Lá pelos anos 1980 e 1990, quando muitas de nós nascemos, era comum que as mulheres se tornassem mães antes dos 30 anos. No entanto, com o avanço da presença feminina no mercado de trabalho e outras conquistas sociais, muitas passaram a repensar quando realmente gostariam de ter filhos.
Ana Claudia Dias, de 48 anos, é mãe de Pablo, de apenas 6. Sempre quis formar uma família, mas sua vontade de crescer profissionalmente adiou os planos de uma gravidez. “Desde muito nova, eu sabia que não teria filhos cedo. Queria ter uma carreira bem-sucedida antes. Minha mãe foi meu exemplo: fez faculdade numa época em que poucas mulheres entravam no ensino superior, e também optou por não ter filhos logo após o casamento. Quando me casei, deixei claro que queria viajar, curtir o relacionamento e me estabilizar antes de pensar em maternidade. Foi o que fiz. Depois de mais de 10 anos de casamento e com a vida estável, decidi engravidar. Impressionantemente, foi rápido, mesmo depois dos 40. Mas a decisão não foi simples — sempre fui cobrada por não querer ser mãe mais cedo. Diziam que o tempo passaria”, conta.
Já Georgia Bochenek Matoso de Oliveira, de 43 anos, está grávida de 25 semanas do primeiro filho, mas a gestação após os 40 se deu por outro caminho. “Não foi uma escolha propriamente dita. Foram nove anos tentando engravidar — um percurso longo, com muitos desafios. Nesse tempo, tive sete abortos, passamos por tratamentos e procuramos terapias integrativas, até que conseguimos nosso tão sonhado positivo. Sempre desejei ser mãe, mas o relógio biológico da mulher é cruel”, relata. Atualmente, além do acompanhamento com a obstetra, Georgia faz acupuntura, terapia, atividade física e segue orientações nutricionais — tudo para garantir o bem-estar físico e emocional.
Existe idade certa para ser mãe?
A medicina pode ajudar a postergar o sonho da maternidade — e, com os devidos cuidados, a gestação tardia pode ser segura. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que o número de mulheres que se tornam mães após os 40 anos cresceu cerca de 90% entre 1998 e 2018, passando de 48.402 para 91.212.
Segundo o ginecologista Vamberto Maia Filho, especialista em reprodução humana, a gestação após os 40 pode ser saudável, mas exige atenção redobrada. “É fundamental que essas mulheres estejam bem informadas e acompanhadas por profissionais experientes”, afirma. Um estudo do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP aponta que a incidência de diabetes gestacional e doença hipertensiva específica da gestação em mulheres com mais de 40 anos é de 14,6% e 19,6%, respectivamente. “Por isso, o acompanhamento médico deve ser frequente e detalhado”, completa.
A ginecologista Paula Marin, também especialista em reprodução humana, destaca os principais riscos associados à gestação avançada: aumento das alterações cromossômicas (como a síndrome de Down), diabetes e hipertensão gestacional, pré-eclâmpsia, parto prematuro, restrição de crescimento fetal, descolamento de placenta, maior taxa de cesáreas e risco de abortamentos.
Vamberto lembra que, a partir dos 35 anos, há queda significativa na reserva ovariana e na qualidade dos óvulos. Por isso, muitas mulheres recorrem à fertilização in vitro (FIV) ou optam por congelar óvulos para preservar a fertilidade e postergar a maternidade com mais segurança.
No caso de uma gestação após os 40, o pré-natal deve ser ainda mais criterioso. Paula Marin recomenda:
– Avaliações frequentes da saúde materna e do desenvolvimento fetal;
– Exames específicos, como o teste de DNA fetal no sangue materno;
– Alimentação balanceada e prática regular de atividade física;
– Monitoramento de condições preexistentes, como diabetes e hipertensão;
– Apoio psicológico para reduzir o estresse e lidar com os desafios emocionais.
“Essas orientações ajudam a promover uma gestação segura e saudável, minimizando os riscos da idade”, afirma Marin.
Gravidez tardia: além do corpo, a mente
Quando falamos em maternidade após os 40, muita gente se preocupa apenas com os aspectos físicos. Mas a saúde emocional também é essencial — e, muitas vezes, negligenciada.
Muitas mulheres, como Ana Claudia, decidem pela gravidez mais tarde após alcançar estabilidade financeira e relacional. Apesar dos avanços sociais, ainda persiste a ideia de que a mulher só se realiza plenamente quando se torna mãe — o que pode gerar angústias e cobranças.
A psicóloga Claudia Mário explica que a gravidez tardia pode envolver sentimentos ambíguos. “A mulher mais madura pode estar emocional e financeiramente mais estável, o que contribui para uma maternidade mais segura. Mas os riscos de saúde, o medo de problemas com o bebê, a culpa, a pressão interna e externa podem impactar negativamente a saúde mental.”
Ela também alerta para a romantização da mãe madura. “Além do estigma da fertilidade reduzida, existe o julgamento pelas escolhas pessoais dessa mulher — como se ela devesse priorizar o que os outros esperam. Isso afeta a autoestima.”
A psicóloga Andrea Deis acrescenta que a idealização da “mãe madura perfeita” — estável, paciente, emocionalmente equilibrada — pode ser uma armadilha. “Isso coloca uma pressão enorme, como se ela tivesse que dar conta de tudo com serenidade inabalável. E, ao mesmo tempo, há o preconceito de sermos ‘velhas demais’, de não termos energia para cuidar de um bebê. Esses comentários machucam e geram insegurança. É como se tivéssemos que provar o tempo todo que somos capazes, só por causa da idade.”
Como equilibrar corpo, mente e maternidade?
Cuidar da saúde física e emocional é o primeiro passo. Praticar exercícios, buscar apoio psicológico, reorganizar a vida familiar e profissional antes da chegada do bebê e não se cobrar excessivamente são atitudes essenciais.
Além disso, utilizar os recursos oferecidos pela empresa, aceitar ajuda e defender seu próprio tempo são formas de tornar a jornada mais leve. A gravidez, por si só, já é um evento transformador — e contar com apoio é fundamental.
Andrea sugere estratégias para lidar com o medo, a ansiedade e os julgamentos:
– Buscar informações confiáveis sobre maternidade em idade avançada;
– Conectar-se com outras mães na mesma situação;
– Focar no presente, curtindo cada momento da gestação;
– Questionar pensamentos negativos e não internalizar julgamentos alheios;
– Fortalecer a autoestima e reconhecer a bagagem de experiências acumuladas.
“A decisão de ser mãe é pessoal e íntima. Cada mulher sabe a hora certa — e, com o suporte adequado, essa jornada pode ser vivida com segurança e plenitude”, conclui.