O tema da coluna desta semana é enxaqueca do labirinto! E, sim, você leu certo… o labirinto tem enxaqueca também. Chamamos isso de migrânea vestibular e esta é uma das principais causas de tontura.
Tontura é um sintoma muito frequente e pode ser gerado por uma gama de fatores. As labirintites são as principais causas dela, e as mais comuns são a vertigem postural paroxística benigna (VPPB), a migrânea vestibular (MV), a doença de Menière e a neurite vestibular, em ordem decrescente de incidência.
A migranea vestibular é uma alteração do sistema nervoso que causa tontura (ou vertigem) em pessoas com história de enxaqueca. Em vez das enxaquecas tradicionais, a migranea vestibular pode surgir sem a presença de dor.
QUAIS SÃO OS SINTOMAS?
A enxaqueca vestibular nem sempre causa dor de cabeça. O sintoma principal é tontura recorrente. Quando falamos vestibular nos referimos a orelha interna, que controla a audição e o equilíbrio. Portanto, na enxaqueca vestibular você pode sentir:
- Tontura que dura mais que alguns minutos (5 minutos até 72 horas);
- Náuseas e vômitos;
- Problemas de equilíbrio;
- Sensibilidade a movimento (enjoo) quando mexe olhos, cabeça ou corpo;
- Sensação de desorientação e confusão;
- Sensação de instabilidade, como se estivesse em um barco;
- Sensibilidade aos sons (fonofobia).
No entanto, pode aparecer a tontura ou o desequilíbrio sem a dor de cabeça. Outras vezes, a tontura aparece antes, durante ou até depois da dor. Algumas vezes pode ocorrer dor de cabeça por anos, previamente as tonturas.
QUAL É A CAUSA?
São várias teorias, mas a real causa ainda é pouco compreendida. A principal hipótese é por alterações de estímulos nervosos no cérebro, principalmente via do nervo trigêmeo, o que causaria vasodilatação, inflamação e desequilíbrio de sinalização no sistema nervoso autônomo. Isto tudo causaria a dor de cabeça e todos os sintomas associados a enxaqueca.
QUEM PODE IR?
É difícil dizer quantas pessoas tem o problema atualmente. Os sintomas da migrânea vestibular mimetizam muitas outras doenças. Sabemos, porém, que cerca de 15% da população mundial apresenta enxaqueca. E cerca de 15% das consultas médicas gerais são por tontura. Por conta disso, muitos acreditam que a enxaqueca seja a principal causa neurológica para a tontura, atingindo de 1 a 3% da população.
Apesar das enxaquecas tradicionais serem mais frequentes nas mulheres entre 20 e 40 anos, muitos homens e crianças também podem apresentar os sintomas.
COMO FAZER O DIAGNÓSTICO?
Infelizmente, não existem exames de sangue ou de imagens que ajudam a fechar o diagnóstico. A maioria dos sintomas é clínico e uma boa conversa com seu médico vai levantar a suspeita. No entanto, alguns critérios ajudam o profissional na busca desta certeza. São eles:
- Se você tem ou já teve enxaqueca;
- Se você já teve ao menos 5 episódios de vertigem com a sensação de rotação ou movimento. Isto não é o mesmo que cinetose (enjoo de carros) ou sensação de desmaio;
- Duração da tontura entre 5 minutos e 72 horas;
- Sintomas moderados a severos. Isso significa interrupção de atividades cotidianas por conta do que a pessoa está sentindo;
- Ao menos metade dos episódios ocorre associada a pelo menos um dos seguintes sintomas: sensibilidade a sons, aura visual (quando se enxerga luzes piscando antes da dor de cabeça) e dor de cabeça tipo enxaqueca (unilateral, pulsátil, moderada a severa, que piora com atividades).
QUAIS SÃO OS DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS QUE MEU MÉDICO DEVE FAZER?
Provavelmente pode ser necessária a realização de uma ressonância magnética do crânio, com o intuito de avaliar o Sistema Nervoso Central, além de testes auditivos e de equilíbrio para avaliar a parte auditiva. No caso, as principais doenças para diferenciar são:
- Doença de meniere: neste caso antes da tontura o ouvido apensara plenitude auditiva, ou seja, fica tampado. Durante a crise de tontura ocorre zumbido também, o que normalmente não acontece durante a enxaqueca vestibular.
- AVC (acidente Vascular cerebral ou derrame): neste caso, além da tontura, ocorrem muitos sintomas em paralelo, como fraqueza, alterações de fala e dormência no corpo.
COMO É O TRATAMENTO DA ENXAQUECA VESTIBULAR?
Não existem medicações específicas para elas. O otorrinolaringologista normalmente usa medicações para prevenção da crise, semelhantes aos usados na prevenção da enxaqueca, como antivertiginosos, antidepressivos e até anti-hipertensivos. Fique atento aos sintomas. Uma tontura pode ser enxaqueca!
*DRA. MAURA NEVES é formada na Medicina pela Faculdade de Medicina da USP. Residência em Otorrinolaringologia pelo HC- FMUSP. Fellow em Cirurgia Endoscópica pelo HC- FMUSP. Doutorado pela Faculdade de Medicina da USP. Médica Assistente do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo -SP. Aqui na Revista AnaMaria, trará quinzenalmente um conteúdo novo sobre a saúde do ouvido, nariz e garganta. Instagram: @dra.mauraneves