Olá a todos! Esta semana falo um pouco sobre língua presa também conhecido como freio lingual curto. Nos últimos anos tem ocorrido um aumento do diagnóstico de língua presa nos bebês e o pior, um aumento no número de cirurgias, muitas vezes desnecessárias.
Então vamos por partes!
1.O que é lingua presa?
A língua presa é nada mais do que uma condição em que a mobilidade da língua é limitada pelo freio lingual, uma membrana que fica na parte de baixo da língua. Quando isto ocorre esta membrana pode se estender até a ponta da língua. Mas, independentemente da extensão do freio, o importante é determinar se a língua fica “presa” mesmo, e não se move da maneira correta.
2.O que pode acontecer se a língua está presa?
O primeiro problema da língua presa é dificultar a amamentação do recém-nascido e atrapalhar a pega do peito da mãe de forma adequada. A amamentação depende da movimentação da língua para a sucção adequada. Assim, uma língua presa atrapalha a eficiência das mamadas além de causar dor a mãe. Aqui é importante ressaltar que as dificuldades de amamentação não são causadas apenas pelo freio curto e outras causas devem ser avaliadas como dificuldades na respiração nasal, refluxo faringolaringeo além de má formações craniofaciais no bebê. Desta forma, antes de determinar que a causa da dificuldade de amamentar é por conta de um freio curto uma avaliação médica( história de amamentação, exame físico e palpação do freio) e de profissionais de amamentação deve ser feita.
3.E pra falar?
O freio lingual curto tipicamente não atrapalha a dicção das palavras. Há condições como o ceceio, uma distorção da fala na articulação dos sons de “s”, “z”, “x” e “j” causada pelo posicionamento da língua entre os dentes para a produção destes sons e que não está necessariamente relacionada ao freio curto. A maioria dos estudos sugere que até os sons que necessitam de protusão e elevação da língua são produzidos na presença do freio curto.
4.Língua presa pode causar apneia do sono?
Alguns profissionais sugerem que isso ocorra, através da hipótese de que o freio curto tracione a língua para trás e reduza o espaço para a passagem do ar próximo ao palato (céu da boca). Porém os consensos e estudos não comprovam essa hipótese. Assim, atualmente a língua presa não causa ronco e apneia do sono.
5.Pode ocorrer problemas sociais?
Neste caso devo dizer que sim. Nas crianças maiores dificuldades em lamber os lábios, dificuldade em limpar os dentes e até embaraço social. Nestes casos, haverá melhora da qualidade de vida quando a cirurgia é realizada.
6.A cirurgia pode ser feita quando?
Trata-se de uma pequena cirurgia que pode ser feita até sem anestesia, segundo os últimos estudos, sendo segura e fácil de ser realizada. Não há idade limite para a indicação. Há uma sugestão de que se houver dificuldade de amamentação, com dor a pega da mamada sem melhora com medidas conservadoras (como alterações de posição, protetores e etc) a cirurgia seja feita o quanto antes (antes até de 1 mês de vida se necessário) para que o aleitamento materno seja mantido.
Crianças maiores na maioria das vezes requerem anestesia geral, já que pode ser difícil entenderem que precisam ficar paradas para “cortar” a língua!
7.E quando a cirurgia não deve ser feita?
Há situações de contraindicação relativa à cirurgia. Isto quer dizer que a indicação deve ser avaliada com mais cuidado ainda. Pessoas com retrognatia, micrognatia, hipotonia ou desordens neuromusculares podem ter piora no posicionamento da língua caso a cirurgia seja feita, com piora tanto da respiração quanto na alimentação.
Em conclusão:
Atualmente a indicação e necessidade de realizar a soltura do freio lingual curto tem poucas indicações. Mesmo na presença de uma criança com freio curto pode-se ter uma boa amamentação e fala. A cirurgia deve ser cuidadosamente avaliada. Fiquem atentos, e , na dúvida, procurem seu otorrino!
Dra. Maura Neves, Otorrinolaringologista e Colunista de AnaMaria Digital.