De acordo com o Ministério da Previdência, metade dos trabalhadores brasileiros poderá enfrentar algum tipo de transtorno mental ao longo da carreira. O dado impressiona, mas reflete uma realidade cada vez mais evidente: o impacto do trabalho sobre a saúde mental.
A Associação Nacional de Medicina do Trabalho (ANAMT) aponta que cerca de 30% dos profissionais sofrem com a síndrome de burnout, uma condição marcada pela exaustão física e emocional causada pelo excesso de demandas, pressão constante e falta de pausas adequadas.
Apesar de o tema estar mais presente nas conversas do dia a dia, o estigma ainda persiste. Uma pesquisa da MindMiners (2022) mostra que apenas 36% dos brasileiros se sentem à vontade para falar sobre saúde mental com seus líderes ou com o setor de Recursos Humanos. Isso demonstra o quanto ainda é preciso evoluir na criação de ambientes corporativos mais empáticos e seguros.
Bem-estar no trabalho começa com diálogo e empatia
Para que o bem-estar no trabalho seja de fato uma prioridade, as empresas precisam reconhecer que produtividade e equilíbrio emocional caminham juntos. Quando o colaborador se sente ouvido e valorizado, ele tende a se engajar mais e a entregar resultados com qualidade. Por outro lado, o silêncio sobre o sofrimento emocional leva ao esgotamento, afastamentos e até adoecimentos graves.
Felizmente, cresce o número de organizações que investem em políticas de acolhimento. Muitas já oferecem psicoterapia corporativa, programas de apoio emocional e capacitações sobre saúde mental no ambiente de trabalho. Algumas, inclusive, adotaram medidas simples, mas eficazes, como a desconexão digital fora do expediente, limites para reuniões e dias de folga emocional.
Essas ações mostram que o autocuidado e o respeito aos limites não são privilégios, e sim pilares de uma cultura saudável.
O desafio de romper mitos sobre a saúde mental
Durante décadas, falar sobre emoções no trabalho foi visto como sinal de fraqueza. Essa crença, porém, vem perdendo força. “Romper mitos é abrir espaço para o cuidado verdadeiro. Para construirmos ambientes de trabalho mais humanos, produtivos e sustentáveis, precisamos ter acesso a informações de qualidade e promover espaços de diálogo e escuta ativa. A saúde mental é responsabilidade de todos e começa pela extinção dos estigmas relacionados ao tema”, explica psicóloga e especialista em saúde mental corporativa Fátima Macedo, CEO da Mental Clean.
De acordo com a especialista, um dos equívocos mais comuns é acreditar que apenas quem tem um diagnóstico grave precisa de terapia. “Na verdade, a psicoterapia é um recurso valioso para qualquer pessoa que deseja se conhecer melhor e lidar com os desafios da vida de forma equilibrada”, destaca.
Outro mito recorrente é o de que “problemas emocionais se resolvem com força de vontade”. Fátima explica que transtornos mentais têm causas complexas — biológicas, psicológicas e sociais — e exigem cuidado especializado. Ignorar sintomas por medo de julgamento só agrava o quadro.
E há ainda quem acredite que falar sobre sentimentos no trabalho gera reclamações. Mas, na prática, o efeito é o oposto: o diálogo reduz conflitos, melhora a comunicação e fortalece vínculos. Empresas que promovem conversas francas sobre bem-estar emocional têm maior engajamento, produtividade e retenção de talentos.
Caminhos para promover o bem-estar no trabalho
A boa notícia é que é possível transformar o ambiente corporativo em um espaço de confiança e segurança psicológica. Para isso, é essencial investir em ações contínuas — e não apenas em campanhas pontuais.
- Rodadas de conversa e palestras sobre saúde mental ajudam os colaboradores a perceber que buscar apoio é um ato de coragem, e não de fraqueza.
- Capacitação de líderes e gestores permite identificar sinais de burnout e sofrimento emocional, oferecendo acolhimento adequado.
- Acesso a apoio psicológico, como programas de assistência emocional ou terapia online, amplia o cuidado com a equipe.
- Valorização de pausas e equilíbrio, reconhecendo o descanso como parte essencial da produtividade e do cuidado com a saúde emocional.
Essas práticas simples, quando adotadas com constância, constroem empresas mais humanas e colaborativas. E, aos poucos, o tabu sobre o tema vai se desfazendo, abrindo espaço para uma nova cultura organizacional — uma em que cuidar de si é tão importante quanto alcançar resultados.
Resumo: O avanço das discussões sobre saúde mental no ambiente corporativo mostra que o tema deixou de ser tabu. Romper estigmas e criar espaços de escuta fortalece o bem-estar no trabalho e reduz casos de burnout. Com pequenas mudanças e empatia genuína, é possível construir ambientes mais saudáveis e produtivos.
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