A síndrome de Down no mercado de trabalho é um tema que, aos poucos, vem ganhando mais atenção. No entanto, ainda existe muita desinformação e resistência, tanto por parte das empresas quanto da sociedade. Para que uma verdadeira inclusão no mercado de trabalho aconteça, é fundamental ir além da simples contratação para cumprir cotas ou gerar uma imagem de “boas ações corporativas”. Entenda como a capacitação e o respeito pelas potencialidades individuais são elementos-chave dessa jornada.
A verdadeira capacitação é o primeiro passo para a inclusão no mercado de trabalho
Luciana Lancerotti, ex-CMO da Microsoft e fundadora da Gestão e Design de Impacto, compartilha sua experiência sobre como o trabalho prático é fundamental para lidar com a síndrome de Down no ambiente corporativo. Durante sua trajetória, Luciana foi responsável por promover a inclusão de jovens com essa condição em diversos eventos da Microsoft. Ela destaca: “A melhor forma de aprender é convivendo. Não basta apenas incluir de maneira superficial, é preciso oferecer uma capacitação de verdade para que a pessoa tenha condições de se desenvolver e contribuir com o time.”
O exemplo de Luciana é claro: a inclusão no mercado de trabalho deve começar com a capacitação real, em que o indivíduo é preparado e reconhecido por suas competências, não apenas por sua condição. Não estamos falando de caridade, mas de garantir que as pessoas com síndrome de Down tenham as mesmas oportunidades de aprendizado e crescimento que qualquer outro profissional.
O potencial das pessoas com síndrome de Down: valorização e respeito
Sandra Reis, idealizadora do projeto Galera do Click, que capacita fotógrafos com síndrome de Down, complementa: “A verdadeira inclusão começa com o reconhecimento do potencial da pessoa com síndrome de Down. Cada indivíduo tem seu próprio ritmo de aprendizado e deve ser tratado com respeito, valorizando suas habilidades.” Para Sandra, é essencial enxergar a pessoa como ela realmente é, sem romantizar ou mascarar suas limitações. O foco está na capacitação genuína, garantindo que as habilidades adquiridas sejam aproveitadas de forma eficaz no mercado de trabalho.
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Muitas vezes, as empresas contratam para cumprir cotas, mas sem se preocupar com a capacitação real do colaborador. Isso pode resultar em um ambiente de trabalho desigual, onde a pessoa não tem as mesmas oportunidades de aprendizado e crescimento. A verdadeira inclusão no mercado de trabalho ocorre quando a pessoa está devidamente preparada para exercer as funções para as quais foi contratada, e não quando apenas “preenche uma lacuna”.
A barreira da desinformação
A maior barreira para a inclusão no mercado de trabalho é, muitas vezes, a desinformação. Ao longo de sua trajetória, Sandra percebeu a importância de enfrentar a falta de conhecimento da sociedade sobre o que é capaz uma pessoa com deficiência. Ela conta: “Fui contratada para dar um curso de fotografia, e me disseram que eu deveria ensinar como fotografar pessoas com síndrome de Down. Questionei essa abordagem, pois fotografar alguém com síndrome de Down não é diferente de fotografar qualquer outra pessoa. Não há um segredo ou técnica exclusiva para esse tipo de fotografia.”
Esse tipo de desinformação pode levar as empresas a tratar pessoas com deficiência como “exceções” ou “cases especiais”, o que não contribui para uma verdadeira inclusão no mercado de trabalho. Ao aprender sobre as necessidades de cada pessoa e adaptar o ambiente de trabalho, as empresas podem promover um espaço mais democrático e profissional.
Como criar um ambiente de inclusão?
Para que a inclusão no mercado de trabalho seja efetiva, as empresas precisam criar um ambiente de aprendizado contínuo. Isso inclui treinamento adequado, apoio no desenvolvimento das competências de cada indivíduo e o reconhecimento de suas habilidades e talentos. Sandra relembra o exemplo de seu próprio filho, Felippe, que tem síndrome de Down. A história de Felippe, o primeiro judoca com síndrome de Down a conquistar a faixa preta no Estado de São Paulo, é um exemplo inspirador. Isso porque ele teve a oportunidade de demonstrar suas habilidades, sem ser tratado como uma exceção.
Sandra compartilhou ainda o caso de seu filho, que trabalhou na rede de varejo Drogasil por sete anos, mas não teve a chance de aprender novas habilidades ou evoluir profissionalmente. Segundo ela, ao sair da empresa, ele recebeu apenas R$ 1.800 de acerto. Ela acredita que essa situação é um reflexo da falta de valorização das pessoas com deficiência no mercado de trabalho.
Capacitação, respeito e reconhecimento
A verdadeira inclusão no mercado de trabalho exige que as empresas se comprometam com a capacitação contínua e com o reconhecimento das competências de seus funcionários. Para Luciana, a chave para um ambiente mais inclusivo é garantir que todos os funcionários tenham as mesmas chances de crescer e se desenvolver. “A inclusão começa com o reconhecimento do potencial da pessoa, e isso só é possível quando ela recebe a capacitação adequada”, diz a especialista.
Muitas pessoas com deficiência enfrentam barreiras impostas por suas próprias famílias, que duvidam de sua capacidade de aprender e ser autônomos. Como Sandra bem disse, “a inclusão começa em casa”, com o apoio familiar e a crença no potencial do indivíduo.
Em suma, o tema exige uma abordagem que vá além do cumprimento de cotas. As pessoas com síndrome de Down são profissionais capazes, mas precisam das mesmas oportunidades de capacitação, respeito e reconhecimento que qualquer outro trabalhador. Para que a verdadeira inclusão no mercado de trabalho aconteça, é essencial que as empresas e a sociedade como um todo estejam dispostas a aprender, a se adaptar e a oferecer condições reais de desenvolvimento para todos, sem exceção.
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