A digital influencer Virgínia Fonseca revelou sua segunda gestação no início de março. Mãe de Maria Alice, de 9 meses, chama atenção a pequena distância de idade entre os dois bebês, o que em geral é uma das dúvidas entre as mães que querem tentar o segundo filho: engravidar logo para terem idades próximas e crescerem juntos, ou esperar o crescimento do mais velho para viver cada etapa de uma vez?
De forma geral, cada gravidez é única, seja de uma mulher para outra ou até mesmo em relação à mesma mulher. Exatamente por isso, é difícil prever como será cada nova gestação. No entanto, alguns medos são bastante comuns. Segundo a psicóloga Rosangela Sampaio, um dos mais recorrentes entre as mulheres que estão grávidas do segundo filho é em relação à traumas vividos na primeira gestação.
“Quando a mulher teve alguma complicação na primeira gravidez, como parto prematuro, pressão alta, pré-eclâmpsia, diabetes gestacional, restrição de crescimento fetal ou depressão pós-parto, é muito comum que sinta medo de suas gestações posteriores”, diz.
Além disso, lembra ela, a expectativa sobre o cansaço que será vivido também gera muita angústia. “Muitas dizem que se sentem mais cansadas durante as gestações subsequentes do que na primeira e depois que o filho nasce. E isso não é uma surpresa, pois, com mais crianças em casa, a mãe terá menos tempo para tudo, especialmente descansar”, lembra a psicóloga, que ainda faz um alerta importante: ao se sentirem inseguras ou com medo, estejam grávidas ou com o bebê já nascido, essas mulheres devem procurar apoio de uma terapia.
Em muitos casos, o estigma associado à saúde mental materna impede as mulheres de procurarem essa amparo terapêutico, pois muitas têm vergonha do que os outros vão pensar. “Frases como ‘este é o momento mais feliz da sua vida’ ou ‘agora você tem dois (ou mais) motivos para ser feliz’, entre outras, criam um conceito de que aquela mulher não pode reclamar ou ter inseguranças. E aí ela acaba se isolando e não pedindo ajuda”, pontua.
EXPERIÊNCIAS PARTICULARES
Por não sermos iguais, cada experiência e percepções em relação à chegada do segundo filho são diferentes. Algumas terão em mente que um problema que tenha acontecido com o primeiro possa se repetir no segundo, outras se preocupam que a renda familiar não será suficiente ou que nunca mais vão conseguir dormir uma noite inteira de sono. E, sim, isso é normal. E para mostrar que medos e inseguranças são comuns – e tudo bem a gente se sentir assim -, conversamos com algumas mães com mais de um filho para saber quais eram suas preocupações. Confira!
SERÁ QUE VOU CONSEGUIR DORMIR DE NOVO?
Bruna Ferreira Ferrão, mãe de Pedro e Laura, de 10 e 8 anos, conta que sua primeira gravidez foi mega planejada, inclusive porque o casal demorou seis anos para conseguir engravidar. Já a gestação da Laura, porém, não foi planejada. Apesar de querer ter mais filhos, Bruna alega que não era o momento ideal. “E um dos motivos de não querer engravidar naquela época era a preocupação que eu tinha com relação ao sono do bebê. Pedro nunca dormiu uma noite inteira. Inclusive, ainda hoje, só dorme com medicação – ele foi diagnosticado com apneia do sono quando tinha por volta de seis anos e fez uma cirurgia para tentar melhorar o problema em 2018, que até melhorou, mas longe de ser um sono maravilhoso.
Ao engravidar da minha filha, só conseguia pensar que teria duas crianças com insônia. Então, eu só chorava”, conta.
Até perguntei ao médico de família (aqui no Canadá não é um obstetra que acompanha a gravidez, mas o médico que atende a todos da minha casa) e ele disse que não teria como prever, que não tinha muito o que fazer além de rezar por um bebê mais ‘sonolento’. E eu sabia que não ia aguentar, pois se já era muito difícil com um, imagine com dois. Mas a Laura nasceu e depois de uns dois ou três meses ela dormia a noite toda. Com ela foi totalmente diferente, pois dormia em média 14h consecutivas , independentemente da hora que fosse para a cama. Literalmente, o bebê dos sonhos”.
SERÁ QUE AINDA TEREI EMPREGO?
Quando Beatriz e o marido se mudaram para o Canadá, em 2010, ela conta que sempre sonhou em trabalhar no Children´s Hospital, em Calgary, o que realmente conseguiu. Algum tempo depois, Pedro chegou e, junto com o bebê, todo o sufoco de não conseguir dormir.
“Com o tempo, conseguimos nos ajeitar com esse problema dentro do possível e então abriu a vaga que eu realmente queria. Apesar de ser temporária, de um ano somente, poderia ser estendida e era a minha chance. Então, veio a gravidez da Laura”, relembra.
Apesar da alegria pela nova gestação não planejada, algo não saia da cabeça da brasileira: e o meu emprego? “Eu nunca pensei em abrir mão da minha carreira, mas é impossível não pensar nessa possibilidade. Mas fui efetivada na vaga e tive minha licença maternidade sem afetar em nada o meu trabalho. Por aqui, inclusive, a licença é de um ano. Quando minha filha completou essa idade, voltei ao meu posto, onde estou até hoje.”
SERÁ QUE VOU DAR CONTA DE DOIS?
Fabiane Barbosa, mãe de Francisco e Elis, de 7 e 2 anos, conta que, ao receber a notícia de sua segunda gravidez, teve duas preocupações: como iria reorganizar a rotina para estar disponível para uma bebê, uma vez que o Francisco já estava numa fase super independente, e de onde tiraria dinheiro para pagar mais um colégio.
“A sensação era a de voltar uma casa no jogo e ter que readaptar tudo. Afinal, além da atenção que os dois demandariam, as duas crianças estariam em fases diferentes e com necessidades bem distintas”, lembra.
Por fim, ela acabou optando por não se estressar, e ficou observando como as pessoas ao seu redor administravam dois ou mais filhos. “Me inspirei muito em uma ex-chefe que tem três filhos. Conversava muito com ela e com outras pessoas, e fui me enxergando nessa realidade. Meu mantra era: Não adianta se desesperar, tem que observar, planejar, agir e aceitar que vamos errar muito”, ressata.
Hoje, dois anos após a chegada da Elis, Fabiane diz conseguir administrar sua rotina da melhor forma possível. “Tenho uma rede de apoio que posso contar e me dou ao direito de reclamar, de me sentir cansada e tudo bem”, observa. Quanto aos gastos, esses continuam sendo uma preocupação. “Embora eu seja muito organizada financeiramente e tenha um emprego com bons benefícios, como reembolso temporário, ainda me desespero com algo que possa surgir, pois não dá pra fazer dinheiro de uma hora pra outra. Colégio, plano de saúde e outras despesas já são contabilizadas, mas a gente nunca sabe o que pode acontecer no futuro”, diz.
SERÁ QUE DEVERIA MESMO TER MUDADO DE OBSTETRA?
A questão do parto da segunda filha também foi algo importante para Fabiane. “Tive o Francisco com um médico que não fez um parto exatamente como eu esperava. Cesárea, rapidez e mais tudo que ouvimos por aí o tempo todo em relatos de mães insatisfeitas com a forma que seus filhos vieram ao mundo”, conta. Assim, foi um caminho natural voltar a procurar esse mesmo médico quando engravidou de Elis.
“Mas a ideia de ter minha filha de outra forma, da maneira que sempre sonhei e que já queria ter feito com o meu primeiro filho, não saia da minha mente”, lembra.
Na 39ª semana de gestação, Fabiane optou por mudar de obstetra. Mesmo com pouquíssimo tempo de atendimento, o novo profissional a ajudou a planejar o parto do jeito que queria. “Foi super positivo e me fez enxergar que tudo tinha uma solução e que daria tudo certo. Elis nasceu de forma natural, em um ambiente acolhedor, com profissionais que estavam ali comigo de verdade. Foi demorado, exaustivo, tenso, mas extremamente feliz.
SERÁ QUE VOU AMAR DO MESMO JEITO?
Isabella Santos, mãe do Guilherme e Samuel, de 5 e 2 anos, conta que teve medo de não amar o caçula do mesmo jeito que amava o primogênito. “Parece doido, mas era um medo real. Chorava só de pensar que eu não amaria meu filho. Eu achava tão surreal o meu amor pelo Gui, que eu nunca imaginei que poderia amar outra pessoa da mesma forma. E por isso achava muito injusto ter outro filho”, ressalta. Para ajudar, Guilher sempre foi uma criança que demandou muita atenção por conta de algumas necessidades médicas, de acompanhamentos e terapias.
“E me perguntava como eu encaixaria outro filho nessa nossa rotina estabelecida. Externava essa questão demais com o meu marido, mas tinha muito medo de falar com outras pessoas e me taxarem de doida. Então, quando o Samuel chegou, estava tudo muito fora do lugar na minha cabeça. O medo de não amá-lo da mesma forma, de não dar conta, de deixar o Gui sem atenção”, lembra.
Ela reconhece que, realmente, os primeiros dois meses do Samuel foram muito difíceis, mas havia um fator que ela já contava: o amor. “Eu chorava demais por achar que meu primeiro filho estava se sentindo de lado. Mas com o tempo tudo foi entrando no lugar e o amor literalmente se multiplicou”, diz.
SERÁ QUE VAI SER TÃO TRANQUILO QUANTO O PRIMEIRO?
Marcela Vasconcelos Coutinho Magalhães, mãe de Luísa e Ricardo, de 12 e 7 anos, lembra que sua primeira filha foi uma criança tranquila, que dormia e mamava bem, além de quase não ter cólicas. Seu grande medo era que o segundo fosse um bebê mais difícil – e foi exatamente o que aconteceu! Ele dormia mal, mamava e dormia pouco, apesar da mãe repetir exatamente o mesmo ritual que fazia com a primogênita.
“Isso me fez enxergar que, quando o assunto é bebê, tudo é muito imprevisível. Não tem esse de ter uma gestação seguida da outra porque é mais fácil passar por tudo de uma vez só, ou de esperar 5, 6 anos pra engravidar novamente como eu fiz. Sempre vai ser como se fosse o primeiro”, avalia.
Ela ressalta ainda que a criança será um serzinho totalmente novo e que, mesmo com toda a sua experiência, você vai ser ver errando outra vez, em detalhes bobos. “Mas o mais importante: sempre na intenção de ser a melhor mãe do mundo. Outra vez”, diz.
SERÁ QUE VAI SE SENTIR MENOS AMADO?
Renata Maia, mãe de Mariana e Rafaela, de 7 e 4 anos, conta que, quando descobriu a segunda gravidez, seu maior medo era que a filha mais velha se sentisse menos amada. Com isso, muitas pessoas davam conselhos de como deveria agir na situação. E isso foi causando uma sensação de culpa por fazer a primogênita passar por tudo isso.
“Cheguei a ter um sentimento de injustiça, pensando que não seria justo com uma menina tão carinhosa e amada ter que passar por essa situação e dividir tudo isso com outra criança. Essa culpa foi aumentando quando o fim da gestação se aproximava”, lembra.
Enquanto isso, as pessoas a seu redor tentavam minimizar esse sentimento, mas Renata queria entender as sensações. “Chorei muitas vezes olhando para ela brincando com a gente, pensando que seriam os últimos momentos de filha única. Meu esposo me acolhia e confortava, com a certeza que somente eu sabia o que estava passando. Eu tive essa sensação até o final”, diz.
Inexplicavelmente, conta Renta, toda essa insegurança passou no primeiro dia que Mari encontrou a irmã caçula: “Através de uma mágica e conexão incrível, o meu sentimento de “divisão” do amor se multiplicou. E eu cheguei até a me esquecer que senti isso algum dia. Até hoje não consigo explicar. Mas o fato é que por mais clichê que pareça, o amor de mãe nunca se divide. Ele se soma, multiplica e transborda.”
SERÁ QUE VOU SOFRER COMO NO PRIMEIRO PARTO?
Elisa Zaghen, mãe de Beatriz e Daniel, de 6 e 2 anos relembra que seu principal medo na segunda gestação era o de não ter um parto mais humanizado. No nascimento do primogênito, apesar de parto normal, teve o comando da obstetra, que fez uma episiotomia (uma incisão efetuada na região do períneo para ampliar o canal de parto). “Me senti rendida e totalmente incapaz de parir, pois tive que obedecer tudo o que ela determinava. Na época, eu conhecia pouco o meu corpo e minhas vontades, apesar de ter lido muito sobre o assunto”, explica.
“Então, no segundo, mudei de médica e tive um protagonismo muito maior, com um parto natural sem intervenções. Me preparei e fiz fisioterapia obstétrica e foi quase o parto dos sonhos também. Digo quase porque sempre idealizamos muito antes de acontecer, e nunca será perfeito da mesma forma, mas foi realmente incrível”, avalia.
SERÁ QUE TERÁ ALGUM PROBLEMA?
Por ter passado por questões de abuso moral no decorrer da gravidez, Elisa confessa que teve medo do caçula nascer com algum problema. “Passei por abuso moral todos os dias da gravidez, pois tinha um chefe homem extremamente machista, que queria que eu fosse embora logo da equipe porque estava grávida. Ele queria me colocar como incapaz o tempo todo”, explica.
Ela trabalhou até um dia antes do parto, mas acabou sendo demitida depois – justamente com o chefe abusivo – supostamente devido a pandemia e perda de clientes. “Nada foi feito em relação a isso e teve momentos que chorei muito na frente de todos e fiquei extremamente tensa, triste, nervosa e acuada. Tive muito medo que o meu bebê nascesse estressado, triste ou sobressaltado. Mas ele chegou tranquilo e saudável”, comemora.
E SE EU MORRER, SERÁ QUE ELES VÃO FICAR SOZINHOS?
Carolina Serra, mãe de Isabella e Matheus, de 7 e 2 anos, avalia que o primeiro medo que todas as mães sentem é o de morrer e deixar os filhos. “E quando falo do medo é sobre acontecer algo inesperado na hora do parto, especificamente. Toda cirurgia tem um risco e, no meu caso, que foi a cesárea, havia o receio de ter hemorragias, convulsão, pressão subir, entre outras questões”, lembra.
“Na minha primeira gestação, eu não tinha uma noção real do que era uma cirurgia (anestesia, corte, fechamento do corte etc), mas na segunda já sabia como seria. Então, uma insegurança maior tomou conta de mim. Mães sempre pensam no pior, não sei porque exatamente, mas pensamos”, diz.
SERÁ QUE ELES VÃO SE DAR BEM ENTRE SI?
Ana Catarina Portugal, mãe de Ana Sofia e Ana Clara, de 7 e 4 anos, conta que teve diversas questões enquanto estava grávida, entre elas o clássico dilema se conseguiria amar o segundo filho como amava o primeiro, a preocupação financeira e, ainda, em ter que passar por tudo de novo (parto, noites sem dormir, desfralde…).
“Mas minha maior preocupação era em relação a relação delas duas. Minha primeira filha foi cercada de muito amor, era uma paixão louca por ela e, por um tempo, eu me sentia quase como uma traidora se tivesse outro filho e me dividisse entre eles”, diz.
Mas, apesar de tudo isso, queria muita que a filha tivesse um irmão. “Tanto eu quanto o pai temos irmãos e queríamos que ela tivesse essa experiência também. Hoje, olhando as duas juntas, tão amigas, tenho a certeza de que fiz a escolha certa e percebi que por mais clichê clichê que possa parecer, há amor para todos os filhos”, diz.
*PRISCILA CORREIA é jornalista, especializada no segmento materno-infantil. Entusiasta do empreendedorismo materno e da parentalidade positiva, é criadora do Aventuras Maternas, com conteúdo sobre educação infantil, responsabilidade social, saúde na infância, entre outros temas. Instagram:@aventurasmaternas