A partir de abril de 2025, Tóquio dará um grande passo na reestruturação do seu modelo de trabalho. A capital japonesa implementará a jornada de trabalho de 4 dias para seus cerca de 160 mil funcionários públicos. Com isso, ela se torna a primeira grande cidade global a adotar essa medida de forma oficial.
Esse movimento é uma tentativa de repensar a relação dos japoneses com o trabalho. Em busca de mais equilíbrio entre a vida profissional e pessoal, especialmente para as mulheres, que costumam enfrentar grandes desafios ao equilibrar carreira e responsabilidades familiares, a medida se torna uma alternativa positiva.
Quarta é a nova sexta em Tóquio
A governadora de Tóquio, Yuriko Koike, ressaltou a importância de criar ambientes de trabalho mais flexíveis, especialmente para as mulheres. Ela afirmou que a reforma visa permitir que as funcionárias não precisem abrir mão de suas carreiras por causa de desafios como o cuidado com os filhos.
Uma das grandes novidades dessa reforma será a “licença parcial para assistência à infância”. Ela permitirá que os funcionários reduzam suas horas de trabalho em até duas horas por dia. Além disso, o sistema de horário flexível, que já existia, será adaptado para permitir que os trabalhadores tirem até três dias de folga por semana, o que facilitará a implementação da semana de trabalho de 4 dias.
O objetivo do governo é melhorar o equilíbrio entre vida pessoal e profissional e, ao mesmo tempo, estimular o aumento da taxa de natalidade do país, que está em queda nos últimos anos. Em um cenário onde a população idosa já representa quase um terço dos habitantes, especialistas apontam o excesso de trabalho como um dos motivos pelos quais as pessoas deixam de formar famílias.
Jornada de trabalho de 4 dias já é realidade em outras partes do mundo
As reformas no estilo de trabalho no Japão acompanham uma tendência crescente. Conheça alguns dos países que já implementaram ou estão testando a jornada de 4 dias com sucesso.
Bélgica
Na Bélgica, a legislação permite que os trabalhadores cumpram sua carga horária em apenas quatro dias, estendendo as horas de trabalho diárias para 10 horas, mas sem perder o pagamento integral. Essa abordagem busca equilibrar flexibilidade com alta produtividade.
Islândia
Entre 2015 e 2019, a Islândia realizou testes que mostraram que a redução das horas de trabalho trouxe benefícios para o bem-estar e a produtividade dos funcionários. Esses resultados positivos levaram à adoção da jornada de 4 dias em diversos setores do país.
Emirados Árabes Unidos
Em julho de 2023, os Emirados Árabes Unidos implementaram a semana de trabalho de 4 dias para a maioria dos funcionários públicos. A iniciativa foi muito bem recebida, sendo vista como um avanço em direção a um melhor equilíbrio entre a vida profissional e pessoal.
Holanda
Embora a Holanda não tenha uma política formal de semana de trabalho de 4 dias, a cultura local valoriza o trabalho de meio período e horários flexíveis. Assim, muitos funcionários já desfrutem de semanas de trabalho mais curtas.
Espanha
A Espanha tem realizado um teste com 200 empresas, apoiado pelo governo, para analisar como a redução das horas de trabalho pode aumentar tanto a produtividade quanto a satisfação dos funcionários. Essa experiência de três anos reflete o crescente interesse por práticas de trabalho mais sustentáveis.
E o Brasil?
O Brasil também se inseriu nesse contexto com um projeto piloto realizado este ano, que trouxe resultados positivos tanto para as empresas quanto para os funcionários.
O projeto piloto da jornada de 4 dias foi desenvolvido pela “4 Day Week Brazil”, em parceria com a “4 Day Week Global”, uma organização sem fins lucrativos dedicada à pesquisa sobre modelos de trabalho ao redor do mundo. A iniciativa global teve início em 2019, na Nova Zelândia, e ganhou ainda mais força durante a pandemia da Covid-19.
Já no Brasil, 22 empresas e cerca de 280 colaboradores participaram do piloto, embora uma das empresas tenha desistido do projeto após apenas um mês.
Após três meses de testes, a Fundação Getúlio Vargas (FGV), em parceria com o Boston College, realizou uma pesquisa para avaliar o impacto dessa nova jornada de trabalho. O levantamento revelou que 61,5% das empresas perceberam avanços na execução de projetos, e 58,5% notaram maior criatividade na realização das atividades.
As melhorias também foram visíveis fora do ambiente de trabalho. Cerca de 58% dos funcionários afirmaram que passaram a equilibrar melhor a vida pessoal e profissional depois da adoção do modelo de 4 dias.
Além disso, a pesquisa indicou um aumento de 78% na disposição para o lazer e redução de estresse. Outros dados mostram que 50% dos participantes relataram uma melhora na qualidade do sono. Enquanto isso, 62,7% reduziram o estresse no trabalho e 64,9% não se sentem mais desgastados ao final do dia.
A pesquisa também apontou que 56,5% dos colaboradores não se sentem mais frustrados como antes. Para a conclusão deste primeiro relatório, foram coletadas 205 respostas durante o mês de abril, o que representa 71% dos participantes do piloto.
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