Olá! Hoje vamos falar sobre um tema que gera muitas dúvidas: a tontura e suas possíveis causas psicológicas.
Em primeiro lugar, é importante esclarecer: quando usamos o termo “psicológico”, não significa que os sintomas sejam “imaginários”. Muito pelo contrário! Condições como ansiedade, depressão e estresse estão relacionadas a mudanças reais no funcionamento do cérebro, envolvendo alterações nos neurotransmissores (substâncias químicas que regulam a atividade cerebral). Isso mostra que os sintomas são físicos e têm base biológica, mesmo quando desencadeados por fatores emocionais.
Qual o papel do cérebro na tontura?
O cérebro é o grande coordenador do equilíbrio corporal. Ele recebe informações de várias partes do corpo para manter a postura, a locomoção e a orientação no espaço.
Entre os sistemas que fornecem informações ao cérebro, destacam-se:
- O labirinto (ouvido interno): responsável pelo equilíbrio e pela percepção de movimentos.
- Os olhos: fornecem referências visuais sobre o ambiente.
- Os receptores do corpo e da coluna (propriocepção): enviam sinais sobre posição e movimento.
Quando ocorre uma labirintite, por exemplo, há um descompasso entre as informações enviadas ao cérebro. Isso gera tontura, que costuma melhorar com o tempo graças a um processo chamado compensação cerebral. Nesse mecanismo, o cérebro se reorganiza e reaprende o equilíbrio através da plasticidade neuronal (capacidade de adaptação).
Emoções influenciam o equilíbrio?
Sim. A capacidade de compensação do cérebro é influenciada por diversos fatores, entre eles a ansiedade.
A ansiedade e a depressão não se manifestam apenas como sintomas emocionais — elas causam também desconforto físico e mental, como agonia, angústia, palpitações, medo, tristeza e cansaço. Tudo isso está ligado ao desequilíbrio de neurotransmissores, impactando diretamente a forma como o cérebro processa os sinais do equilíbrio.
Tontura Postural Perceptual Persistente (TPPP)
Estudos recentes mostraram que pessoas com ansiedade têm maior risco de desenvolver a Tontura Postural Perceptual Persistente (TPPP), descrita em 2017.
A TPPP é caracterizada por uma tontura difícil de descrever, que aparece quase todos os dias e dura mais de três meses.
Sintomas principais:
- Sensação de cabeça vazia ou tontura constante.
- Instabilidade, como se estivesse “balançando” ou com as “pernas bambas”.
- Piora da tontura em situações específicas, como: ambientes cheios de estímulos visuais (shopping, supermercados); ficar em pé por muito tempo;movimentar a cabeça.
Muitos pacientes com TPPP apresentam exames normais do labirinto, o que reforça que o problema não está apenas no ouvido interno, mas na forma como o cérebro processa os estímulos.
E o estresse, tem relação?
O estresse é um fator-chave na tontura. Ele ativa dois grandes sistemas do corpo:
- Eixo hipotálamo-hipófise-adrenal, responsável pela liberação de hormônios.
- Sistema nervoso autônomo, que regula funções automáticas, como batimentos cardíacos e pressão arterial.
Quando há excesso de estresse, o equilíbrio entre esses sistemas se perde, prejudicando o processo de compensação cerebral. Isso explica por que o estresse pode:
- aumentar a intensidade de crises de labirintite;
- desencadear doenças como Doença de Ménière (tontura, zumbido e ouvido tampado) e enxaqueca vestibular (tontura associada ou não à dor de cabeça).
Tratamento: como lidar com a tontura de origem psicológica?
É fundamental lembrar que a relação é de mão dupla:
- Fatores emocionais podem causar ou piorar a tontura.
- A tontura crônica aumenta o estresse, a ansiedade e a depressão.
Por isso, o tratamento precisa ser integrado:
- Abordagem emocional: em alguns casos, antidepressivos ou ansiolíticos podem ser prescritos para ajudar na regulação dos neurotransmissores.
- Terapias complementares: psicoterapia, técnicas de relaxamento, meditação e exercícios respiratórios.
- Reabilitação vestibular: exercícios específicos que estimulam o cérebro a se adaptar ao desequilíbrio.
- Controle do estresse: sono adequado, atividade física regular e cuidados com a rotina.
A tontura pode, sim, ter origem em fatores psicológicos, mas isso não significa que seja algo “da cabeça” no sentido de ser imaginado. Emoções como estresse, ansiedade e depressão têm impacto direto no funcionamento do cérebro e nos sistemas envolvidos no equilíbrio.
Compreender essa relação é essencial para tratar não apenas os sintomas físicos, mas também os aspectos emocionais que os acompanham. Procurar ajuda médica é o primeiro passo para um diagnóstico correto e um tratamento eficaz.