E se alguém ainda duvida do caminho que Edison escolheu, ele responde com firmeza: “Eu não vou parar, não. Quero seguir contando histórias, trazendo diversidade às telas, e crescer sem pisar em ninguém.”
Ao final da entrevista, ao ser questionado sobre quando foi a última vez que se sentiu feliz de verdade, ele sorri: “Agora. Estou feliz agora. Prefiro me focar no presente. Quero estar aqui, vivendo tudo com intensidade, hoje e sempre.”
Se depender de talento, sensibilidade e coragem, Edison Alcaide ainda vai emocionar o mundo muitas vezes.