A missão de educar os filhos, de moldar mentes e corações, preparando os pequenos para um mundo diverso e desafiador, vai muito além dos livros didáticos e das tarefas escolares, dos números e das letras. Na prática, inclusive, a tarefa de encaminhar nossas crianças por um caminho “do bem” é bem maior do que nossas paredes.
Precisamos pensar em suas relações no dia a dia e em como contornar as influências que chegam não apenas de nós, pais, mas da sociedade de forma geral. Entretanto, não há como negar que a construção de cidadãos responsáveis e gentis começa em casa, com os valores que nós, os responsáveis, escolhemos passar para nossos filhos. Mais quais seriam esses valores? O que é certo e errado, mesmo não levando em consideração nossa opinião pessoal?
Para ajudar nessa missão, na matéria da semana, vamos falar sobre a importância de conversar com nossos filhos sobre temas que vão além de nossas posição, como respeito, sensibilidade ao bullying, valorização da diversidade, entre outros temas muitas vezes esquecidos por algumas famílias, e que, consequentemente , têm trazido dor e medo para muitas crianças.
O QUE ENSINAR?
Em um mundo polarizado como o que estamos vivendo, com todos muito convictos de suas opiniões políticas, religiosas e sobre comportamentos (e, consequentemente, que não aceitam opiniões e posições do outro), muitas vezes é difícil determinar quem está certo ou errado – inclusive, o próprio significado de certo e errado é bastante subjetivo. Entretando, alguns conceitos são inegociáveis.
“Podemos começar destacando um valor que de nenhuma maneira pode ser negligenciado: a honestidade. Orientar a falar a verdade, entender o certo e o errado, são de extrema importância na infância e também porque existem consequências para toda atitude tomada. Também podemos listar a empatia, o altruísmo, a assertividade e a colaboração. Esses são valores que deverão estar presentes por toda a caminhada do indivíduo, independentemente da idade”, enfatiza o psicólogo George Oliveira.
A terapeuta Anna Leite, mãe de Anna Roberta, Anna Thaina, Kethellen e Kevellen, que têm idades que variam entre 12 e 24 anos, sempre ensina sobre respeito para os filhos e sobre a importância de nos colocarmos no lugar das outras pessoas. “Mostro que é preciso respeitar o limite de cada um, que ninguém é igual a ninguém, que existem diferenças, mas que é primordial respeitarmos uns aos outros”, diz. Entretanto, quando um deles faz algum comentário maldoso, ela procura corrigir na mesma hora e colocar o ponto de vista da situação daquela pessoa que está sendo exposta ao julgamento.
“Anna Roberta é autista e, desde cedo, mostra muita empatia por quem a cerca, ainda que não seja sempre assim das outras pessoas com ela. Certa vez, uma coleguinha da escola tinha ido sem almoçar e estava com fome perto dela. Ela, então, perguntou se não tinha almoçado em casa e a menina respondeu que não, pois em casa era cinco irmãos e não tinha comida para todos, só os menores comeram naquele dia. Minha filha chegou em casa indo na despensa e pegou arroz, feijão e perguntou se poderia levar para a amiga de sala de aula. Aquela atitude dela ficou em minha memória”, conta, emocionada.
“Por ser autista, ela sofre alguns preconceitos, mas eu ensino que aqueles amiguinhos não evoluíram ainda e que ela não deve ligar, porque infelizmente as pessoas só dão aquilo que estão dentro delas por um motivo de evolução. Se ainda não evoluíram, elas vão dar sentimentos ruins. Procuro ensiná-la todos os dias a se defender da maldade alheia, mostrando que são pessoas que não buscaram o caminho da luz e da evolução, que muitas das vezes essas crianças ainda não tiveram a oportunidade de conhecer o amor de pai e mãe, que vivem em uma sociedade em que o preconceito é enorme e que as oportunidades são limitadas aos mais favoráveis. Mostro que devemos olhar para essas crianças com um olhar mais cauteloso e com bondade no coração. Assim, ensino para ela e para meus outros filhos que é preciso dar amor ao próximo, mesmo que muitas vezes tenham atitudes que não concordemos. É muito importante passar esses valores para os nossos filhos e mostrar que é possível ter um olhar mais humanizado com o nosso próximo”, complementa.
Monica Machado, psicóloga e fundadora da Clínica Ame.C, diz, ainda, no que diz respeito aos pais e filhos, bons valores são sinônimos de uma educação tradicional, ou seja, conservadora. “Dizer “não” para uma criança é o primeiro passo para introduzir limites. Para uma criança em desenvolvimento, o importante é que ela consiga, dentro do possível, perceber que não é o “centro” de tudo. Permitir que a criança sinta falta ou necessidade de algo por um período indica que ela está inserida em um ambiente onde há pessoas semelhantes, com interações saudáveis. Dar tudo o que a criança pede não é demonstrar amor, mas sim inabilidade ou impaciência em estabelecer limites e explicar o motivo pelo qual ela não pode ter tudo o que quer a qualquer momento. Não conseguir negar nada ao filho também pode significar que os pais se culpam por não terem tempo de qualidade para o filho. Este é um erro que terá consequências graves na vida adulta dele, como a incapacidade de lidar com a frustração, as responsabilidades e a falta de senso de comunidade”, pondera.
Para a psicanalista e educadora parental Nathalia de Paula, os valores de cada família podem se diferenciar de acordo com a cultura, por exemplo, ou a localização geográfica. Entretanto, é possível, sim, elencar quais seriam os valores universais que ajudam a todos, como sociedade, a terem uma convivência pacífica e respeitosa. É fundamental, por exemplo, que exista respeito, empatia, honestidade, gratidão, paciência, resiliência, responsabilidade, generosidade, coragem, reciprocidade, principalmente. “Esses valores irão conduzir a nossa integração e interação em sociedade”, pontua.
Ela alerta, ainda, que se cada um não praticar tais valores, que são considerados benéficos para todos, seria como se aquele individuo estivesse infringindo uma regra, desrespeitando o modelo social. “Se eu não respeito, não serei respeitado, não conseguirei socializar com outras pessoas e terei sérios problemas. Além disso, acho que é sempre bom lembrar não apenas para as crianças, mas para todos, que não devemos fazer com o outro o que não gostariamos que fizessem com a gente. Então, exemplificando, se eu não quero que gritem comigo, por exemplo, eu não vou gritar com os meus filhos, e assim eles aprenderão, por meio do meu exemplo, que gritar com as outras pessoas é desrespeitoso”, complementa.
CONFLITOS NAS ESCOLAS
Embora o bullying possa acontecer em qualquer ambiente, é nas escolas e no ambiente virtual que ele é mais presente. Afinal, na maioria das vezes, se nossos filhos sofrerem qualquer tipo de agressão, seja verbal ou física, podemos tira-los daquele lugar, o que não é tão fácil de acontecer quando estão em aulas ou navegando na internet. Daniele Marins, mãe de Davi, de 7 anos, conta que sempre procura passar para o filho os valores que acredita, principalmente respeito, empatia e segurança. “Eu acho que ele tem que respeitar todo mundo, independentemente da classe ou do que quer que seja. Ele tem que ter empatia com outras crianças e, graças a Deus, é uma criança extremamente empática, que tem um senso de justiça apuradíssimo”, comenta.
“Houve um episódio com ele que acho que ilustra bem como tem sido criar o meu filho. Teve uma vez que ele estava no aniversário de uma amiguinha da escola, e ela tem um irmão, hoje com três anos, mas que tinha dois na época. Em certo momento, os meninos que estavam no aniversário prenderam esse garotinho no banheiro, que, é claro, começou a chorar. O Davi viu, saiu de onde ele estava, empurrou os meninos e falou que eles não poderiam fazer isso, que ele era menor de todos. Então, foi lá, deu um soco na porta, que abriu, tirou o menino e falou para o João que estava tudo bem”, lembra.
“O que quero dizer é que Davi tem um senso de justiça muito grande e boa parte disso vem das conversar que temos no dia a dia, do exemplo que eu e o pai damos para ele. Outro caso bastante emblemático sobre quem ele é aconteceu na escola, com um menino autista com alto grau de dependência, que alguns meninos ficavam fazendo bullying. Davi também enfrentou o grupo que estava agredindo o menino, e ainda disse que ele era igual a todo mundo. Saber que meu filho tem esse tipo de atitude me deixa muito orgulhosa e certa que estou educando uma pessoa única”, orgulha-se.
Mas os dias não têm sido fáceis para o menino. Na mesma escola, ele tem sofrido bullying. “Infelizmente, existem crianças ruins no mundo. A gente acha que não, mas existem. Davi passou há pouco tempo, tem passado ainda, por momentos muito ruins, por causa de uma criança que é extremamente desafiadora e indisciplinada, pra dizer o mínimo, que obriga os outros alunos a fazerem coisas erradas, sendo que, se não fizerem, ameaça de que eles não vão ter amigos. Tem sido tudo muito difícil, extremamente doloroso para ele e para nós, que o amamos.”
Para piorar a situação, não tivemos a parceria da escola, que não tomou as medidas necessárias em um caso como esse. Então, eu fui ao conselho tutelar, mas nada adiantou também”, conta.
Com tudo isso, o garotinho teve uma crise de ansiedade, parou na emergência, e agora não está frequentando o ambiente escolar por recomendações médicas, indo apenas para fazer prova. “E isso tudo porque há pais e responsáveis que nada fazem com os filhos que praticam bullying e as escolas preferem não tomar as atitudes que deveriam ser tomadas”, enfatiza. No caso de Davi, assim como acontece com muitas outras crianças, apesar de todo o apoio da família, o menino acabou desenvolvendo um quadro de depressão. “Ele está fazendo tratamento com profissionais dedicados e sabemos que ele tem força e coragem pra enfrentar o que for. Outra ajuda que tem sido fundamental nesse momento é o jiu-jitsu, que ele faz desde os quatro anos de idade, e tem ajudado muito a elevar a autoestima dele”, diz Daniele, que complementa: “Por mim, eu botava o Davi numa bolha pra poder blindar, mas, infelizmente, eu não consigo”.
Para começar, é preciso entender que, ao contrário do que muitos pensam, o bullying não acontece apenas quando há agressão física, ele é uma forma de violência que ocorre quando alguém é maltratado, intimidado ou ameaçado por outra pessoa, ou grupo de pessoas, podendo essa violência ser física, verbal, psicológica ou sexual. “O bullying é um problema sério que pode ter consequências devastadoras para a vítima. A criança ou adolescente que é vítima de bullying pode sofrer de baixa autoestima, ansiedade, depressão e até mesmo pensamentos suicidas”, diz.
Uma das maneiras de prevenir o bullying é ensinar as crianças e adolescentes a respeitarem a diversidade e a igualdade. “Os pais devem conversar com seus filhos sobre a importância de respeitar as diferenças, independentemente de raça, religião, gênero, orientação sexual ou qualquer outra característica. Os pais também podem demonstrar esse respeito em suas próprias ações. Por exemplo, eles podem evitar fazer comentários preconceituosos ou discriminatórios. Eles também podem incentivar seus filhos a se envolverem em atividades que promovam a diversidade e a inclusão. Além disso, os pais devem ensinar seus filhos a se defenderem de situações de bullying. Eles podem ensinar seus filhos a identificar situações de bullying e a como reagir a elas”, explica Monica.
SOS
Mas como identificar se nossos filhos estão sofrendo bullying, quando nem sempre eles verbalizam isso? Para Ronan Mairesse, terapeuta e especialista em desenvolvimento humano, os pais devem ser como radares emocionais para perceberem as mínimas mudanças de comportamentos nas crianças. “Fique atento à comunicação. Crianças que estão sofrendo bullying ficam mais retraídas ou irritadas. No caso do cyberbullying, elas tendem a se esconderem dos pais quando estão usando o celular e o computador. Outro comportamento bem típico é a queda do desempenho escolar. Em todos os casos, o diálogo é o melhor remédio. Procure não culpar a criança do porque ela não contou antes. Lembre-se, ela é a vítima e não o culpado, apenas acolha”, sugere.
E continua: “Quando um filho sofre bullying, é importante o acompanhamento de um profissional. A mãe e o pai precisam entender seus sentimentos e ressignificá-los ao mesmo tempo que conversam abertamente com a criança sobre o que está acontecendo. Oferecer apoio e mostrar que a criança não está sozinha, irá dar mais força para ela superar o problema. Faça perguntas e ouça atentamente a criança. Se for preciso, peça ajuda de um familiar emocionalmente melhor para ajudar nesse diálogo, mas não deixe de procurar um apoio psicológico para estar bem e assim ajudar o seu filho a superar os problemas da vida”.
É importante lembrar, entretanto, que não são “apenas” os pais de filhos que sofrem bullying que se sentem impotentes. Ainda que não na mesma proporção, as famílias dos agressores, muitas vezes, não têm controle sobre a criança e não sabem como agir. “É preciso agir da mesma forma, se comunicando claramente e com empatia. Mostre para o seu filho as consequências de quem sofre com essa agressão psicológica. É de suma importância mostrar também as consequências de quem pratica também o ato, como a sociedade classifica pessoas assim. Conversando com essa criança, procure descobrir os motivos que levam ele a agir assim. Talvez não esteja claro a transmissão de valores de pais para o filho. Nesses casos, sempre é bom o acompanhamento de um psicólogo para acompanhar o processo e orientar os pais com as melhores práticas”, explica Mairesse.
“As crianças aprendem muito pelo exemplo e, portanto, é importante que os pais mostrem empatia em suas interações com outras pessoas, demonstrando compreensão e cuidado pelos sentimentos dos outros. Uma outra dica é incentivar os nossos filhos a falarem sobre seus sentimentos e preocupações, mostrando assim compreensão em relação às suas emoções. Isso os ensinará a reconhecer e validar os sentimentos dos outros. Crie situações em que seus filhos possam praticar a empatia, como assistir a filmes que abordam esses temas ou até mesmo fazer trabalho voluntário como família. Desta forma, ele perceberá, na prática, o que é a verdadeira empatia e compaixão. Incentive seus filhos a agirem com compaixão, seja ajudando um amigo que está sendo intimidado ou apoiando alguém que está passando por dificuldades”, complementa.
Nathalia de Paula sugere, ainda, que os pais, primeiramente, ensinem seus filhos a se colocarem no lugar dos outros, ajudando-os a entender os sentimentos e perspectivas dos amigos. Isso pode ser feito por meio de conversas abertas e incentivando as crianças a pensar sobre como se sentiriam se estivessem na posição dos outros. “Demonstrar empatia em casa e nas relações com os outros serve como um exemplo poderoso. Eles também podem encorajar seus filhos a se envolverem em atividades que promovam a empatia, como trabalho voluntário ou ajudar os outros em situações cotidianas. Criar um ambiente de comunicação aberta, onde as crianças se sintam confortáveis para compartilhar suas preocupações e experiências, é fundamental. Os pais podem usar essas oportunidades para discutir o impacto do bullying e reforçar a importância de tratar os outros com respeito e gentileza”, pondera.
Além disso, diz, com professores e outros adultos que tenham contato com a criança, a mesma abordagem baseada no exemplo e no diálogo é essencial para ensinar respeito e valores. “É importante que as figuras de autoridade, sejam em casa ou na escola, sejam consistentes em suas mensagens e ações para evitar confusão na criança. Assim, a criança aprenderá que respeito e valores são uma via de mão dupla, aplicando-os tanto em casa quanto na escola, e compreendendo que esses princípios são fundamentais em todos os aspectos da vida”, complementa.
Ainda sobre a importância das escolas serem parte desse processo, Monica lembra que os professores têm um papel fundamental na inserção de crianças e adolescentes na sociedade. “Eles são os primeiros a lidar com esses indivíduos em um ambiente formal, e podem contribuir para que eles se sintam acolhidos e respeitados, independentemente de suas diferenças. O diálogo aberto é uma ferramenta essencial para a construção de relações de confiança e respeito. Por meio do diálogo, os professores podem conhecer melhor os alunos e suas experiências, e ajudá-los a compreender a importância da diversidade. É importante que os professores mostrem aos alunos que todos somos iguais, independentemente de nossa origem, raça, religião, gênero ou orientação sexual. A igualdade não significa que devemos ignorar nossas diferenças, mas sim que devemos respeitar e valorizar as diferenças de cada um. A inserção é um processo que deve ser gradual. Não podemos esperar que as crianças e os adolescentes mudem suas atitudes da noite para o dia. O papel dos professores é promover um ambiente de aceitação e respeito, onde os alunos possam aprender a conviver com as diferenças”.
A seguir, os especialistas que conversamos para essa matéria falar mais sobre a importância da transmissão de valores e como isso pode mudar não apenas a vida dessa criança, mas de todos que a cercam.
AVENTURAS MATERNAS – Que papel desempenham a comunicação e o diálogo na transmissão de valores como o respeito?
Ronan Mairesse – Sem dúvidas, a comunicação é o principal meio em que transmitimos os nossos valores de geração em geração. Na Grécia antiga, era tida como uma pessoa rica, aquela que descendia de uma família de valores nobres. Conversar com as crianças sobre o que é respeito e o que significa irá moldar seu sistema de crenças que o acompanharão pela vida toda e, assim, também será transmitida para a próxima geração. Agora, não existe decepção maior do que perceber que aquilo que você fala é somente da boca para fora. Falar é bonito e agir conforme o que fala é maravilhoso. Siga sempre uma conduta virtuosa e se errar em algum momento, converse e explique para criança e, principalmente, assuma o erro quando estiver errado.
Monica Machado – A comunicação sobre temas complexos, como valores e ideologias, deveria ser feita de forma imparcial e respeitosa. Isso significa evitar o uso de linguagem que crie um senso de “nós contra eles” ou que atribua características negativas a pessoas ou grupos com opiniões diferentes. O uso de uma única linguagem é importante para evitar que as pessoas se sintam alienadas ou atacadas. Quando a comunicação é feita de forma polarizada, é mais difícil para as pessoas entenderem o ponto de vista do outro e encontrarem pontos de convergência. A disputa de lados, que ocorre frequentemente na comunicação e nas opiniões dos formadores de opinião, é um problema porque leva à polarização da sociedade. Quando as pessoas se dividem em dois grupos opostos, fica mais difícil para elas encontrarem soluções para problemas comuns. A comunicação sobre valores e ideologias deve ser feita para promover o respeito e a compreensão mútua. Isso é importante para a construção de uma sociedade mais justa e inclusiva.
Nathalia de Paula – A comunicação e o diálogo desempenham papéis fundamentais na transmissão de valores, especialmente o respeito. São os principais pilares que sustentam a formação de valores nas crianças. Através do diálogo aberto e constante, os pais podem explicar a importância do respeito, fornecer exemplos concretos e responder às perguntas das crianças. A comunicação também permite que os pais compreendam as perspectivas e preocupações das crianças, o que ajuda a adaptar a abordagem e os ensinamentos de acordo com as necessidades individuais. Além disso, o diálogo proporciona um espaço onde as crianças podem expressar suas próprias opiniões e aprender a argumentar de maneira respeitosa, contribuindo para o desenvolvimento de habilidades interpessoais saudáveis.
AVENTURAS MATERNAS – Quais atividades práticas os pais podem fazer com seus filhos para ajudá-los a compreender a importância do respeito e da não discriminação?
Ronan Mairesse – Como falei anteriormente, a criança aprende muito com o diálogo e com o exemplo. Você pode usar diversas estratégias, como, por exemplo, assistir filmes e discutir a respeito do que é certo e errado e quais suas consequências. Também vale visitar museus e mostrar fatos históricos que desempenharam um atraso moral na sociedade; visitar asilos, orfanatos e conversar a respeito do que a criança viu e o que mais a sensibilizou.
Nathalia de Paula – Demonstrar respeito em suas próprias interações diárias, servindo como exemplo; ler livros e histórias que tratem desses temas; experimentar eventos culturais e tradições diversas; usar jogos e atividades interativas que enfatizem a empatia; promover discussões abertas sobre respeito e não discriminação; discutir notícias e eventos atuais relacionados a essas questões; incentivar amizades com crianças de diferentes origens.
Monica Machado – As crianças aprendem por imitação, e os pais são seus principais modelos. Se os pais são respeitosos mutuamente, os filhos também aprenderão a ser respeitosos. Por exemplo, se os pais discutem ou brigam, os filhos podem aprender que é normal gritar, xingar ou falar mal dos outros. Por outro lado, se os pais se tratam com respeito, os filhos aprenderão a resolver seus conflitos de forma pacífica. Além disso, os pais também devem respeitar a privacidade e a autonomia dos filhos. Isso significa dar-lhes espaço para tomar suas próprias decisões e cometer seus próprios erros. Quando os filhos se sentem respeitados, eles são mais propensos a respeitar os outros.
AVENTURAS MATERNAS – Como equilibrar a disciplina e a orientação parental com a promoção do respeito e da empatia?
Ronan Mairesse – É preciso sempre haver disciplina em um processo de transmissão de valores, mas lembre-se: regras são seguidas quando existem parâmetros claros, por isso o diálogo é tão importante para trazer a consciência da criança o que é certo e errado. Quando necessário, lembre-se sempre de impor medidas que sejam justas e educativas para que a criança sinta emocionalmente aquilo que fez, e com a sua ajuda ela pense a respeito das suas atitudes indisciplinadas. Aproveite o momento para mostrar que todos cometem erros e, nesses casos, esses momentos são usados para tirarmos aprendizados.
Nathalia de Paula – Os pais podem começar comunicando de forma clara suas expectativas para os filhos, estabelecendo regras e limites, ao mesmo tempo que explicam as razões por trás delas. Isso auxilia as crianças a compreender o que é esperado delas. Ser flexível é importante, reconhecendo as necessidades individuais das crianças e fazendo adaptações quando necessário para atender às necessidades de todos os membros da família, tanto físicas quanto emocionais. A escuta ativa desempenha um papel crucial nesse equilíbrio. Os pais devem ouvir as preocupações e perspectivas de seus filhos com empatia, demonstrando que valorizam seus sentimentos e pensamentos. No entanto, é essencial explicar que, para manter os valores, regras e limites da família, nem sempre será possível atender a todos os desejos e vontades.
Existem prioridades e momentos adequados para realizar certas atividades, por exemplo. Além disso, os pais devem ser modelos de comportamento, demonstrando respeito e empatia em suas próprias ações e interações. Educar as crianças sobre valores, ética e moral, explicando por que o respeito e a empatia são importantes, ajuda a construir uma compreensão mais profunda desses princípios. Ensinar as crianças a resolver conflitos de maneira construtiva e com respeito pelos sentimentos dos outros também é essencial. O equilíbrio entre disciplina e promoção do respeito e da empatia requer uma abordagem abrangente que combina a aplicação de regras com a compreensão, o ensino ativo de valores e a prática constante de comportamentos respeitosos e empáticos.
Monica Machado – O diálogo é essencial para o bom funcionamento de qualquer família. Quando os membros da família se sentem à vontade para conversar sobre tudo, é possível construir relações mais fortes e saudáveis. Uma família onde não se conversa sobre todos os assuntos e não tem tabus tem grande chance de ter filhos equilibrados. Isso porque os filhos aprendem desde cedo a importância da comunicação e da expressão dos sentimentos. Eles também aprendem a lidar com as diferenças e a respeitar o ponto de vista de cada um.
É importante que os pais estejam dispostos a conversar com os filhos sobre tudo, inclusive sobre temas difíceis. Isso ajuda os filhos a desenvolver a confiança e a segurança para compartilhar seus pensamentos e sentimentos. Além disso, o diálogo é fundamental para a resolução de conflitos. Quando os membros da família conseguem conversar abertamente sobre seus problemas, é mais fácil encontrar soluções que sejam boas para todos. Por fim, o diálogo é essencial para a união da família. Quando os membros da família se sentem próximos e conectados, é mais fácil superar os desafios e construir memórias que duram a vida toda.
AVENTURAS MATERNAS – Quais são as implicações de ensinar valores como o respeito em contextos culturais diversos?
Ronan Mairesse – Somos um país de diversas culturas e para cada uma delas os valores têm significados diferentes, mas não incongruentes. Tenho um casal de amigos que ele é Italiano e ela é japonesa. Nas duas culturas o respeito é o valor principal. No Japão, respeito, entre outras coisas, significa não falar tudo que você pensa do outro. Já na Itália, é uma demonstração enorme de respeito “jogar na cara” do outro algumas verdades. Quase se separaram, até que compreenderam que o valor era o mesmo, mas com significados diferentes. Portanto, é importante ensinarmos para as crianças a conhecer o ambiente e é justamente a empatia que tem um papel fundamental nesse processo.
Monica Machado – Cada família possui seus princípios, os quais podem variar consideravelmente de uma família para outra. Isso pode ser causado por uma série de fatores, como cultura, religião, classe social e experiências individuais. É importante lembrar que os valores são subjetivos. O que é importante para uma família pode não ser importante para outra. Por isso, é importante respeitar as diferenças. Quando duas famílias têm valores diferentes, pode haver conflitos. Isso é natural, já que cada família está habituada a viver de acordo com seus próprios princípios. Para lidar com essas diferenças, é crucial ter autoconsciência. Isso significa estar ciente de seus próprios valores e da forma como eles podem influenciar suas ações. Ao entender os valores da outra família, é possível encontrar maneiras de respeitar essas diferenças. Por exemplo, se uma família valoriza a privacidade, é fundamental respeitar este aspecto ao longo do convívio. Ao ensinar os filhos a serem conscientes de seus próprios valores e a respeitarem os dos outros, estamos preparando-os para lidar com as diferenças que surgirão no mundo.
Nathalia de Paula – Ensinar valores como o respeito em contextos culturais diversos é uma tarefa desafiadora, pois as diferenças culturais e as perspectivas variadas podem complicar a interpretação e a aplicação desses valores. A primeira implicação notável é a variação cultural: o que é considerado respeitoso em uma cultura pode não ser percebido da mesma forma em outra. Portanto, é fundamental reconhecer essas diferenças culturais e abordá-las com sensibilidade. A flexibilidade na educação de valores também é necessária, adaptando a abordagem para se adequar às normas culturais específicas. Valorizar a diversidade é um elemento-chave ao ensinar o respeito em contextos diversos, reconhecendo que as diferenças culturais enriquecem nossa compreensão do mundo.
AVENTURAS MATERNAS – Às vezes, os pais passam valores importantes para os filhos, mas os filhos não “aprendem” ou fingem não assimilar. Como agir em casos assim?
Ronan Mairesse – Nesse caso, mude a forma de comunicação. Nesses casos, sentar com a criança e fazer perguntas para procurar entender o ponto de vista dela em relação a aqueles comportamentos, pode dar aos país uma compreensão melhor do que está acontecendo. Faça ela refletir com perguntas que não levem ao sim ou ao não, ou seja, use perguntas socráticas como, por exemplo, “se você fosse o seu coleguinha, como você se sentiria se alguém fizesse o mesmo com você?”. Caso os pais, mesmo assim, não percebam mudança ou tenham uma dificuldade, sugiro procurar uma psicóloga para acompanhar e ajudar a família como um todo no processo.
Nathalia de Paula – Quando os pais sentem que seus filhos não estão assimilando os valores que estão tentando transmitir, é importante ser paciente e manter linhas de comunicação abertas. Modelar comportamento respeitoso e usar exemplos da vida real pode ajudar. Educar continuamente sobre valores e permitir que as crianças experimentem as consequências de suas ações também são estratégias eficazes. Respeitar a individualidade das crianças e buscar ajuda profissional, se necessário, são passos adicionais importantes no processo de ensino de valores.
Monica Machado – Os pais têm a responsabilidade de educar e ensinar seus filhos, mas não podem controlar o futuro deles. Os filhos são indivíduos com suas próprias escolhas e decisões. É importante que os pais sejam exemplos positivos para seus filhos, mas eles não podem garantir que os filhos seguirão seus passos. Os filhos podem ser influenciados por seus amigos, pela mídia ou por outras experiências na vida. Se os filhos não seguirem os ensinamentos dos pais, isso não significa que os pais são culpados. Os filhos são responsáveis por suas próprias ações. A vida pode mostrar aos filhos as consequências de suas escolhas. Se eles fizerem escolhas ruins, podem sofrer consequências negativas. Isso pode servir como um aprendizado para eles e pode levá-los a mudar de comportamento.
AVENTURAS MATERNAS – Não é raro os pais, especialmente as mães (já que há muitos grupos apenas de mães), perceberem que o comportamento da criança é um reflexo da má influência dos pais. Como chegar até esses pais? Se for na escola, é papel da escola ou dos pais falar com esses outros pais?
Ronan Mairesse – Sou sincero em dizer que, nesses casos, o processo não é nada fácil e talvez a principal dica seja colocar muito amor e compaixão em cada palavra que será dita para esses pais, com o objetivo de manter a calma e mostrar que realmente você se importa com eles. Tenha uma comunicação clara e objetiva. Mostre as consequências dos atos do filho e que você está disposto a ajudar se eles estiverem dispostos. Vá sempre para esse tipo de conversa com recursos a serem compartilhados. Nada adianta trazer o problema sem ter algo para esses pais levarem para resolvê-lo, como sugestão de leituras, como conversar com a criança e até mesmo indicação de acompanhamento psicológico.
Monica Machado – Quando um aluno apresenta comportamentos inadequados na escola, é importante que a instituição de ensino entre em contato com os pais para informá-los sobre a situação. Isso é importante para que os pais possam tomar medidas para auxiliar o filho e para que a escola e a família possam trabalhar juntas para resolver o problema. O contato com os pais deve ser feito de forma cuidadosa e compreensiva. A escola deve explicar o que está acontecendo com o aluno, mas também deve ouvir os pais e tentar entender o que pode estar causando o comportamento inadequado. Além de informar os pais sobre o comportamento do aluno, a escola também pode sugerir um acompanhamento mais próximo a esse filho. Isso pode ser feito por meio de um psicólogo escolar, de um orientador pedagógico ou de um profissional da saúde mental. O acompanhamento pode auxiliar o aluno a entender o que está ocorrendo com ele e a desenvolver estratégias para lidar com seus problemas. Isso também pode ajudar a escola a criar um ambiente mais propício ao aprendizado para todos os alunos.
Nathalia de Paula – Abordar essa questão requer sensibilidade e consideração. A abordagem pode variar dependendo da situação e do relacionamento entre os pais envolvidos. Se o problema ocorre na escola, a escola pode desempenhar um papel na mediação e na promoção de um ambiente saudável. Os professores e diretores podem incentivar a comunicação entre os pais, fornecendo informações sobre workshops ou recursos relacionados ao comportamento das crianças. No entanto, a responsabilidade primária recai sobre os pais.
Se um pai está preocupado com a influência negativa que outros pais estão exercendo sobre seu filho, a melhor abordagem é iniciar uma conversa direta e respeitosa com os pais envolvidos. A comunicação aberta e a empatia são fundamentais nesses casos. Os pais podem compartilhar suas preocupações de maneira não acusatória, explicando como o comportamento da criança está sendo afetado. O foco deve estar na busca de soluções que beneficiem todas as partes envolvidas e promovam o bem-estar das crianças. Se os pais sentirem que não conseguem resolver a situação diretamente com os outros pais ou se houver resistência, buscar o apoio de um mediador, terapeuta familiar ou um profissional da escola pode ser uma opção.
AVENTURAS MATERNAS – “Meu amigo me tratou mal e eu não fiz nada. Mas ele me empurra, debocha de mim e faz as pessoas brigarem comigo. Por que isso acontece? Ele não deveria ser meu amigo?”. Como responder a questionamentos como esse? E, mais importante, como ajudar essa criança a não levar traumas para a vida?
Ronan Mairesse – O primeiro passo é validar esses sentimentos que a criança está tendo. Mostre que você entende como ela se sente e o quanto é importante falar sobre isso. Explique para a criança que aquele que pratica bullying, muitas vezes, age por problemas com a família e por ser inseguro. Isso não justifica o comportamento, mas pode ajudar a criança a entender que o problema não está necessariamente relacionado a ela. Ensine ela a procurar sempre um adulto de confiança para protegê-la. Incentive o diálogo com quem está sendo rude com ela. Isso, além de despertar o lado empático do agressor, irá ensinar essa criança que é através da comunicação, da conversa, que se descobre se aquela pessoa merece ou não a nossa amizade. Conversar com seu filho e fazer ele refletir e ser resiliente a essas situações ajudam a proteger a criança de traumas futuros.
Nathalia de Paula – Lidar com situações em que uma criança está sendo tratada mal por um amigo é desafiador, mas também é uma oportunidade para ensinar habilidades importantes e promover o bem-estar emocional. Primeiramente, é crucial validar os sentimentos da criança, mostrando que é normal se sentir magoado ou confuso quando alguém que deveria ser seu amigo a trata mal. Explique que as amizades nem sempre são perfeitas e que as pessoas podem cometer erros. Em seguida, ajude a criança a entender que, em uma amizade saudável, todos merecem ser tratados com respeito e bondade. É importante ensinar a diferença entre uma amizade tóxica e uma amizade genuína. Encoraje a criança a considerar se essa amizade a faz se sentir bem consigo mesma e se é benéfica. Além disso, ensine habilidades de assertividade e comunicação.
A criança pode aprender a expressar seus sentimentos de maneira assertiva e a definir limites saudáveis em suas amizades. Reforce que ela tem o direito de se sentir segura e respeitada. Quanto a evitar traumas, é importante fornecer apoio emocional contínuo. Mantenha as linhas de comunicação abertas e esteja disponível para ouvir e apoiar a criança. Se o comportamento do amigo se tornar prejudicial ou ameaçador, é fundamental envolver adultos de confiança, como pais, professores ou conselheiros escolares, para garantir a segurança da criança. Promover o desenvolvimento de habilidades sociais, autoestima e resiliência é essencial para ajudar a criança a enfrentar situações desafiadoras e evitar traumas a longo prazo. Por fim, lembre à criança que ela merece amizades que a façam se sentir valorizada e feliz, e que há muitas outras pessoas com quem pode construir relacionamentos saudáveis e significativos.
Monica Machado – É possível que a criança ou adolescente não esteja reagindo da maneira adequada a esses amigos. Pode ser que ela esteja com baixa autoestima, o que a faz se sentir inferior e aceitar o abuso. Nesse caso, é importante que ela busque ajuda profissional para aprender a se valorizar e a se defender. Um psicólogo pode ajudar a criança ou adolescente a identificar as causas da sua baixa autoestima e a desenvolver mecanismos de enfrentamento. A terapia também pode ajudar a criança a aprender a se comunicar de maneira assertiva e a estabelecer limites com os amigos. Além da terapia, é importante que a criança ou adolescente tenha o apoio da família e dos amigos. Os pais devem conversar com o filho ou filha sobre o que está acontecendo e demonstrar que estão ao seu lado. Os amigos também podem ajudar a criança a se sentir mais valorizada e a se afastar de pessoas tóxicas
AVENTURAS MATERNAS – Qual é o impacto das influências externas, como a mídia e os colegas, na formação dos valores das crianças? Como os pais podem lidar com essas influências?
Monica Machado – O mundo digital pode ser um ambiente perigoso para crianças e adolescentes. Existem diversos riscos, como exposição a conteúdo prejudicial, cyberbullying, grooming e até mesmo sequestros. É por isso que os pais têm um papel fundamental em proteger seus filhos no ambiente digital. A autoridade “velada” é uma boa estratégia para evitar conflitos e garantir que as crianças sigam as regras dos pais. Ao invés de simplesmente dizer o que a criança deve fazer, os pais podem iniciar uma conversa sobre o assunto. Isso mostra que os pais estão interessados na opinião dos filhos e que estão dispostos a conversar sobre isso. É importante que os pais sejam firmes em suas regras, mas também que sejam compreensivos e empáticos. Se a criança tiver uma ideia que não seja conforme os valores da família, os pais devem conversar calmamente e explicar as diferentes opiniões de ambos. Isso ajuda a criança a entender o motivo das regras e a desenvolver um senso crítico sobre o conteúdo que ela acessa na internet.
George Oliveira – A mídia tem participação ativa, principalmente na vida de crianças e adolescentes. Ela forma opiniões, estabelece conceitos, direciona consumo e influencia comportamentos. Crianças imitam o que lhes é apresentado e assumem padrões de comportamento. Para os pais, é importante compreender o risco da exposição abusiva e buscar uma diminuição do contato com as mídias e influências externas, buscando garantir o desenvolvimento saudável da criança, o controle vai contribuir com a organização de uma rotina, que vai nortear a criança.
Nathalia de Paula – O mais importante e o primeiro ponto que eu gostaria de identificar aqui é que a formação dos valores de uma criança começa principalmente em casa, com a família sendo a principal influência. Os pais desempenham um papel super importante nesse processo, pois os filhos observam e aprendem com o que veem em casa. Quando os pais mostram valores éticos e morais em suas ações diárias, as crianças tendem a absorver esses valores e coloca-los em prática em suas próprias vidas. É claro, ainda mais no mundo que vivemos hoje, que a influência da mídia e principalmente dos amigos (ainda mais na adolescência) também têm impacto na formação de valores. A mídia, como programas de TV, filmes e redes sociais, pode introduzir as crianças a diferentes pontos de vista e valores aos quais a família não abordou ou que são conflitantes para os jovens. O que valerá para lidar com essa situação será a comunicação aberta entre os pais e filhos. Os pais devem encorajar seus filhos a fazer perguntas sobre o que veem na mídia e ajuda-los a desenvolver o pensamento crítico para entender melhor as informações e valores que encontram.
AVENTURAS MATERNAS – As crianças e adolescentes de hoje, quase sempre, se informam e socializam pela internet. E, por lá, nem sempre sabemos o que assistem. Como passar bons valores quando a “concorrência” para mostrar o que não é legal é tão próxima?
George Oliveira – O diálogo e a relação de confiança são extremamente importantes nesse caso. É nutrir um bom relacionamento a ponto da criança e o adolescente não enxergarem uma outra opção confiável.
Nathalia de Paula – Para transmitir bons valores em um ambiente digital tão desafiador, os pais devem ser ativos na vida online de seus filhos. Isso envolve não apenas monitorar o conteúdo que eles acessam, mas também promover discussões abertas sobre o que encontram, incentivando o pensamento crítico e a reflexão sobre os valores apresentados na internet. Além disso, os pais devem ser modelos de comportamento online, demonstrando como usar a internet de forma responsável e ética – aprendemos através do exemplo. A combinação de supervisão atenta, comunicação aberta e modelagem de valores ajudará os pais a enfrentar a “concorrência” das influências negativas na internet e a guiar os filhos na construção de um sistema sólido de valores.
Monica Machado – De modo geral, as crianças são capazes de seguir as regras familiares, mas quando isso não ocorre, pode ser um sinal de que algo está errado. Uma das possíveis causas é que a criança esteja passando muito tempo socializando com o meio digital. O mundo virtual é uma fonte de entretenimento e informação ilimitada, e pode ser muito atraente para as crianças. No entanto, o excesso de exposição à tecnologia pode levar a problemas como isolamento social, problemas de atenção e até mesmo dependência. Quando os pais percebem que a criança está se recusando a seguir as regras familiares, é importante que eles verifiquem se estão dando importância para a relação familiar. Os pais devem reservar um tempo para estar com os filhos, conversar com eles e participar de atividades juntos.
AVENTURAS MATERNAS – Como agir com os pequenos quando eles fazem algo que não está de acordo com os valores passados? Por ex: os pais dizem sobre a importância de respeitar a religião de cada pessoa e o filho diz que não gosta de uma determinada religião.
Monica Machado – Os pais têm o direito de compartilhar suas crenças religiosas com seus filhos, mas não devem impor essas crenças. Os filhos têm o direito de escolher sua própria religião, e os pais devem respeitar essa escolha, mesmo que não concordem com ela. É importante que os pais sejam honestos e abertos sobre suas próprias crenças religiosas. Eles devem explicar aos filhos por que acreditam no que acreditam, e eles devem estar dispostos a responder a quaisquer perguntas que os filhos possam ter. Os pais também devem incentivar os filhos a aprender sobre diferentes religiões. Eles podem fazer isso levando os filhos a serviços religiosos, a eventos religiosos e a museus religiosos. Eles também podem incentivar os filhos a ler sobre diferentes religiões. Ao fornecer aos filhos informações sobre diferentes religiões, os pais estão ajudando-os a fazer uma escolha informada sobre sua própria crença. Eles também estão ensinando aos filhos sobre o respeito pela diversidade religiosa.
George Oliveira – De forma sistemática, a conscientização sobre o respeito deve ser inserida na criação e desenvolvimento da criança, para que qualquer assunto que venha contra os valores passados, ou atitudes sejam sinalizados e corrigidos, mostrando que o respeito deve ser priorizado.
Nathalia de Paula – Quando as crianças agem de maneira que vai contra os valores ensinados pelos pais, é importante conversar com empatia e sem julgamento. Primeiro, ouça o que a criança tem a dizer, pergunte por que ela se sente assim e compreenda suas perspectivas. Depois, explique novamente os valores da família, como o respeito pelas crenças religiosas das outras pessoas, e por que isso é importante. Lembre a criança que todos têm direito às suas próprias opiniões e crenças, assim como eles têm as suas. Nunca esquecendo de ser um exemplo prático para a criança, mostrando como respeitar a diversidade de opiniões. É preciso paciência e consistência pois o processo de construção de valores contínuo.
AVENTURAS MATERNAS – Em um país polarizado como o Brasil hoje, é evidente que há percepções sobre o mundo diferentes. E esses pais, habitualmente, devem passar tais valores para os filhos. Mesmo que normalmente não se associe o assunto política às crianças, elas, sim, respiram o assunto o tempo todo, como nós (especialmente depois de 2022). Como ensinar a respeitar a opinião do outro quando o assunto é política?
George Oliveira – O caminho a seguir é insistir que o respeito deve ser a base de qualquer relacionamento, seguido do diálogo para desenvolver qualquer demanda a respeito da política, sabendo que todo cidadão tem o direito de exercer sua cidadania através da escolha de representantes de sua preferência.
Monica Machado – A política é um tema que pode ser abordado de diversas maneiras, desde a escola até a família. A escola é um importante espaço de aprendizagem sobre política, por ser lá que os alunos têm contato com conceitos básicos, como democracia, cidadania e direitos humanos. Os professores podem contribuir para a formação de cidadãos conscientes e participativos, a partir de uma abordagem crítica e plural da política. No entanto, a família também tem um papel importante na formação política dos filhos. Os pais podem compartilhar suas opiniões e valores com os filhos, mas também devem incentivar o pensamento crítico e a autonomia de pensamento. É importante que os filhos tenham acesso a diferentes perspectivas sobre a política, para que possam formar suas próprias opiniões conscientemente. A combinação de aprendizado na escola e na família pode auxiliar os filhos a desenvolver uma visão ampla e crítica da política. Isso é importante para que eles possam participar ativamente da vida democrática e contribuir para a construção de um país mais justo e igualitário
Nathalia de Paula – Independentemente do assunto, a opinião de outra pessoa é dela e deve ser respeitada. Podemos discordar, não gostar ou até mesmo achar difícil compreender, mas isso não nos dá o direito de agir de forma prejudicial em relação a alguém só por causa de suas convicções, seja em relação à religião, futebol, política ou qualquer outro tópico. Nossos filhos aprendem principalmente com os exemplos que observam em casa, na família e com as pessoas com quem convivem. Se os pais demonstram fanatismo e agem impulsivamente, as crianças tendem a absorver essa abordagem. Portanto, se desejamos que nossos filhos ajam de maneira mais respeitosa e tolerante em relação às opiniões alheias, precisamos começar por nós mesmos. Isso significa corrigir nossas próprias atitudes e praticar o respeito pelas diferenças de opinião, para que nossos filhos vejam em nós um modelo de comportamento a seguir. Ensinando pelo exemplo, podemos contribuir para a formação de uma próxima geração que valoriza a diversidade de opiniões e pratica o respeito mútuo.
AVENTURAS MATERNAS – E quando simplesmente o filho não concorda com a forma que os pais enxergam sobre determinado assunto? Como equilibrar dentro de casa? Por ex: os pais acham que a criança tem que comer de tudo, inclusive carne, e explicam porque , na visão deles, é importante. Já o filho não quer comer nada de origem animal e explica, na visão dele, porque quer ser vegetariano. Como os pais devem agir em uma situação como essa?
George Oliveira – Exercendo a liderança natural, os pais devem, através do diálogo, buscar um ponto de equilíbrio, utilizando como ferramenta principal a informação. Com objetivo de orientar os filhos, a respeito do que é saudável para sua saúde ou não, e sendo possível aderir a um estilo de vida, que haja um apoio por parte dos pais.
Nathalia de Paula – Quando os filhos têm opiniões diferentes dos pais sobre algo, é importante encontrar um equilíbrio e promover o respeito mútuo. A Educação Parental valoriza uma abordagem democrática, onde as intenções de ambos são consideradas, desde que isso não prejudique o bem-estar da criança e os pais entendam as necessidades dos filhos. No exemplo de preferências alimentares, onde os pais acham que é importante que a criança coma carne, mas o filho quer ser vegetariano, é fundamental abrir um diálogo. Os pais explicam por que acham importante uma dieta diversificada, incluindo carne, e o filho também expõe suas razões para preferir o vegetarianismo. Respeitando a autonomia do filho, os pais buscam um equilíbrio para garantir que ele receba uma nutrição adequada, mesmo seguindo uma dieta vegetariana. A comunicação aberta e o respeito pelas decisões mútuas são essenciais para encontrar soluções que beneficiem a família como um todo.
Monica Machado – Os filhos estão expostos a uma grande variedade de informações e influências. Isso pode ser positivo, ao abrir oportunidades para eles aprenderem e se desenvolverem. No entanto, também pode ser um desafio para os pais, que precisam lidar com as escolhas e os desejos dos filhos. É importante que os pais entendam que os filhos são indivíduos com suas próprias opiniões e vontades. Eles não devem impor suas próprias escolhas aos filhos, mas sim ajudá-los a tomar decisões informadas e responsáveis.
AVENTURAS MATERNAS – Quais estratégias os pais podem utilizar para ensinar o respeito ao próximo desde cedo?
George Oliveira – Podem ser utilizados como estratégia, a conscientização sobre o peso que existe em cada atitude que tomamos, visando o entendimento de que para toda ação existe uma reação, e que aquilo que “plantamos” vamos colher. Que cada indivíduo tem direito a suas próprias escolhas.
Nathalia de Paula – Uma das estratégias mais eficazes para ensinar o respeito ao próximo desde cedo é através do exemplo. Os pais podem demonstrar respeito em suas próprias interações cotidianas, seja com familiares, amigos, vizinhos ou estranhos. Isso inclui demonstrar cortesia, consideração e empatia em situações diárias. Além disso, os pais podem promover a empatia ao conversar com as crianças sobre os sentimentos e perspectivas dos outros. Eles podem incentivar as crianças a pensar como se sentiriam se estivessem na situação de alguém e discutir como ações e palavras podem afetar os outros. Outra estratégia é o ensino direto de valores de respeito por meio de histórias, livros, músicas e programas educacionais que destacam a importância do respeito às diferenças e à diversidade. Estabelecer expectativas claras de comportamento e aplicar consequências apropriadas quando as crianças não respeitam os outros também é importante.
Monica Machado – Desde à infância, com exemplos em casa de respeito mútuo entre a família. A educação dos filhos na primeira infância será levada para vida na sua essência. Nesta fase da vida, as crianças estão em desenvolvimento e são altamente influenciadas por seus pais e cuidadores. Se os pais demonstrarem respeito mútuo entre si, as crianças aprenderão que esse é um comportamento esperado. Isso se traduzirá em relacionamentos saudáveis e respeitosos ao longo da vida.
Em tempo: “Nos tempos de hoje, é mais crucial do que nunca que os pais estejam emocionalmente próximos de seus filhos, atentos e preparados para ouvi-los e acolhê-los. A era digital e a exposição das crianças à internet e às redes sociais trouxeram desafios significativos à infância e adolescência. Para proteger nossos filhos desses perigos, é essencial construir um ambiente de confiança e comunicação dentro de casa. Quando os pais se envolvem emocionalmente, criam um espaço onde os filhos se sentem seguros para compartilhar suas preocupações e experiências. Isso desempenha um papel fundamental na prevenção de problemas como o bullying, o uso de drogas, traumas, depressão e outros desafios enfrentados pelos jovens”, diz.
“Ao manter um diálogo aberto, os pais podem orientar seus filhos sobre o uso seguro da internet, ensinar sobre privacidade online e ajudá-los a discernir informações confiáveis de conteúdo prejudicial. Além disso, o apoio emocional pode fortalecer a autoestima e a resiliência, ajudando as crianças a enfrentar as pressões e desafios da vida moderna. Os pais desempenham um papel crucial na proteção da infância e da adolescência de seus filhos. Estar emocionalmente presente e disponível para ouvi-los e apoiá-los é a chave para evitar os perigos que a era digital pode trazer. Ao fazer isso, construímos bases sólidas para o bem-estar e o desenvolvimento saudável de nossos filhos”, conclui Nathalia de Paula.