Você sabia que suas experiências pessoais podem te ajudar a conquistar uma vaga de trabalho? Elas são sintetizadas nas mad skills, que podem ser traduzidas para habilidades incríveis, e já são avaliadas por recrutadores e empresas na hora da contratação. Mas, informações desse tipo podem ultrapassar o limite entre trabalho e lazer. Entenda!
Na teoria, essas habilidades ajudam a conhecer mais sobre o comportamento de um profissional por meio dos gostos e atividades, características que muitas vezes não se enquadram no hard skills (formação técnica e acadêmica) e no soft skills (habilidades socioemocionais). Entretanto, até que ponto isso pode ser realmente saudável e não atrapalhar na espontaneidade das pessoas?
Para a psicóloga e professora de pós-graduação da PUCPR, Mariana Holanda, a tendência
pode até ter uma teoria interessante, mas a prática é completamente diferente. “Precisamos entender que tentar fazer uma leitura das experiências de vidas vai além de colocar em um currículo seus hobbies. As atividades pessoais revelam bastante sobre a vida de uma pessoa, porém colocar elas como diferencial numa entrevista pode esbarrar no limite entre trabalho e lazer”.
Mariana defende que profissionalizar o hobbie é resultado de uma cultura que tem buscado
a produtividade a qualquer custo: “estamos tão imersos na produtividade que o hobbie virar
uma régua é sim mais um sinal de alerta.”
Em tempos de burnout essa relação pode não ser saudável como defende a especialista. “Se você começar a usar o mad skill como critério de avaliação ou aprovação, você realmente vai ultrapassar o limite”, afirma.
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A IMPORTÂNCIA DOS HOBBIES
A psicóloga explica que o hobby, tem uma função de trazer relaxamento, ser um passatempo, isto é, uma atividade que é praticada por prazer e não por performance ou por objetivo financeiro. Além disso, não é uma ocupação. “Tem que gerar endorfina e fazer aquilo sem nenhum tipo de métrica para consequência”, defende.
Assim, os hobbies são importantes para uma boa qualidade de vida, e automaticamente na melhoria do rendimento pessoal e profissional e, ao serem usados como critério de avaliação, reforçam ainda mais uma sociedade viciada em desempenho, “tirando das pessoas o pouco que resta de leveza, descanso, ócio e liberdade”, explica Mariana.
Outro ponto levantado pela especialista é que muitas pessoas sequer têm tempo real de se
dedicar a essas atividades: “a realidade hoje das pessoas na equação trabalho e descanso é outra e para a maior parte da população brasileira. Ainda estamos falando sobre precarização do trabalho, existem pessoas que gastam horas indo e vindo para o trabalho, em muitos casos também exerce sua atividade profissional no fim de semana.”
Para ela, dessa forma, esse “diferencial” pode se tornar uma autocobrança dentro de um cenário sem recursos para a maioria das pessoas que buscam conquistar uma vaga. O que, de acordo com a especialista, tira a espontaneidade.
Com isso, Mariana identifica que os limites foram ultrapassados. “É possível que muitas pessoas passem a fazer coisas que sejam atrativas aos olhos de quem contrata, mas que na verdade sequer realmente gostam daquilo. Precisamos ficar atentos aos limites que garantem esse espaço de liberdade. Não há dúvidas que precisamos discutir outras coisas mais importantes do que colocar os hobbies como critério de seleção na hora de uma contratação”, finaliza a especialista.
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