No mundo tradicionalmente técnico e racional do Direito, a advogada Janaína Campos Catalani tem sido protagonista de uma transformação que, para muitos, ainda soa como novidade. Com sólida atuação jurídica e formação em constelação familiar, ela encontrou uma forma de conciliar sua inquietação com a advocacia convencional e sua profunda vontade de ajudar pessoas de maneira mais humana e eficaz.
“Eu nunca quis ser aquela advogada que empilha processos e vive de papelada. Sempre busquei uma forma diferente de exercer minha profissão. Foi nesse caminho que encontrei a constelação familiar”, revela Janaína.
A prática, criada por Bert Hellinger, é uma técnica terapêutica que busca identificar padrões ocultos herdados de gerações anteriores que influenciam conflitos atuais. Ainda que muitas pessoas associem a constelação a práticas místicas, Janaína esclarece: “Ela não tem cunho religioso nem espiritual. É uma ferramenta que permite enxergar com profundidade a raiz emocional de problemas que, muitas vezes, se manifestam em disputas jurídicas.”

Para a advogada, integrar essa abordagem ao Direito trouxe uma nova perspectiva. “Em vez de olhar apenas para os fatos, passo a considerar a história de vida das pessoas envolvidas. Isso muda tudo. Cada cliente é único, cada conflito tem raízes diferentes”, explica.
Ela conta que os maiores resultados dessa abordagem aparecem, sobretudo, nos casos de Direito de Família. “Divórcios, guarda de filhos, brigas por herança… são temas que carregam dores profundas. Já vi casos em que, após uma constelação, um casal em litígio por anos conseguiu finalmente dialogar e construir um acordo. Foi emocionante.”
Um desses episódios marcou profundamente a sua carreira. Durante um processo de divórcio conturbado, Janaína propôs uma sessão de constelação ao casal. “Ali, a esposa percebeu que projetava no marido uma dor antiga de abandono paterno. E o marido entendeu que repetia, sem perceber, o autoritarismo da mãe. Foi um momento de insight para ambos. Depois disso, conseguiram construir um diálogo e resolver a disputa de forma pacífica”, relata.
Apesar dos avanços, a constelação familiar ainda enfrenta resistências no meio jurídico. “Alguns colegas veem com desconfiança, acham que é misticismo. Mas, à medida que juízes e advogados testemunham os resultados — acordos mais rápidos e pessoas mais dispostas ao diálogo —, o preconceito vai dando lugar à curiosidade e ao respeito.”
Hoje, com um escritório voltado à advocacia sistêmica, Janaína afirma que a prática não substitui os trâmites legais, mas os complementa de maneira poderosa. “A constelação não é milagre. Ela não resolve sozinha. Mas pode iluminar aspectos ocultos do conflito, e isso por si só já é transformador.”
Para quem deseja entender melhor essa abordagem, a advogada recomenda buscar informações em fontes confiáveis, assistir a palestras e vivenciar uma constelação, mesmo que como observador. “Não é algo que se compreenda apenas lendo. É preciso vivenciar. E, acima de tudo, ter a coragem de olhar para dentro de si.”
Ao ser questionada sobre os principais benefícios dessa integração entre constelação e Direito, Janaína é enfática: “Ela devolve humanidade ao processo. As pessoas deixam de ser números. Passam a ser vistas em sua dor, em sua complexidade. E aí, soluções pacíficas surgem com muito mais naturalidade.”
Num cenário em que o litígio ainda é a resposta automática, a experiência de Janaína Campos Catalani mostra que é possível — e urgente — repensar a forma como lidamos com os conflitos. Com escuta, empatia e coragem de ir além da lei, ela aponta um novo caminho: menos guerra, mais compreensão.