Você tem um medo irracional de ficar sem o seu aparelho celular? Pois saiba que pode estar sofrendo de nomofobia, atualmente considerada uma doença física e psicoemocional pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Pode parecer besteira, mas muita gente já apresenta os sintomas e não imagina o diagnóstico do problema, apelidado de “o mal do século.” E o problema parece ser geral. Segundo um levantamento feito pela Electronics Hub, os brasileiros passam, em média, 16 horas acordados. Dessas, gastamos aproximadamente 9 horas olhando a tela do celular ou computador.
“É claro que, se falarmos em trabalho, quando ficamos diretamente no computador e produzindo, não parece tão exaustivo, visto que esse número representa 57% do nosso tempo total diário. O que acontece em nossa rotina, contudo, é a prática de deixarmos de produzir positivamente, para nos intoxicar com o uso das redes sociais”, avalia o psicanalista Edson de Paula, que também é escritor e palestrante motivacional. “Além de tirar o foco, quando não controlado, esse hábito nos vicia, sem que percebamos nitidamente.”
O profissional, que está acostumado a ministrar treinamentos em empresas, ressalta que este é, inclusive, um grande desafio no mundo dos negócios atualmente: detectar até que ponto os colaboradores de uma empresa estão utilizando as redes sociais de maneira saudável ou não. “Eu sempre digo que a tecnologia propicia muitas conveniências, encurta distâncias, diminui processos e agiliza resultados. Em contrapartida, falando em tendências comportamentais, as pessoas tendem a ficarem mais acomodadas, distraídas e, principalmente, desfocadas diante de tanta facilidade”, detalha.
Ainda, segundo o levantamento da empresa especializada, o uso de celulares cresceu 45% em território nacional entre os anos de 2019 e 2021, sendo que o Brasil ficou em segundo lugar no ranking mundial, atrás apenas da África do Sul, em tempo de utilização do aparelho. De acordo com Edson, a nomofobia não se manifesta somente pela ausência do celular em si.
“A pessoa começa a ficar dependente das interações sociais a todo momento, criando um medo de ficar incomunicável, perdendo as falsas reações de recompensa que curtidas e comentários provocam em nossa mente”, avalia Edson. Existem relatos que esse transtorno começou a ser notado em 2008 por profissionais de saúde, que notaram quadros de ansiedade e depressão na falta do equipamento, ao término do pacote de dados e até sobre a preocupação que as pessoas têm em ficar sem bateria carregada.
ALERTA AOS SINTOMAS
Já no aspecto social, a mestre em Psicologia Clínica Fabiana Di Carla, que mantém atendimento clínico em São Paulo há mais de 24 anos, diz que os danos são tão nocivos quanto no âmbito corporativo. Ela notou, inclusive, uma mudança comportamental dos pacientes, principalmente após a pandemia, indicando que todos estejam alerta aos sintomas.
“Isso porque, de modo geral, a dependência digital ou o uso excessivo do celular pode causar vício e, consequentemente, estar relacionada a quadros depressivos, onde a pessoa busca a tecnologia como forma de escape da própria realidade, para se distrair de uma situação de sofrimento ou até mesmo como forma de validação social”, avalia.
Por outro lado, segundo ela, muitas pessoas que desenvolvem quadros depressivos, de ansiedade ou misto, justamente pela dependência do uso do celular, apresentando sintomas específicos, como:
- Isolamento social;
- Baixa autoestima, por estar constantemente em comparação com os outros nas redes sociais;
- Sentimentos de inadequação;
- Vazio emocional, dentre outros problemas.
“Tanto uma situação como a outra afetam aspectos importantes que regulam nossa saúde mental como o sono adequado, interações sociais e atividade física”, lembra a especialista. De forma geral, uma pessoa que sofre com nomofobia pode apresentar como sintomas:
- Suor excessivo;
- Ansiedade;
- Dificuldade em desligar o aparelho celular;
- Necessidade de estar o tempo todo atento a notificações do celular;
- Irritação quando há perda de sinal de internet ou falta de bateria;
- Além de palpitações.
Por fim, Fabiana Di Carla enumera 6 dicas para que você possa se prevenir e não fazer parte das estatísticas alarmantes:
- Estabeleça um tempo limite do uso de celular para ver suas redes sociais como mensagens, por exemplo, e em que momento do dia fará isso. Mas coloque na agenda e siga com disciplina;
- Tente minimizar o uso, principalmente ao acordar e antes de dormir, para dar tempo de ligar e desligar a mente. Ou seja, para que você tenha consciência da sua presença desde o despertar, organizando a mente e corpo e se preparando para as atividades do seu dia, assim como tendo menos estímulos antes de dormir;
- Pratique autocontrole: sempre quando tiver muita vontade de acessar o celular, fazer uma pequena pausa, de segundos, se questionando da real necessidade de verificar mensagens ou as redes. Avalie se isso realmente é relevante ou urgente naquele momento;
- Use o celular com intenção e evite a navegação sem objetivo;
- Dê preferência para cultivar relações sociais presenciais. Com isso, desenvolva suas habilidades sociais na prática;
- Faça uma autoanálise em como se sente e que emoções te produzem com o uso do celular, reveja os conteúdos que você pesquisa/acessa e verifique se eles realmente lhe fazem bem. Não hesite em pedir ajuda quando perceber que se encontra em dificuldades para encontrar o equilíbrio.
*RENATA RODE é escritora nata, desde os 11 anos (idade em que escreveu seu primeiro livro). Repórter, jornalista formada e curiosa, é também autora de livros sobre comportamento e ghost writer. Já foi repórter de celebridades na Record TV, colunista especial do UOL e aqui, na Revista AnaMaria vai falar sobre assuntos pertinentes ao Universo Feminino, sempre com um toque de irreverência.
Instagram: @renata.escritora