Tem gente que carrega o mundo nas costas sem muito mimimi, abusa da capacidade de levantar e sacudir a poeira e faz de um limão uma limonada. Geralmente são aqueles que escutam em velório ou diante de uma doença grave: “você é forte, vai superar”. E as pessoas fortes ficam ali, isoladas em uma fortaleza que nem sempre é real, invisíveis, enquanto veem o outro lavar as mãos e ir embora.
Mas quem deixa os fortes falando sozinhos faz isso mais para se esquivar de oferecer ajuda e menos pela convicção de que o suposto super-herói vai dar conta de tudo. E a desculpa politicamente correta será na linha do “ele sabe o que faz”.
Existe uma injustiça grotesca com os fortes: enquanto os fracos são amparados e poupados, os fortes são sobrecarregados e cobrados porque, afinal, aguentam. Ninguém conta com um fraco na hora em que a bomba estoura, acreditando-se que ele não dá conta nem de resolver a própria vida. Já o forte sofrerá com o acúmulo de tarefas: é o bombeiro de plantão, incumbido de apagar incêndios, os seus e os da vizinhança.
Por aparentar confiança, discernimento e serenidade, o forte vai ser escalado para estar à frente da solução de problemas que não são os dele para, no máximo, ouvir no final da conversa: “mas e você? Está bem?”. Com um sorriso compreensivo, ele vai assentir, sabendo que é isso que esperam como resposta.
FRAQUEZAS CALADAS
Mas ninguém é forte o tempo todo por mais que tente. Pode-se até tirar de letra uma perda financeira, se refazer depois de um casamento malsucedido para, em seguida, tropeçar feio ao se deparar com o desamparo de um outro projeto frustrado.
Aquele rosto plácido frente a uma crise, aquele alicerce em forma de gente onde nos seguramos sempre que a ventania chega forte e aquela voz que mantém o timbre suave pode calar gritos aterrorizantes.
O rótulo de pessoa forte vira estigma: de tanto escutar que resistem, acabam se imbuindo da responsabilidade de corresponder às expectativas e o fardo vai ficando cada vez mais pesado, além de uma caminhada mais solitária. Porque, muitas vezes, não se ficou forte por opção, mas por uma questão de sobrevivência, invejando veladamente quem pôde se dar ao luxo de transbordar insegurança por todos os poros.
Fortes requerem abraços demorados e ouvidos verdadeiramente atentos como todo mundo. Fortes almejam por palavras que até sabem de cor, mas que, algumas vezes, precisam ouvir por outras vozes. Muitos desses fortes, de almas tristes, devem ser mansamente conduzidos para, de vez em quando, baixarem a guarda e chorarem por todas as fraquezas que, mesmo essa gente forte, leva no peito.
*WAL REIS é jornalista, profissional de comunicação corporativa e escreve sobre comportamento e coisas da vida. Blog: walreisemoutraspalavras.com.br