O texto de hoje foca nas otites que, na última semana, tem trazido muitos pacientes ao consultório, atrás de ajuda médica. Já falei por aqui sobre as otites de verão (ou externas) e agora falo um pouco sobre as que ocorrem no clima mais frio, as otites no inverno.
No frio, as otites médias ocorrem com bastante frequência. São uma infecção de origem viral ou bacteriana, geralmente decorrente de resfriados ou alergias e, com o aumento destas condições nesta época do ano, as otites também aumentam.
A otite média ocorre no ouvido médio (atualmente chamado de orelha média), região que começa logo após o tímpano e é composta pelos ossículos auditivos e pela tuba de Eustáquio (ou tuba auditiva). Trata-se da estrutura responsável pela equalização de pressão dentro do ouvido através de sua comunicação com o nariz.
A tuba de Eustáquio encontra-se habitualmente fechada, mas podemos estimular sua abertura, seja mastigando ou abrindo a boca, simulando um bocejo. Quando a tuba se abre, as pressões do ambiente e do ouvido médio se equalizam (quem já voou de avião consegue entender bem este mecanismo).
QUANDO ELA OCORRE?
Embora a otite média aguda possa ocorrer em qualquer idade, é mais comum acontecer entre os três meses e três anos de vida. A otite média aguda frequentemente ocorre durante essa faixa etária, uma vez que as estruturas no ouvido médio, como a tuba auditiva, são imaturas e não funcionam adequadamente.
Com isso, cerca de 60% das crianças têm ao menos um episódio de otite média durante o seu primeiro ano de vida. Esta taxa sobe para quase 90% até os três anos. Uma das principais causas de alteração de funcionamento da tuba auditiva são inflamações no nariz, como gripes, resfriados e crises de rinite.
Essas infecções podem causar um inchaço nas mucosas do nariz e da garganta, diminuindo as defesas naturais do organismo e a eliminação de bactérias a partir do nariz. As infecções virais do trato respiratório prejudicam o funcionamento da tuba auditiva e favorecem o acúmulo de líquidos dentro do ouvido médio.
E a falta de drenagem de líquido facilita a colonização do mesmo por bactérias, levando à infecção e aumento da pressão do ouvido médio.
QUAIS SÃO OS SINTOMAS?
A otite média causa bastante dor no ouvido e redução de audição. Sintomas como tontura e zumbido também podem ocorrer. A febre pode ou não estar presente. Nas crianças pequenas, o diagnóstico pode ser mais difícil, pois os sinais são menos típicos, podendo incluir irritabilidade, puxar a orelha frequentemente, apatia, falta de apetite, vômitos, diarreia ou conjuntivite.
Assim, para ter o diagnóstico correto, é necessária uma avaliação médica. Além dos sintomas descritos, o médico realiza o exame físico. Através da otoscopia, avaliamos o tímpano e conseguimos determinar se há mesmo uma otite média.
O exame também permite avaliar se há perfurações na membrana timpânica. Importante dizer que a otoscopia não dói e, às vezes, pode ser um exame difícil de ser feito em crianças, pois as mesmas não costumam aceitar a introdução do aparelho dentro do ouvido, especialmente se estiverem doentes.
E SE HOUVER PERFURAÇÃO NO TÍMPANO?
O principal sinal de que há uma perfuração timpânica é a saída de secreção do ouvido. Essa secreção, gerada pela infecção da otite, rompe o tímpano e sai pelo canal do ouvido. Quando o tímpano rompe, normalmente a dor de ouvido melhora. E não se preocupe! Na maioria das vezes, com um tratamento adequado, o tímpano se restaura e fecha novamente.
E COMO É O TRATAMENTO?
Na maioria das otites não é necessário uso de antibióticos, pois costumam ser episódios de causa viral. Assim, a infecção tem resolução espontânea entre 1 a 2 semanas. Podem ser usados anti-inflamatórios e analgésicos. O uso de gotas otológicas também pode ser feito, mas só serão efetivas se o tímpano estiver rompido.
Em algumas situações devemos usar antibióticos nas otites. Isto ocorre com:
- Paciente com idade inferior a 2 anos.
- Otite bilateral.
- Presença de secreção nos ouvidos
- Sintomas intensos, como febre alta, dor e prostração.
- Ausência de melhora em 72 horas.
E TEM COMO PREVENIR?
As vacinas dos pneumococos e de Haemophilus influenzae ajudam na redução dos episódios bacterianos, e a vacina da gripe ajuda a evitar as virais. No mais, sugiro controle de sintomas nasais como tratamento para rinite.
*DRA. MAURA NEVES é formada na Medicina pela Faculdade de Medicina da USP. Residência em Otorrinolaringologia pelo HC- FMUSP. Fellow em Cirurgia Endoscópica pelo HC- FMUSP. Doutorado pela Faculdade de Medicina da USP. Médica Assistente do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo -SP. Aqui na Revista AnaMaria, trará quinzenalmente um conteúdo novo sobre a saúde do ouvido, nariz e garganta. Instagram: @dra.mauraneves.