Aos poucos, a indústria do entretenimento tem se mostrado mais aberta à diversidade. Porém, quando o assunto é a presença de pessoas com deficiência em palcos, telas e festivais, ainda há um longo caminho pela frente. Embora iniciativas venham surgindo e alguns artistas PCDs já estejam ocupando espaços importantes, a realidade ainda está longe de ser igualitária.
A DJ carioca Karen dos Anjos é uma dessas profissionais que desafia os padrões e abre caminhos. Com paralisia cerebral e sequelas motoras e cognitivas, ela atua como DJ em eventos e festivais, mostrando que talento não tem barreiras. “A indústria do entretenimento, com relação às pessoas com deficiência, ainda é muito pouco, quase zero. Você não vê as pessoas com deficiência na TV, no teatro, no palco, na abertura de um show sendo o artista principal… A gente tem o grande Herbert Vianna, mas essa bandeira precisa ser levantada e é por isso que eu corro atrás”, relata.
Inclusão nas artes ainda é um desafio diário
Karen sabe, na prática, o quanto a inclusão de profissionais com deficiência no meio artístico é um processo lento e repleto de obstáculos. Ainda que existam oportunidades pontuais, muitas vezes os espaços não são acessíveis, os equipamentos não são adaptados e o preconceito segue sendo um impeditivo constante.
“Tem muita gente boa precisando de uma chance, gente talentosa que é PCD e que tá aí tentando mostrar seu trabalho. O espaço existe, mas ainda precisamos quebrar muitas barreiras para que todos possam ocupá-lo de forma igualitária”, afirma.
Mesmo com tantas dificuldades, Karen tem conquistado seu espaço. Para ela, cada apresentação é uma vitória — e uma forma de mostrar ao público e ao mercado que todos devem ter as mesmas oportunidades. “Hoje eu consigo dizer que eu sou uma pessoa com vitória nesse quesito, que eu estou conquistando o meu espaço, sim, mas encontrar outros artistas, você tem que correr atrás, porque a gente continua minúsculo”, desabafa.
Projeto mapeia artistas para fortalecer a inclusão cultural
Pensando em transformar esse cenário, o Ministério da Cultura (MinC) e a Universidade Federal da Bahia (UFBA) lançaram o projeto Mapeamento Acessa Mais. A proposta busca identificar artistas e agentes culturais com deficiência espalhados por todo o Brasil.
Segundo as instituições envolvidas, o objetivo é entender quem são essas pessoas, onde estão atuando e quais são suas principais demandas. A partir disso, será possível criar políticas públicas mais eficazes, que realmente promovam a inclusão e garantam acessibilidade em todas as etapas da produção cultural.

O estudo contempla diferentes expressões artísticas — da cultura popular à literatura, da dança à música, da performance ao teatro. Além disso, a coleta de dados em andamento deve oferecer um retrato mais realista sobre a atuação dos artistas PCDs no país.
A presença de artistas PCDs pode transformar a indústria do entretenimento
O impacto da participação de pessoas com deficiência no setor artístico vai muito além dos palcos. Quando profissionais PCDs aparecem em destaque, seja em um espetáculo, uma exposição ou até mesmo um programa de TV, isso influencia diretamente na forma como a sociedade enxerga a diversidade.
A visibilidade tem o poder de romper estigmas, reduzir o preconceito e abrir portas para novos talentos. Portanto, promover uma cultura mais inclusiva e equitativa também é papel da indústria do entretenimento, que pode — e deve — investir em ações afirmativas e práticas reais de acessibilidade.
“Apesar desse número expressivo, a participação de pessoas com deficiência nas artes ainda é limitada, devido a barreiras como falta de acessibilidade em espaços culturais, escassez de oportunidades e preconceito. Iniciativas como o Mapeamento Acessa Mais são passos importantes para mudar esse cenário e promover uma cultura mais inclusiva e representativa”, conclui Karen.
O talento existe — só falta oportunidade
Enquanto isso, no dia a dia, artistas como Karen continuam levando sua arte adiante. Cada apresentação é também uma forma de resistência e de conscientização. Mesmo diante dos desafios, ela segue determinada: “Ainda há muita dificuldade, mas seguimos lutando para mudar esse cenário porque essa é a minha luta”.

Essa luta, no entanto, não é individual. Ela representa muitos outros profissionais que ainda não tiveram a chance de mostrar seu talento. É preciso, portanto, ampliar o debate, cobrar políticas públicas e transformar a cultura em um espaço de verdadeira inclusão.
Afinal, como lembra Karen, “tem muita gente boa precisando de uma chance”. E talento não deve ser ignorado — principalmente quando pode enriquecer tanto a arte quanto a sociedade como um todo.
Resumo: A DJ Karen dos Anjos é um exemplo de resistência na indústria do entretenimento, lutando diariamente por mais inclusão e oportunidades para artistas com deficiência. Apesar de avanços pontuais, a realidade ainda exige mudanças profundas — e iniciativas como o projeto Acessa Mais são fundamentais nesse caminho. A transformação começa quando damos visibilidade ao talento de quem sempre foi invisibilizado.
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