O Dia Mundial do Autismo é um momento essencial para refletirmos sobre os desafios enfrentados pelas pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) e a necessidade de promovermos a inclusão em diferentes âmbitos da sociedade, especialmente no mercado de trabalho. No Brasil, cerca de 2% da população está dentro do espectro, mas o número pode ser ainda maior devido à subnotificação e à dificuldade no diagnóstico.
Muitas pessoas com TEA enfrentam dificuldades na interação social, o que pode gerar desafios no ambiente profissional. Sensibilidade a barulho, dificuldade em compreender ironias e preferências por rotinas bem definidas são algumas das características que podem impactar a adaptação no trabalho. Apesar dos avanços na conscientização, ainda há estigmas e barreiras que dificultam a inclusão no mercado de trabalho.
Estratégias para melhorar a inclusão no mercado de trabalho
Para garantir uma inclusão no mercado de trabalho mais justa e eficiente, é essencial que tanto as empresas quanto os candidatos adotem estratégias que favoreçam a adaptação. Ser transparente sobre a condição durante a entrevista pode ser um diferencial, pois permite que a empresa compreenda melhor as necessidades do profissional e ofereça suporte adequado. Algumas pessoas preferem mencionar a condição no início do processo seletivo, enquanto outras optam por esperar até que tenham demonstrado suas habilidades e qualificações.
A legislação brasileira classifica o autismo dentro da categoria de deficiência, permitindo que pessoas com TEA concorram a vagas destinadas a Pessoas com Deficiência (PCDs). Essa política pode abrir portas para profissionais qualificados que, muitas vezes, enfrentam dificuldades para encontrar oportunidades no mercado tradicional. No entanto, muitas empresas ainda relatam dificuldades para preencher essas vagas, seja por desconhecimento ou pela falta de adaptação no recrutamento.
Como as empresas podem tornar o ambiente mais acessível
A responsabilidade pela inclusão no mercado de trabalho não deve recair apenas sobre os candidatos. As empresas precisam adotar medidas que tornem o ambiente corporativo mais acessível e acolhedor para todos os profissionais. Compreender as necessidades individuais é o primeiro passo para criar um espaço de trabalho mais inclusivo.
Uma das principais recomendações para gestores e recrutadores é ouvir os próprios profissionais sobre suas dificuldades e habilidades. Algumas pessoas com TEA possuem alto nível de concentração e habilidades técnicas excepcionais, o que pode ser um grande diferencial para determinadas funções. Ajustes simples, como oferecer espaços mais silenciosos ou flexibilizar a comunicação, podem melhorar significativamente a experiência desses trabalhadores.
Além disso, é importante que as adaptações sejam feitas de acordo com as reais necessidades do funcionário, evitando medidas genéricas que podem não trazer benefícios concretos. Criar ambientes mais acessíveis não precisa ser um processo caro ou complexo. Muitas vezes, mudanças simples na forma de comunicação e na estrutura organizacional já fazem uma grande diferença.
Os desafios ainda existentes
Apesar dos direitos garantidos, a inclusão ainda está longe de ser uma realidade para muitos profissionais autistas. Um engenheiro de computação, que preferiu não se identificar, compartilhou sua experiência com a AnaMaria: “Autismo ainda é visto como frescura. Não se faz nenhuma adaptação para profissionais autistas, não se busca entender seus pontos fortes e fracos”.
Ele relata que muitas empresas apenas cumprem a cota obrigatória de PCDs sem promover um ambiente realmente inclusivo. “Minha esposa, que também é autista, foi demitida por motivos injustos, ligados às dificuldades do autismo. Eu mesmo pedi demissão porque o ambiente era tão tóxico que não consegui permanecer”, desabafa. Hoje, ele optou por seguir carreira acadêmica e busca estabilidade em concursos públicos, onde percebe um ambiente mais adequado para suas necessidades.
Ferramentas e recursos para auxiliar a inclusão
Para ajudar na busca por oportunidades, existem iniciativas especializadas, como a Specialisterne, que atua como mediadora entre empresas e candidatos autistas. No Brasil, algumas instituições de ensino, como o Senac, também oferecem cursos adaptados para pessoas com TEA. Já no exterior, plataformas como o Autism Speaks disponibilizam dicas sobre como elaborar currículos e se preparar para entrevistas.
O caminho para uma inclusão no mercado de trabalho mais justa e acessível ainda é longo, mas avanços estão acontecendo. Por isso, é fundamental que tanto empresas quanto candidatos se informem, dialoguem e busquem soluções que garantam um ambiente de trabalho mais justo para todos.
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