O Outono chegou e, junto com ele, a verdadeira montanha-russa de esquenta, mas logo esfria, da estação. Isso, é claro, abre espaço para uma queixa muito frequente: meu nariz está seco. Como tenho recebido muitas perguntas sobre esse sintoma, decidi falar sobre ele na coluna de hoje.
Vale lembrar que o nariz é úmido por dentro, o que faz não ser normal ele ficar seco. Além da sensação de ressecamento que causa formação de crostas no nariz, pode ocorrer ainda ressecamento da garganta e, por conta disso, tosse. Algumas pessoas relatam como “uma coceira na garganta que causa um pigarro ou tosse seca”.
Outros indivíduos ainda podem sentir uma ardência no nariz, que também está associada a ressecamento da mucosa nasal. Todos esses sintomas tem diversas causas que podem acontecer juntas ou separadas, deixando o sintoma mais intenso. Para entender tudo isso melhor, optei por falar sobre cada causa individualmente. Vamos lá?
AR SECO
Uma das principais causas de ressecamento nasal é inalar ar seco. E, nesta época do ano, essa condição é frequente. Além da estiagem que atinge todo o país e causa redução da umidade relativa do ar, ainda existe as variações de temperatura.
Tanto o calor quanto o frio propiciam o ressecamento nasal, seja através de aquecedores ou por aparelhos de ar-condicionado. Assim, estamos em uma estação climática com ótima combinação de fatores para o nariz ficar seco e arder.
REMÉDIOS QUE ATRAPALHAM
Existem vários medicamentos que causam ressecamento nasal, tanto usados por via oral quanto tópicos nasais. Entre os medicamentos orais, são diversos tipos:
- Anti hipertensivos: usados para controle de pressão alta
- Antiarrtimicos: controle de arritmia cardíaca
- Antidepressivos: tratamento de depressão ou de dor crônica
- Ansiolíticos: para ansiedade e insônia
- Antialérgicos: basicamente todos os antialérgicos orais secam o nariz
- Retinoides: entre eles a isotretinoina, usada para tratamento de acne.
Já os remédios de pingar no nariz, temos dois tipos que podem causar problemas:
- Vasoconstritores nasais: são aqueles remédios “mágicos” para desentupir o nariz. Além de causarem ressecamento nasal, podem gerar um tipo de rinite chamada de medicamentosa. Em outras palavras, eles inflamam o nariz e geram efeito rebote, causando cada vez mais entupimento nasal.
- Corticoides tópicos nasais: são usados para tratamento de rinite alérgica e, em algumas pessoas, pode causar ardência.
ENVELHECIMENTO
Mudanças que ocorrem com ganho de idade podem gerar ressecamento nasal. A senilidade traz uma modificação de tipo de mucosa nasal, o revestimento interno do nariz, com redução da quantidade de glândulas mucosas, além de alterações hormonais e neurais no controle da produção de secreção. Essas mudanças também explicam o surgimento da rinite do idoso, um tipo não alérgico associada a senescência.
E O RONCO?
Uma das principais modalidade de tratamento do ronco e apneia do sono é através do uso de um aparelho chamado CPAP (sigla para COntinuous Positive Airway Pressure). Ele joga ar com pressão positiva no nariz para corrigir a obstrução causada na apneia do sono. Por este motivo pode ocorrer ressecamento nasal e ardência, uma das principais dificuldades dos pacientes durante a adaptação ao tratamento.
E QUAL É O PROBLEMA DO NARIZ FICAR SECO?
Além do desconforto, pela ardência ou formação de crostas, o nariz seco indica que o muco nasal está espesso. E o muco é muito importante para umidificar o ar que respiramos, além de atuar na defesa do nosso corpo. A secreção nasal mais grossa facilita infecções respiratórias, crises de rinite e sinusite, além de sangramento nasal.
MAS E O QUE FAZER?
Na maioria das vezes existe mais de uma causa para o ressecamento nasal. Variações climáticas, uso de medicamentos e roncos podem acometer simultaneamente a mesma pessoa. O importante é identificar o motivo e tratá-lo.
Na maioria das vezes, usamos soluções salinas para irrigação e umidificação nasal, contudo outras medidas podem ser necessárias, como uso caseiro de umidificadores .
Para finalizar, reforço que nunca devemos interromper tratamentos medicamentosos iniciados sem antes contatar o médico. E, na dúvida, procure seu otorrino!
*DRA. MAURA NEVES é formada na Medicina pela Faculdade de Medicina da USP. Residência em Otorrinolaringologia pelo HC- FMUSP. Fellow em Cirurgia Endoscópica pelo HC- FMUSP. Doutorado pela Faculdade de Medicina da USP. Médica Assistente do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo -SP. Aqui na Revista AnaMaria, trará quinzenalmente um conteúdo novo sobre a saúde do ouvido, nariz e garganta. Instagram: @dra.mauraneves