Em julho de 2025, a Lei nº 14.611, que trata da igualdade salarial entre mulheres e homens, completou dois anos de vigência. A norma foi criada para reforçar a luta histórica por equidade no mercado de trabalho e prevê que empresas com mais de 100 funcionários divulguem relatórios sobre salários e critérios de remuneração.
Essa iniciativa, coordenada pelos Ministérios do Trabalho e Emprego (MTE) e das Mulheres, busca dar mais transparência às informações e acelerar mudanças necessárias para reduzir a desigualdade. No entanto, apesar da legislação, os números mostram que ainda há um longo caminho a percorrer.
Segundo o 3º Relatório de Transparência Salarial, divulgado em março deste ano, as mulheres brasileiras recebem, em média, 20,9% menos que os homens, mesmo quando ocupam cargos semelhantes. Foram analisados mais de 19 milhões de vínculos empregatícios em todo o país, revelando que a desigualdade persiste em diversas áreas, principalmente nos cargos de liderança.
Desafios na inclusão feminina em cargos de liderança
Um dos principais entraves para alcançar a igualdade salarial é a baixa presença de mulheres em cargos estratégicos. Apenas 31% das empresas brasileiras afirmaram ter políticas para inclusão feminina. Esse número cai ainda mais quando se trata de mulheres negras (25%), chefes de família (19%) ou pertencentes ao grupo LGBTQIA+ (20%).
A ausência de representatividade na alta gestão reforça um ciclo de desigualdade. De acordo com a subsecretária de Estatísticas e Estudos do Trabalho, Paula Montagner, a lei tem o papel fundamental de estimular mudanças estruturais.
“Ainda vemos poucas mulheres em cargos de gerência e direção. A legislação serve para trazer o tema ao debate e pressionar por avanços reais”, explica a especialista.
Além disso, apenas 22,9% das empresas oferecem auxílio-creche, um dado preocupante, já que a falta de suporte para mães trabalhadoras pode limitar suas oportunidades de crescimento na carreira.
Impacto econômico da desigualdade salarial
A desigualdade não afeta apenas as mulheres, mas também a economia do país. O relatório mostra que, se os salários femininos fossem proporcionais à participação delas no mercado de trabalho — que hoje é de 40,6% —, haveria um aumento de R$ 95 bilhões na massa salarial nacional. Esse valor representaria um crescimento de aproximadamente 10% na economia.
Esse dado reforça a importância de políticas efetivas de inclusão e equiparação. Afinal, quando as mulheres têm acesso a salários justos, elas consomem mais, investem em educação e saúde, e contribuem para um ciclo econômico positivo.
O Brasil em comparação com outros países
O Brasil segue uma tendência mundial. Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), globalmente, as mulheres recebem, em média, 20% menos que os homens. Para combater essa disparidade, países como Canadá, Inglaterra, França e Estados Unidos adotaram medidas semelhantes de transparência salarial.
No entanto, especialistas afirmam que, além da divulgação dos dados, é fundamental criar políticas internas nas empresas, como programas de capacitação, incentivo à contratação de mulheres e metas de diversidade, para que a igualdade se torne uma realidade concreta.

Caminhos para um futuro mais igualitário
Apesar dos números desafiadores, há sinais de progresso. O relatório aponta que cresceu o número de empresas em que a diferença salarial não ultrapassa 5%. Esse avanço, mesmo que pequeno, mostra que mudanças são possíveis quando há comprometimento das organizações.
“É preciso investir em ações que garantam oportunidades iguais. Isso passa por treinamentos, mudanças culturais e revisão constante das políticas salariais”, reforça Paula.
Enquanto a igualdade salarial não se torna uma realidade plena, mulheres seguem enfrentando barreiras, mas também conquistando espaços e fortalecendo a luta por um mercado de trabalho mais justo e equilibrado.
Resumo: A Lei da Igualdade Salarial completa dois anos, mas os números mostram que ainda há muito a ser feito. Mulheres continuam ganhando menos que homens, principalmente em cargos de liderança. Especialistas reforçam a importância de políticas inclusivas e transparência para acelerar mudanças no mercado de trabalho.
Leia também:
Taxa de desemprego cai e mercado de trabalho brasileiro alcança recorde histórico