Com o uso cada vez mais frequente do WhatsApp no ambiente corporativo, cresce também a dúvida: mensagens enviadas fora do expediente podem ser consideradas trabalho? A resposta é sim – e, dependendo do caso, podem até gerar o direito a horas extras ou um processo judicial.
“A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) garante que o tempo em que o empregado permanece à disposição do empregador pode ser considerado jornada, ainda que fora do expediente. Além disso, a Constituição Federal assegura o direito ao descanso, lazer e convívio social, valores que não podem ser invadidos pelo trabalho”, explica a advogada trabalhista Suéllen Paulino.
Quando mensagens configuram hora extra
De acordo com a especialista, o impacto depende do tipo de mensagem e da expectativa de resposta:
- Mensagens diretas do chefe: quando exigem retorno imediato ou a execução de tarefas, podem caracterizar tempo de trabalho.
- Mensagens em grupos corporativos: também podem gerar obrigações se o funcionário precisar acompanhar discussões, tomar decisões ou agir a partir do conteúdo. “Mesmo que não haja ordem expressa, a pressão psicológica de ter de estar disponível já vem sendo considerada pela Justiça”, pontua Suéllen.
Whatsapp pode gerar hora extra. Foto: FreePik
Ela lembra que a Justiça do Trabalho tem reconhecido casos em que o uso do WhatsApp fora do expediente era rotineiro e exigido pela empresa. “Um exemplo ocorreu em Limeira (SP), onde uma funcionária comprovou que precisava responder constantemente ao aplicativo fora do horário. O Tribunal Superior do Trabalho (TST) também já condenou empresas por cobrança de metas via WhatsApp, entendendo que isso extrapola os limites do poder empregatício.”
Direitos e deveres
Segundo Suéllen, se o trabalhador é acionado com frequência fora do horário, isso pode ser entendido como hora extra, com reflexos no pagamento de férias, 13º salário e FGTS.
“As empresas que não controlam essa prática podem ser condenadas ao pagamento de horas extras e até a indenizações por dano moral ou dano existencial, quando a invasão de tempo afeta a vida pessoal do empregado”, diz a advogada.
A seguir, ela recomenda algumas medidas para o funcionário se proteger:
- Guardar provas: salvar prints ou conversas que indiquem cobrança fora do expediente.
- Anotar a rotina: registrar os horários e o tempo gasto com cada demanda.
- Comunicar formalmente: avisar o RH ou o gestor sobre o impacto das mensagens no descanso.
- Verificar normas internas: conferir contrato, regulamento da empresa ou convenção coletiva.
- Buscar apoio jurídico ou sindical: em caso de persistência, procurar orientação para avaliar medidas legais.
Resumo:
Mensagens corporativas no WhatsApp fora do expediente podem, sim, ser consideradas tempo de trabalho. De acordo com a advogada Suéllen Paulino, cabe ao empregado registrar provas e agir de forma preventiva, enquanto as empresas devem adotar políticas que preservem o descanso do trabalhador.
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