Páscoa chegando e, com ela, a ansiedade das crianças (e de muitos adultos também) para descobrir qual será o ovo de chocolate da vez. É difícil resistir às vitrines coloridas, aos personagens favoritos em forma de coelho e à promessa de muito sabor. Mas como garantir que a celebração continue doce sem exageros no açúcar? Evitar completamente os chocolates pode ser uma missão impossível — e nem precisa ser assim. O segredo está no equilíbrio, e pais e responsáveis têm um papel importante para manter a diversão e a saúde lado a lado.
Segundo o médico pediatra Antonio Carlos Turner, diretor da rede de clínicas Total Kids, evitar o excesso é fundamental. “O consumo em grande quantidade de chocolate pode levar a desconforto abdominal, diarreia e, a longo prazo, obesidade e diabetes. A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) recomenda evitar qualquer tipo de açúcar nos primeiros 2 anos de vida. Após essa idade, o consumo deve ser limitado a 25g por dia, com um máximo de 50g diários. É importante ressaltar que, antes dos 2 anos, os órgãos da criança ainda não estão preparados para metabolizar o açúcar, o que pode causar sérios problemas de saúde”, observa.
Na coluna dessa semana, conversamos com especialistas que vão falar um pouco mais sobre essa delícia que agrada pessoas de todas as idades, mas que deve, sim, ser consumida com moderação.
O chocolate ideal
Embora as crianças, normalmente, gostem de chocolates mais doces, muitas estão começando a se acostumar desde cedo com o paladar dos mais amargos. Mas, afinal, existe um chocolate mais saudável para consumir nesta época? Segundo a médica nutróloga Fernanda Vasconcelos, fundadora do Instituto Qualitté, os chocolates com maior teor de cacau (acima de 50%) são as melhores escolhas. “Eles contêm mais antioxidantes, que fazem bem para o coração, ajudam a reduzir a inflamação sistêmica e ainda melhoram o humor. Sempre leia os rótulos e escolha chocolates com menos açúcar, menos ingredientes artificiais e mais cacau”, recomenda.
A nutricionista Gloria Maria Guizellini, professora do curso de Nutrição da Universidade Santo Amaro (Unisa), dá dicas de como escolher os chocolates. “Opte por chocolates em que o licor de cacau e a massa de cacau sejam os primeiros ingredientes, e que a manteiga de cacau seja a principal fonte de gordura. Chocolates com maior teor de cacau são mais saudáveis, pois contêm mais antioxidantes e compostos benéficos para a saúde”, pontua a professora.
É preciso ficar de olho não apenas nos encontrados em mercados, mas também nos chocolates artesanais, já eles são produzidos a partir de chocolates industriais, mas moldados e recheados em ambientes domésticos ou pequenas lojas. A qualidade do recheio e dos ingredientes pode variar. Por isso, a professora sugere escolher chocolates pela lista de ingredientes e pela preferência pessoal, garantindo satisfação com o consumo. “Na embalagem do chocolate, devemos observar a lista de ingredientes, buscando produtos com menor número de ingredientes e com derivados de cacau como os primeiros ingredientes. Evitar chocolates em que o açúcar e a gordura hidrogenada sejam os primeiros ingredientes é essencial para uma escolha mais saudável”, conclui a nutricionista.
Os perigos do excesso
Se evitar o consumo de chocolates e ovos não é possível, controlar a quantidade certamente é. Afinal, o consumo excessivo de chocolate nesta época pode trazer impactos à saúde infantil.
O endocrinologista pediátrico Miguel Liberato alerta que embora a celebração seja repleta de momentos afetivos e simbólicos, o exagero nos doces é um importante fator que vem aumentando os casos de obesidade entre os pequenos — um problema que segue crescendo em escala global. “É uma data muito esperada pelas crianças, mas precisamos lembrar que o chocolate, especialmente o branco, é altamente calórico e rico em açúcar e gordura. O excesso pode causar não só ganho de peso, mas também favorecer o surgimento de doenças metabólicas, como hipertensão e diabetes tipo 2”, explica.
Dados recentes da Organização Mundial da Saúde (OMS) reforçam a preocupação. Em apenas uma década, o número de crianças e adolescentes entre cinco e 19 anos com obesidade aumentou dez vezes no mundo. No Brasil, as projeções apontam que, até 2035, metade das crianças e adolescentes pode estar acima do peso ideal. “A obesidade infantil é um fator de risco para a vida adulta. Cerca de 50% dos adolescentes com obesidade permanecerão obesos quando adultos, o que aumenta a chance de desenvolver doenças crônicas não transmissíveis”, destaca o médico.
Para ajudar as famílias a manterem o equilíbrio durante o feriado, Liberato sugere que os pais repensem a forma de presentear. “O tamanho do ovo não mede o carinho que temos pela criança. Um presente menor, mas com o tipo de chocolate que ela gosta ou um personagem especial, pode ser tão significativo quanto os maiores”, diz o especialista. Além disso, o consumo diário deve ser moderado (cerca de 20 gramas de chocolate ao dia, preferencialmente sem recheio, pode ser uma quantidade segura) e os com maior teor de cacau, como os amargos ou com 70% de cacau, possuem menos açúcar e gordura, sendo opções melhores para quem deseja equilibrar sabor e saúde.
O médico sugere, ainda, que os pais e responsáveis conversem previamente com familiares, como avós e tios, para evitar que a criança receba uma grande quantidade de ovos. “É comum que a criança ganhe muitos presentes, mas esse excesso pode ser evitado com diálogo. Assim, conseguimos reduzir a oferta exagerada do alimento em casa”, pontua. Outra sugestão é que, caso a criança receba muitos ovos, os pais proponham o compartilhamento ou o congelamento dos doces, para que sejam consumidos aos poucos. E mais: ele recomenda que o chocolate seja oferecido após as refeições principais ou nos lanches, e não durante o uso de telas. “Comer enquanto assiste TV ou mexe no celular pode fazer com que a criança perca a noção da quantidade consumida e acabe exagerando sem perceber”, avalia Miguel.
Dentes merecem atenção no período
Se os coelhinhos da Páscoa são lindinhos com aqueles dentões branquinhos, o mesmo não se pode dizer se eles tivesse cáries e não fossem bem tratados. Brincadeiras à parte, a higiene bucal devido ao alto consumo de doces nessa época merece cuidado dobrado.
Para Diana Fernandes, que é cirurgiã-dentista, embora o chocolate faça parte das comemorações, é preciso consumi-lo com moderação e manter uma rotina rigorosa de higiene. “O açúcar presente nos doces serve de alimento para bactérias que vivem na boca. Elas metabolizam esse açúcar e produzem ácidos que corroem o esmalte dos dentes, favorecendo a formação de cáries”, explica a especialista. E, assim como os outros especialistas, ela ressalta que nem todos os chocolates são iguais. “O chocolate amargo é menos prejudicial porque tem menor teor de açúcar e mais cacau, que possui propriedades antioxidantes”, aponta.
Vale lembrar que, além das cáries, o excesso de chocolate pode causar gengivite, mau hálito, acúmulo de placa bacteriana e até perda dentária em casos mais graves – segundo a Organização Mundial da Saúde, a quantidade segura de açúcar por dia não deve ultrapassar 25 gramas, o equivalente a uma colher de sopa cheia.
Mas como evitar o consumo é praticamente inevitável, depois de comer chocolate, Diana recomenda algumas atitudes imediatas, como enxaguar a boca com água, escovar os dentes com creme dental com flúor e usar fio dental para retirar os resíduos entre os dentes. Além disso, ela sugere que os doces sejam consumidos logo após uma refeição principal, como o almoço, e não ao longo do dia. “A saliva fica ácida toda vez que comemos e, combinada com o açúcar, cria o ambiente perfeito para a formação de colônias de bactérias”, explica.
Adultos também precisam de moderação
Durante o ano, moderação é a palavra-chave na alimentação não apenas das crianças, mas dos adultos também e, inclusive, é importante lembrar que as escolhas dos pais influenciam diretamente nos hábitos das crianças.
A nutricionista Fernanda Esquitino é direta: aproveite o feriado e coma o doce que você mais gosta. “Sempre digo: se há um chocolate que você ama – mesmo aquele mais ‘trash’ –, separe um pedaço e coma com prazer no Domingo de Páscoa. Depois disso, encerre o expediente e volte ao chocolate 70% todos os dias”, aconselha.
Para quem prefere manter o hábito da barra ou do ovo de Páscoa, vale ficar de olho nas composições. “Nem todo mundo quer ou precisa emagrecer. Também há quem prefira comer menos, mas investir em um chocolate que realmente goste. E tudo bem! O importante é saber o que está consumindo.
Ela explica, ainda, que o chocolate branco, por exemplo, contém pouco cacau e, portanto, não possui tanto os benefícios antioxidantes. Já o ao leite tem algum cacau, mas muito açúcar. O meio amargo e o amargo, por sua vez, trazem menos dulçor e muito mais vantagens nutricionais. “Quanto mais cacau, mais antioxidante e anti-inflamatório”, resume.
Já para quem vive com alguma condição específica – como diabetes, intolerâncias ou segue um estilo de vida vegano –, é possível adaptar. Se houver margem para consumir um pouco de açúcar, Esquitino recomenda optar pelo chocolate 70% cacau. Se não, a escolha deve recair sobre as versões adoçadas com stévia. “Não indico chocolates diet ou light, especialmente os que usam adoçantes como sucralose ou acessulfame-K, que não são boas opções”, alerta.
Direto ao ponto
O chocolate é o principal protagonista da Páscoa e é possível, sim, aproveitar, mas sem exagerar. A seguir, a médica nutróloga Fernanda Vasconcelos esclarece as principais dúvidas sobre o consumo consciente de chocolate, e traz dicas para aproveitar o feriado sem culpa.
Aventuras Maternas – Chocolate realmente engorda?
Fernanda Vasconcelos – Sim, mas isso depende da quantidade consumida e do tipo escolhido. Chocolates ao leite têm mais açúcar e gordura, além de lactose, e podem contribuir para ganho de peso e desajustes no intestino e metabolismo se consumidos em excesso. O ideal é escolher chocolates meio amargos e amargos, com maior teor de cacau, menos açúcar e mais antioxidantes. Em pequenas porções diárias, entre 20 a 30 gramas, eles podem ser consumidos sem culpa e sem prejuízo à saúde. Isso aumenta a proporção de bactérias boas como a Akkermansia mucininphila, que protege a barreira intestinal, e com isso, previne doenças metabólicas e reduz a inflamação intestinal.
Aventuras Maternas – Como consumir chocolate sem exagerar na Páscoa?
Fernanda Vasconcelos – O segredo é equilibrar o consumo. Uma dica é evitar comer chocolate em jejum. Prefira consumir o chocolate após as refeições principais, como almoço ou jantar, porque além de você já estar saciado, isso também reduz a velocidade de absorção do açúcar no sangue, melhorando toda a dinâmica metabólica ao longo do dia.
Aventuras Maternas – Há truques para tornar o chocolate mais saudável?
Fernanda Vasconcelos – Sim, combinar chocolate com frutas pode ajudar na saciedade e melhorar a qualidade nutricional. Comer chocolate junto com frutas como morango, uvas, maçã ou banana aumenta o consumo de fibras e diminui o desejo e . Além disso, castanhas ou sementes também ajudam a equilibrar o índice glicêmico e proporcionam saciedade.
Aventuras Maternas – O que pode acontecer se houver exagero?
Fernanda Vasconcelos – Exagerar no consumo pode trazer efeitos negativos imediatos, como distensão abdominal, empachamento, dor de cabeça, desconforto, excesso de gases, alterações no sono, ganho rápido de peso e frustração. Excesso de açúcar e gordura em curto prazo pode sobrecarregar o organismo e piorar sintomas como fadiga e alterações de humor. Por isso, é importante consumir chocolates com moderação.
Aventuras Maternas – Quando procurar ajuda médica?
Fernanda Vasconcelos – Se após a Páscoa surgirem sintomas frequentes como dores de cabeça, cansaço excessivo ou ganho repentino de peso, é ideal buscar orientação médica. Muitas vezes, pequenos ajustes na alimentação e na suplementação já bastam para equilibrar o organismo e melhorar o bem-estar rapidamente.
Em tempo: nem só de chocolate é feita a Páscoa. Para Antonio Carlos Turner, é possível, sim, comemorar a data com alternativas divertidas e saudáveis. “É interessante considerar opções de presentes, tanto para as crianças menores quanto para as maiores, como coelhos de pelúcia, livros interativos e jogos educativos”, diz. Além disso, os pais devem lembrar às crianças que o consumo de chocolate deve ser reservado às ocasiões especiais, como a Páscoa, e não ao dia a dia. O pediatra faz, ainda, um alerta importante: cuidado com os brindes que vem junto com o ovo de chocolate, pois nem todo brinquedo é adequado para todas as idades. “Verifique sempre o selo do Inmetro e a faixa etária recomendada na embalagem. Vale frisar também que a presença dos pais é fundamental no momento de abrir o ovo, garantindo a segurança e a alegria da criança”, conclui.