O estágio é, para muitos jovens, o primeiro contato com o mercado de trabalho. No entanto, os números mostram que o acesso a essas vagas ainda é muito restrito. De acordo com a Associação Brasileira de Estágios (Abres), no ensino médio e técnico, apenas 2,61% dos estudantes estagiam, o que corresponde a 264 mil jovens de um total de mais de 10 milhões. Já no ensino superior, o índice sobe para 8,38%, com 836 mil estagiando entre quase 10 milhões de alunos.
Esses dados evidenciam um gargalo que impacta não só a vida dos estudantes, mas também a produtividade e a mobilidade social do país. Afinal, o primeiro emprego é decisivo para o futuro profissional.
Por que o estágio é tão importante
A relevância do estágio vai além de cumprir uma carga horária obrigatória. Ele aproxima teoria e prática, desenvolve competências socioemocionais e técnicas e ajuda o jovem a tomar decisões mais seguras sobre sua carreira. “O estágio é um laboratório seguro para aprender, errar e evoluir. Ele encurta a distância entre sala de aula e empresa e amplia repertório, empregabilidade e autoconhecimento”, explica Amanda Carvalhal, psicóloga especialista em gestão de pessoas.
Ou seja, mais do que um simples requisito acadêmico, o estágio é uma oportunidade de crescimento que pode transformar a trajetória profissional de um estudante.
Dificuldades de acesso às vagas de estágio
Apesar dos benefícios, conseguir um estágio não é tarefa simples. A oferta de vagas costuma ser concentrada em grandes centros urbanos e em setores específicos. Além disso, os processos seletivos são cada vez mais competitivos e exigem habilidades que, muitas vezes, não foram trabalhadas em sala de aula.
Além disso, há outros entraves: “As principais barreiras são a pouca capilaridade de vagas, a ausência de programas regionais e, em alguns casos, bolsas incompatíveis com o custo de vida”, diz Amanda. Para estudantes do ensino médio e técnico, a situação é ainda mais delicada, já que a oferta é extremamente reduzida, afastando milhares de jovens da prática profissional.
Estágio e desigualdade regional
As desigualdades regionais no acesso ao estágio reforçam esse desafio. No Norte, apenas 0,65% dos estudantes de ensino médio e técnico conseguem uma vaga, enquanto no ensino superior o índice é de 2,63%. No Nordeste, a participação chega a 1,16% e 3,00%, respectivamente.
Já no Sul e Sudeste, os números são significativamente melhores: no ensino superior, mais de 11% dos alunos estagiam, índice quase quatro vezes maior que o do Norte e Nordeste.
Essas diferenças mostram que, além de ampliar a quantidade de vagas, é preciso considerar estratégias que diminuam os impactos das desigualdades regionais.
Caminhos para ampliar as oportunidades de estágio
Embora o cenário seja desafiador, há alternativas para mudar essa realidade. Ampliar parcerias entre escolas e empresas, estimular programas de estágio remoto ou híbrido e incentivar projetos com foco em diversidade regional e social são algumas opções.
Outro ponto fundamental é capacitar gestores para atuarem como mentores e vincular as atividades de estágio às competências curriculares. “Quando a empresa enxerga o estágio como investimento, com projeto, metas de aprendizado e feedbacks, a taxa de efetivação e o engajamento disparam”, reforça Amanda. Ou seja, o estágio pode ser muito mais produtivo quando existe acompanhamento e propósito.
Resumo: O estágio é uma etapa fundamental para a formação dos jovens, mas ainda é inacessível para a maioria dos estudantes no Brasil. Ampliar vagas, reduzir desigualdades regionais e enxergar o estágio como investimento são passos essenciais para transformar a vida profissional de milhares de jovens.
Leia também:
Dicas para construir um plano de carreira do zero