Vale tudo para conseguir uma vaga de emprego? De acordo com uma pesquisa da consultoria DNA Outplacement, 75% dos brasileiros já mentiram no currículo em algum momento da carreira. Embora pareça uma saída para se destacar, essa prática pode custar caro. O Índice de Confiança da Robert Half revela que quase 70% dos recrutadores já eliminaram candidatos por conta de informações falsas.
Além disso, com a tecnologia atual, o risco aumenta. Como alerta Eduardo Freire, CEO e estrategista de inovação da FWK Innovation Design: “A inteligência artificial está ampliando nossa capacidade de criar e de manipular. Com poucos cliques, é possível gerar currículos impecáveis, portfólios ‘perfeitos’ e imagens sintéticas indistinguíveis da realidade”.
“Não é só uma questão tecnológica, é uma questão ética e social. Se por um lado ganhamos agilidade, por outro corremos o risco de perder a confiança. Não basta parecer verdadeiro — é preciso ser. E, nesse novo mundo, a reputação vai valer mais que qualquer validação digital”, complementa o especialista.
O caso de Laysa Peixoto, a astronauta brasileira
Nos últimos dias, Laysa Peixoto, 22 anos, ganhou visibilidade ao afirmar que seria a primeira astronauta brasileira a participar de um voo espacial. Ela dizia ter sido selecionada para integrar uma missão da empresa Titans Space em 2029 e mencionava vínculos com a Nasa, o MIT e a Columbia University em seu currículo no LinkedIn.
No entanto, a própria Nasa negou qualquer relação com Laysa Peixoto, esclarecendo que ela nunca foi funcionária, pesquisadora ou candidata a astronauta. Além disso, o programa L’Space, citado por ela, é um workshop para estudantes, sem vínculo oficial com a agência espacial. Depois da repercussão, Laysa Peixoto retirou o perfil do LinkedIn e se justificou em vídeos nas redes sociais. Contudo, os questionamentos sobre as informações do seu currículo persistem.
Outros nomes famosos que recorreram a mentir no currículo
Embora o caso da astronauta brasileira tenha repercutido bastante, ele está longe de ser isolado. Veja exemplos de outras pessoas que também recorreram a informações falsas:
George Santos — Em 2023, o deputado norte-americano filho de brasileiros foi cassado por corrupção e uso indevido de recursos de campanha. Mas antes mesmo desse escândalo político, ele já havia se envolvido em outra polêmica: durante a campanha eleitoral, admitiu ter mentido sobre a própria trajetória acadêmica e profissional.
Santos alegava ter se formado na Universidade de Nova York e trabalhado em bancos renomados como Goldman Sachs e Citigroup, o que nunca aconteceu. Além disso, afirmava falsamente ter ascendência judaica e que seus avós haviam fugido dos nazistas na Segunda Guerra Mundial.
Joana D’Arc Félix de Souza — A respeitada cientista brasileira, nascida em Franca (SP), sempre inspirou muitas pessoas com sua história de superação. No entanto, em 2019, precisou esclarecer um ponto importante de seu currículo: ela nunca fez pós-doutorado em Harvard, como divulgava em entrevistas e eventos.
Joana reconheceu que nunca obteve o diploma da instituição, embora tenha frequentado o ambiente acadêmico durante um período. A revelação abalou sua reputação, principalmente porque ela se tornou símbolo de superação de pobreza e preconceito racial.
Carlos Alberto Decotelli — Nomeado ministro da Educação em junho de 2020, o economista teve títulos inflados no currículo: doutorado na Argentina, pós-doutorado na Alemanha e professorado na FGV — todos desmentidos pelas instituições. Sob pressão, renunciou cinco dias após o anúncio, antes mesmo de assumir o cargo.
Por que mentir no currículo nunca compensa
Seja no caso da astronauta brasileira ou nos outros exemplos citados, uma lição fica clara: mais cedo ou mais tarde a verdade aparece. As consequências vão muito além de perder uma vaga — a reputação pode ser manchada para sempre. Por isso, a melhor escolha é sempre ser honesto e investir em qualificações reais. Afinal, as empresas valorizam profissionais íntegros, e não histórias criadas para impressionar.
Resumo: Mentir no currículo pode até parecer uma forma de se destacar, mas é um atalho cheio de riscos. Casos como o da astronauta brasileira mostram que a verdade sempre vem à tona e que a reputação vale mais do que qualquer dado inflado. A honestidade é o melhor caminho para conquistar oportunidades reais.
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