A Catedral de Notre-Dame, em Paris, reabriu ao público neste sábado (7) após mais de cinco anos de restauração. Em abril de 2019, um incêndio atingiu o monumento histórico. A reabertura contou cerimônia especial que contou com a presença de líderes mundiais.
Entre os chefes de estado, estavam o presidente francês, Emmanuel Macron, o presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, e o príncipe britânico William. Artesões que participaram diretamente no projeto também estiveram presentes e foram homenageados.
Como foi a reconstrução da Catedral de Notre-Dame?
A reforma da custou Catedral de Notre-Dame em torno de 700 milhões de euros (cerca de R$ 4,5 bilhões) e foi totalmente financiada por doações. Ao todo, mais de 250 empresas e mais de 2 mil profissionais trabalharam na reconstrução.
A restauração não apenas recuperou a estrutura danificada, mas também utilizou técnicas históricas que recriaram, com precisão, elementos originais do cartão-postal francês. Entre os destaques, estão o uso de ferramentas medievais, a reconstrução do telhado conhecido como “floresta”.
Profissionais de diferentes países participaram do processo. Entre eles, estavam duas brasileiras: Luciana Lemes e Juliana Rodrighiero, que contribuíram com a restauração do templo. A segunda foi a única brasileira na equipe de pintura mural e decorativa, de maioria francesa.
Ferramentas medievais e reconstrução fiel
Um dos aspectos mais marcantes da reconstrução foi o uso de ferramentas e técnicas medievais para recuperar a estrutura original. A estrutura de vigas de carvalho do telhado, conhecida como “floresta”, foi refeita com métodos utilizados no século XIII, a fim de mantê-la próxima da original.
Empresas especializadas produziram cerca de 60 machados idênticos aos da Idade Média, com base em estudos históricos detalhados, permitindo que as vigas fossem cortadas e montadas com precaução extrema.
A montagem seguiu o modelo medieval, sem pregos ou parafusos atuais, utilizando apenas grandes pinos de madeira para unir as vigas. Segundo o Ofício Nacional de Florestas, os dois mil carvalhos usados para recriar a estrutura medieval do telhado foram extraídos de florestas francesas sustentáveis.
À BBC News Brasil, Loïc Desmonts, carpinteiro e proprietário do Ateliers Desmonts, empresa que realizou a estrutura de madeira, classificou a procura pelas ávores como a parte mais complexa: “São necessários carvalhos específicos, que devem ser finos, alongados e retos”, ressalta. Os mais jovens, afirma, tinham 80 anos e, os mais antigos, 150 anos.
Descobertas e desafios durante a obra
A restauração também trouxe à luz novos elementos históricos. Durante as obras, arqueólogos encontraram vestígios romanos e medievais, além de fragmentos de esculturas e sepulturas. Esses achados reforçaram a importância histórica da Catedral de Notre-Dame e ampliaram o conhecimento sobre a construção original.
Entre os desafios enfrentados, a contaminação por chumbo se destaca. O material resultante do incêndio, embora não tenha comprometido a estrutura, contaminou boa parte do local. Por isso, eram necessários protocolos rigorosos de segurança.
Em entrevista à Rádio França Internacional (RFI), Rodrighiero afirmou que todos os colaboradores trocaram de roupa ao entrar e sair da área contaminada. Além disso, eles tomavam até três banhos obrigatórios por dia. As medidas visavam eliminar qualquer resíduo tóxico.
Participação brasileira na restauração da Catedral de Notre-Dame
Juliana Rodrighiero, natural de Pelotas (RS), trabalhou na restauração de pinturas murais decorativas em capelas como a Porte Rouge e a Saint-Germain, além de colaborar na restauração de móveis da sacristia.
A gaúcha iniciou os trabalhos na Notre-Dame em março de 2023 e permaneceu até setembro de 2024. Ela é formada Memória Social e Patrimônio Cultural pela UFPel e conquistou uma cotutela internacional, que lhe garantiu dupla diplomação em Memória Social e Antropologia.
Na mesma entrevista, Rodrighiero destacou dois momentos emocionantes com a catedral: “Acompanhei o incêndio ainda no Brasil, com o temor de nunca conhecer Notre-Dame. Entrar na capela pela primeira vez e vê-la danificada foi uma experiência emotiva, misturando orgulho e responsabilidade. O segundo momento foi a retirada dos andaimes, que revelou o resultado completo do trabalho, mostrando a beleza das capelas restauradas com suas cores vibrantes e ornamentos originais. Foi emocionante ver nosso esforço reconhecido pelas pessoas que visitaram o local durante o processo”.
Já a organeira Luciana Lemes integrou a equipe de restauração e afinação do órgão de Notre-Dame, construído pelo francês Aristide Cavaillé-Coll (1811-1899). A brasileira atuou na restauração e afinação do instrumento, cinco teclados e 8 mil tubos em 115 conjuntos.
“Pensei no quanto minha trajetória foi difícil, mas, ao mesmo tempo, senti uma imensa honra por estar ali. Foi especialmente significativo para mim, pois venho de Lorena [interior de São Paulo], onde existe um órgão menor construído pelo mesmo artesão responsável pelo órgão de Notre-Dame”.
Leia mais
- Por que São Paulo é considerada a cidade mais diversa do Brasil?
- Você já viu um trem “voando” por cima de prédios? Essa cidade desafia a gravidade!
- Conheça a cidade na Noruega onde é proibido morrer!