A história de Larissa Salvador começa no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, e segue por caminhos que, à primeira vista, pareciam improváveis. Aos 11 anos, ela deixou o país com a família em busca de novas oportunidades nos Estados Unidos. Contudo, sem orientação sobre leis migratórias, perderam o status legal e viveram por uma década sob medo e incertezas.
Ainda assim, Larissa manteve os estudos e, aos 16 anos, tomou a decisão que guiaria todo o seu futuro. “Queria ser advogada de imigração para evitar que outras famílias passassem pelas dificuldades que vivi”, afirmou. Essa escolha, segundo ela, nasceu de um sentimento muito mais profundo do que ambição profissional: era sobre pertencimento, justiça e dignidade.
Com o tempo, sua vivência como parte dos imigrantes brasileiros irregulares se transformou em combustível para estudar, se especializar e, finalmente, conquistar espaço em um mercado historicamente competitivo. Como ela mesma diz, seu passado se tornou “o mapa que faltava” para orientar outras pessoas que tentavam reconstruir a vida longe de casa.
Como o empreendedorismo feminino mudou seu destino nos EUA
Aos 35 anos e mais de duas décadas vivendo fora do Brasil, Larissa consolidou um dos escritórios mais respeitados da Flórida, o Salvador Law, localizado em Boca Raton. Mas o caminho até faturar mais de US$ 1 milhão por ano não teve atalhos.
Larissa conta que a virada aconteceu quando percebeu que sua própria história era também seu diferencial. Ao invés de esconder o período em que viveu ilegalmente, ela passou a usá-lo como ponto de conexão com clientes. “Muitos brasileiros não sabem como funciona o processo de imigração, e meu trabalho é mostrar que existe solução, porque um dia isso fez diferença na minha vida”, explicou.
Essa visão estratégica, somada ao senso de responsabilidade que a acompanha desde jovem, reforça sua atuação no empreendedorismo feminino — um movimento que, para ela, exige coragem para ocupar espaços que antes pareciam proibidos. Além disso, Larissa se tornou referência ao liderar uma equipe diversa, formada por profissionais que entendem tanto o aspecto legal quanto o emocional dos processos migratórios.

A força da liderança negra em um mercado competitivo
Em um setor dominado por homens brancos e por estruturas tradicionais, Larissa tornou-se um nome de destaque. Essa conquista, porém, vai além do currículo robusto ou dos clientes famosos, que incluem Whindersson Nunes, Dinho Ouro Preto, Sorriso Maroto e Anavitória.
Sua trajetória representa o avanço da liderança negra em espaços historicamente fechados — e isso faz diferença na forma como ela atua. Por ter enfrentado obstáculos econômicos, culturais e sociais, Larissa desenvolveu uma sensibilidade rara para orientar imigrantes brasileiros que chegam aos Estados Unidos sem saber por onde começar.
A CEO do Salvador Law afirma que esses desafios moldaram sua prática profissional. Para ela, cada caso é uma oportunidade de oferecer não apenas um serviço, mas também segurança emocional às famílias que enfrentam as mesmas incertezas vividas por ela no passado.
Atuação com imigrantes brasileiros e construção de uma equipe especializada
A Salvador Law cresceu porque Larissa percebeu que a dor do imigrante — especialmente do brasileiro — vai muito além de documentos. Por isso, criou uma equipe apta a orientar sobre vistos de trabalho, estudo, turismo e regularização de status.
O escritório também atua na defesa de pessoas em risco de deportação e em processos de asilo, áreas que exigem conhecimento técnico e sensibilidade. Essa abordagem humanizada ganhou reconhecimento e rendeu prêmios relevantes, como o Top 40 Under 40 da National Black Lawyers Association e o título de Personalidade Feminina do Ano pelo International Business Institute.
Retorno às origens e novos passos do empreendedorismo feminino
Em maio, Larissa deu um passo simbólico e estratégico: inaugurou a primeira unidade da Salvador Law no Brasil, no Rio de Janeiro, em parceria com o escritório Bernardo Brandão & Bahia Advogados. O investimento inicial foi de R$ 770 mil, com previsão de atender pelo menos 150 processos personalizados no primeiro ano.
A demanda crescente por vistos qualificados — como EB-2 NIW, EB-5, O-1 e L-1 — impulsiona a expansão. Já há planos de abrir unidades em Brasília, Porto Alegre e Recife.
Para Larissa, no entanto, esse retorno tem um significado pessoal maior. “Voltar ao Brasil como advogada e empreendedora representa a melhor forma de retribuir tudo o que conquistei”, disse.
É, ao mesmo tempo, a síntese da menina do Alemão e da mulher que, hoje, inspira outras brasileiras a acreditarem que suas histórias também merecem atravessar fronteiras.
Resumo: Larissa Salvador saiu do Complexo do Alemão ainda criança, viveu anos de incerteza nos EUA e transformou sua própria vivência em ferramenta de trabalho. Hoje, lidera um escritório renomado, fortalece o empreendedorismo feminino e se torna referência para imigrantes brasileiros. Sua trajetória mostra como resiliência, estratégia e identidade podem abrir portas — literalmente — em outros países.
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