Quando um novo membro peludo está prestes a entrar em nossas vidas, as emoções são contagiantes, especialmente para as crianças. Junto com toda a diversão e carinho que um pet traz, porém, vem a responsabilidade de criar um ambiente seguro e harmonioso para todos.
E muito além da alegria e ansiedade pela chegada de um peludo, uma série de questões precisam ser analisadas, inclusive antes de aumentar a família. Nesta matéria, vamos abordar os cuidados essenciais a serem considerados ao receber um novo companheiro em um lar repleto de alegria e energia infantil.
BENEFÍCIOS PARA OS PEQUENOS
Ter um animal em casa, além da enorme alegria e amor, traz uma série de benefícios para os membros da família. E para as crianças, especificamente, que estão em fase de crescimento e aprendizado, mais ainda. Ceres Berger Faraco, veterinária e especialista em comportamento animal, comenta que os benefícios físicos, emocionais e psicológicos.
Um dos mais destacados é o aumento de interações sociais, pois os animais atuam como pontes, facilitando a comunicação. “Do ponto de vista psicológico, eles tem cumplicidade e muitas crianças desabafam para os pets. São excelentes companheiros para estimular atividades físicas e contribuir para a saúde orgânica das crianças”, diz. Além disso, ressalta, as crianças têm a oportunidade de experienciar cuidados, entendendo que há deveres com outros seres vivos e este aprendizado é estendido para os demais membros da família. Também inserem na sua rotina o hábito de que há atividades para serem realizadas e necessitam destinar tempo para isso. “É aprendizado para toda a sua vida”, enfatiza.
Para Carla Maion, médica veterinária e nutróloga de cães e gatos, ter um pet em casa pode trazer diversos benefícios para crianças, como ensinar responsabilidade, empatia, proporcionar companhia, promover atividade física e desenvolver habilidades sociais. Além disso, Raphael Hamaoui, médico veterinário, diretor clinico da Clínica Veterinária Brasil e conselheiro do Conselho Regional de Medicina Veterinária de São Paulo, lembra, ainda, que entre os principais benefícios estão o aumento da imunidade, consequentemente diminuição de casos alérgicos, maior facilidade de socialização, senso de responsabilidade e respeito com o próximo.
Já Frederico Crepaldi, veterinário, pesquisador, professor e coordenador do curso de Medicina Veterinária da Estácio, pontua também que os pets são utilizados por diversas profissionais da área de desenvolvimento motor e social, atuando na melhora do entendimento do próprio corpo, como é o caso da equoterapia em pessoas que apresentam necessidades especiais, bem como exercem um papel forte no entendimento de relações sociais, como no caso de pessoas que fazem parte do espectro autista.
O MOMENTO CERTO
Quando recebemos um pet em casa, é natural que todos fiquem encantados. Afinal, são seres cheios de alegria e amor que demonstram esse afeto o tempo todo. Mas ser um bom tutor requer mais do que apenas “gostar de animais”. É preciso pensar e avaliar tudo que vai mudar na rotina familiar, já que eles têm necessidades especificas. Famílias com crianças pequenas, de até 5 anos, devem pensar no tamanho do pet, pois as brincadeiras podem ser um pouco brutas.
“Ao adotar, se possível, peça histórico anterior, para saber sobre possíveis traumas que esse animal passou, além de manter vacinação e vermifugação sempre em dia”, comenta Raphael Hamaoui. Além disso, pontua, o espaço em que o animal vai viver é algo a ser visto, assim como rotina da família e o ambiente tem que estar preparado para o animal. “Por exemplo, se morar em um apto e for adotar um gato, é imprescindível colocar telas nas janelas”, determina. Mas há uma idade mais ideal das crianças para uma família adquirir um bichinho? “Pode se juntar à família em qualquer momento, quando bem orientados por um veterinário, não vejo problemas na idade das crianças”, complementa Raphael.
Para Ceres Faraco, a primeira orientação é que as interações de crianças pequenas com pets sempre sejam supervisionadas por um adulto. Além disso, o ideal é que não sejam animais muito frágeis ou muito pequenos, pois assim serão mais resistentes e participativos das brincadeiras e interações. “Crianças pequenas têm movimentos que eventualmente e, de forma involuntária, podem provocar dor ou medo e isso não é desejável para o animal e a relação entre eles”, diz. É fundamental, ainda, buscar orientação sobre o temperamento do animal a ser incluído na família e quais suas demandas. “Precisará muitos exercícios físicos? Já foi sociabilizado com crianças? Quais os cuidados de pele e pelos necessários? Estas e outras informações podem ser obtidas com comportamentalistas”, orienta.
Carla Maion alerta, também, sobre considerar a compatibilidade com o estilo de vida da família. “Também é importante supervisionar as interações para garantir a segurança da criança e do animal. Em geral, os pets entendem que são crianças e são super amáveis nesta interação”, fala. Mas, atenção: se os adultos acharem que não conseguem oferecer toda atenção que um animal precisa, é melhor desistir ou postergar a decisão de ter um animal em casa. Além disso, se na família houver pessoas com fobias de animais, antes de ter um pet é preciso buscar ajuda para a resolução desta condição. “Não adianta forçar algo, porque o desfecho é negativo”, enfatiza Ceres.
E mais: pessoas que não gostam de animais, que não têm paciência para entender o processo de aprendizagem ou que querem o bicho apenas por status ou por ser modismo não devem ter bichos em casa. “Os pets hoje fazem parte da família multiespécie e há leis rígidas para os maus tratos no Brasil”, enfatiza Frederico Crepaldi.
ADOTAR OU COMPRAR? CÃO OU GATO?
Há algumas décadas, quase sempre, ao decidir ter um animal, as famílias iam a canis e, pronto, escolhiam o seu pet. Entretanto, com maior acesso a informações e uma enorme quantidade de animais nas ruas e em abrigos, a sociedade foi tomando mais consciência sobre a importância da adoção (e os absurdos cometidos por alguns canis com matrizes).
E, afinal, quais lições uma criança aprende quando os pais resolvem adotar no lugar de comprar um pet? Para Raphael, os pequenos são ensinados a ajudar o próximo e a dar amor, independentemente de características físicas, raça ou cor. “Além de conscientizar, desde cedo, sobre não abandonar os animais”, pontua. Para Ceres Berger, essas lições dependem muito dos desejos e afinidades de cada família. “O adotar é um ato socialmente relevante e com inúmeros benefícios de aprendizado sobre dar acolhida a quem necessita mais e ajudar um outro ser vivo para que tenha carinhos, cuidados e um lar. Mostra a importância que esta criança poderá ter com gestos e decisões simples. O comprar já atenderia mais os desejos das pessoas e, claro, que implica em bons cuidados também”, determina. Para Carla Maion, ao adotar em vez de comprar, as crianças aprendem sobre a importância da adoção responsável, ajudando a reduzir o número de animais abandonados e fortalecendo valores éticos em relação aos animais.
Resolvido se vão pelo caminho da adoção ou compra, é preciso lembrar que animais vivem, em média, entre 10 e 15 anos e precisam de atenção com saúde, entretenimento, exercícios alimentação, etc. Então, é fundamental que as famílias “se façam” algumas perguntas. “Tenho condições de cuidar adequadamente dele pelo tempo que irá ficar conosco? Quero ter ele ao meu lado por 15 anos? Sabendo que eles precisam de atenção e cuidados por toda vida? Esse é o melhor pet para meu estilo de vida? Estamos dispostos a abrir mão de algumas coisas para ter um pet?”, sugere Raphael Hamaoui.
Ceres pontua, ainda, que há determinadas características familiares que podem ajudar a nortear se uma família deve ter um cachorro ou gato. Há necessidades que são comuns para ambos: enriquecimento ambiental, tempo de dedicação da família para interagir com eles, cuidados de saúde, cuidados alimentares e de higiene. Cães necessitam passeios diários com duração e intensidade que vão depender da idade e do porte de cada animal. Também necessitam conviver com outros cães e pessoas diversas para dar continuidade a sua socialização. Não podem ficar sós por mais de 4-6 horas diárias, sofrem no isolamento.
Para os gatos, há necessidade de “customizar” a casa, com lugares elevados, recipientes para comida e água separados do local de banheiro. Lugares para fazer exercícios, alongamentos, brincadeiras que simulem a caça e outras atividades peculiaridades da espécie. “Passeios tornam a vida dos gatos mais enriquecida e é preciso a orientação profissional para que seja positivo”, determina. Há, também, características da família que devem ser consideradas para a escolha de cão ou gato: família mais sedentária ou ativa, tempo disponível para dedicar ao pet, disponibilidade financeira para custeio do novo membro da família, espaço na residência, disponibilidade de buscar orientação profissional qualificada. Já sobre ser casa ou apartamento melhor para ter um pet, locais muito pequenos têm desafios adicionais, exigindo várias adequações e maior tempo para atividades externas. “Não é o tipo de casa que é determinante, mas a rotina de vida”, alerta.
Outro “detalhe” importante é que toda chegada de um animal na família deve ser precedida de um preparo do ambiente e dos familiares. “Se forem felinos, não é recomendado que eles sejam criados soltos na rua, evitando brigas e transmissão de doenças. Para isso deve-se telar as janelas, além de ficar atento à caixa de areia, para que ela esteja sempre limpa, ter arranhadores, água fresca em abundância e ração de boa qualidade”, enfatiza Frederico Crepaldi Nascimento. “Para os cães, a escolha do porte deve ser adequada ao espaço que o animal viverá, bem como o tamanho dos pelos. Os cães devem passear uma vez ao dia, no mínimo, caso vivam em apartamentos, inclusive coberturas. Deve-se escolher uma boa ração e ofertar água fresca e limpa em abundância. Os cães gostam de brinquedos para passar o tempo e uma cama bem fofinha para uma soneca. Os tutores devem lembrar que o processo de aprendizagem do cão é mais lento que o humano, portanto, deve ser carinhoso e cuidadoso com o adestramento e as rotinas.”
É POSSIVEL ALERGICOS CONVIVEREM COM ANIMAIS?
Uma das “desculpas” mais comumente usadas para abandonar ou doar animais é a alergia, especialmente quando as crianças chegam. Mas, afinal, é possível a convivência entre alérgicos e peludos? Para Hamaoui, é possível, mas torna-se necessário que a família vá atrás de especialistas, para que seja descoberta a causa da alergia e a forma de convivência. “A partir daí, tanto um médico veterinário quanto um alergista são importantes nesses casos”, alerta. Para Maion, é possível conviver com um animal mesmo se a criança for alérgica. “Consultar um médico e adotar medidas, como manter áreas livres de pelos e fazer a higienização adequada, pode permitir a convivência saudável e inclusive amenizar as crises alérgicas”, afirma. Mas ela faz uma ressalva: “Famílias com histórico de alergias graves podem precisar reconsiderar ter um animal de estimação em casa”.
Ceres explica que, pela sua experiência de mais de 30 anos com famílias e animais, sempre os benefícios são muito mais significativos. “Eu e um dos meus filhos temos alergias e sempre foi muito enriquecedor a convivência com animais e passível de controle. Jamais deixaria de estimular essa criança alérgica a se privar dessa experiência”, diz.
ALIMENTAÇÃO RESPONSÁVEL
Quem tem animais em casa certamente já percebeu que o mercado pet está em constante crescimento, com novidades para esse público. São remédios cada vez mais específicos para todo tipo de condição dos peludos, rações especiais, brinquedos, coleiras e camas diferenciadas etc. Mas há uma área da medicina veterinária que tem chamado cada vez mais atenção: a alimentação natural.
Para Carla Maion, que também é veterinária nutróloga, a alimentação natural pode ser uma opção, mas requer planejamento e supervisão de um veterinário para garantir o equilíbrio nutricional necessário. “A alimentação natural pode oferecer benefícios como melhor digestão, controle de ingredientes e frescor. Quando orientada corretamente por um nutricionista veterinário, pode atender às necessidades nutricionais do animal, sem necessidade de nada além. No entanto, toda dieta caseira precisa ser suplementada para alcançar os níveis necessários para cada nutriente e estes suplementos devem ser prescritos pelo médico veterinário”, enfatiza. Para Karina Albacete, especialista em nutrição humana e animal, e criadora de conteúdo – e das receitas – do Comidaunika (@comidaunika), os ingredientes utilizados na alimentação humana também são benéficos para os peludos. Além disso, inserir a alimentação natural (AN) para os pets pode ser determinante na saúde de animais com certas patologias.
“Um cão ou gato diabético ou com calculo urinário de estruvita ou problemas renais, por exemplo, precisam de uma alimentação mais específica. Também é determinante para o tratamento do câncer, quando é necessário fazer um controle do consumo de carboidrato. A alimentação natural também é uma solução muito utilizada para pacientes com problemas de alergia”, exemplifica. Entretanto, diz, para a obtenção do real benefício da alimentação natural, principalmente animais que apresentam algum problema de saúde, é fundamental o acompanhamento de um médico veterinário que prescreva a dieta. “Além disso, é fundamental que os responsáveis pelo animal façam a suplementação como orientada e obedeçam as quantidades de tudo, sem alterar nenhum ingrediente sem a devida autorização do médico veterinário responsável”, complementa.
Karina pontua, ainda, algumas vantagens para inserir a alimentação natural na rotina dos animais:
- Alta palatividade (com mais odor, textura e sabor);
- Alta digestibilidade (para dieta cozidas);
- Maior ingestão de água (importante principalmente para gatos).
Já entre as desvantagens:
- Valor, que normalmente é 50% mais caro do que a ração premium,
- Tempo e trabalho para fazer;
- Além da questão de armazenamento.
É preciso lembrar, porém, que no caso da pessoa não conseguir dar AN, deve ficar atento a alguns detalhes na hora de escolher uma ração de qualidade. “Ao escolher uma ração de qualidade para o seu animal de estimação, procure por ingredientes reais, como carnes e vegetais, evitando todos os corantes artificiais. Verifique se a ração é formulada para atender às necessidades nutricionais específicas do seu animal em fase de vida, porte e condições especiais. Quanto à frequência, geralmente é recomendado alimentar cães adultos duas a três vezes ao dia e gatos mais vezes ao dia, seguindo as orientações do rótulo da ração e considerando as necessidades individuais do animal. Sempre consulte um veterinário para orientações personalizadas”, determina Maion.
A seguir, Karina Albacete sugere algumas receitas que podem ser ingeridas por toda a família, humanos e animais. Mas atenção: para saber a quantidade ideal para seu peludo, consulte um veterinário especialista em nutrição.
Panqueca Americana
*Adequada para petisco de café da manhã para humanos e pets saudáveis.
Ingredientes: 1 ovo, 1 banana prata madura, 1/2 colher de café de canela, 1 colher de sopa de farelo de aveia, 1 colher de sobremesa de mel (se desejar), 1 colher de chá de manteiga.
Modo de preparo: Amasse a banana e misture bem com os ovos, a canela e a aveia. Em uma frigideira bem quente, derreta a manteiga e espalhe por toda frigideira. Coloque a massa e “frite” dos 2 lados. Se desejar, adicione o mel. E sirva!
Salada quente de Legumes
* Com ingredientes adequados para humanos e pets saudáveis.
Ingredientes: 1 colher de sobremesa de óleo de gergelim – extra virgem, 50 gr de palmito em conserva sem liquido e picado, 200 gr de chuchu cozido sem sal e cortado em cubos, 100 gr de tomate fresco sem semente cortado em cubos, 1 colher de sobremesa de salsa fresca picada.
Modo de preparo: Refogue o palmito no óleo de gergelim em uma panela funda e vá adicionando os outros ingredientes, mexendo sempre! Finalize com a salsa fresca! Sirva morno, como entrada ou como acompanhamento.
Nhoque de abóbora
* Adequado para Petisco de almoço para humanos e pets saudáveis.
Ingredientes: 800 gr de Abobora cabotiá, 1 colher de café de sal, 1 colher de café de pimenta do reino preta, 1 colher de sobremesa de azeite de oliva extra virgem, 2 colheres de sopa de polvilho doce (ou farinha de trigo), polvilho ou farinha de trigo para esticar a massa, 1 colher de sobremesa de manteiga com sal, 1 colher de chá de alecrim fresco
Modo de preparo: Em uma assadeira, adicione a abobora cabotiá cortada em cubos, tempere com o sal, a pimenta e o azeite… leve ao forno por 20 min a 200*C. Retire do forno, passe no processador. Após, adicione o polvilho e forme uma massa homogênea. Faça minhoquinhas e corte. Cozinhe em agua fervente e retire quando começar a boiar. Em uma frigideira a parte, derreta a manteiga, adicione 1 colher de chá de azeite e o alecrim e finalize os nhoques.
Em tempo: “Ter um animal é sempre uma grande mudança na vida das famílias, para tomar essa decisão precisa ser algo pensado e estudado com muito carinho, pois o animal precisará, por toda sua vida, de cuidados e que geram gastos muitas vezes. Mas será uma decisão que irá melhorar e muito a vida da família, trazendo mais amor, respeito, amadurecimento, responsabilidade, união e felicidade em casa”, conclui Raphael Hamaoui.