O uso de cigarros convencionais e vapes (cigarros eletrônicos) tem se tornado uma preocupação crescente no campo da saúde bucal. Esses hábitos estão diretamente associados a uma série de problemas orais, que vão desde o escurecimento dos dentes até infecções severas. Manchas persistentes e amarelamento dos dentes são comuns tanto em fumantes quanto em usuários de vape, comprometendo a estética do sorriso.
Além disso, a fumaça e os compostos químicos inalados podem reduzir a produção de saliva, levando à boca seca, o que, por sua vez, aumenta o risco de cáries e infecções. Outro problema sério é a dificuldade de cicatrização em usuários de nicotina, que pode complicar procedimentos odontológicos e prolongar o tempo de recuperação. Esses efeitos combinados ressaltam a necessidade de uma conscientização maior sobre os riscos orais associados ao uso dessas substâncias.
Para entender melhor o que o uso de vape causa nos dentes, AnaMaria conversou com a cirurgiã-dentista Beatriz Bussab, pós-graduada em prótese dentária pela ABO (Associação Brasileira de Odontologia).
O que é vape?
O vape, ou cigarro eletrônico, é um dispositivo eletrônico que simula o ato de fumar, aquecendo um líquido que, ao ser vaporizado, é inalado pelo usuário. Ao contrário dos cigarros convencionais, que queimam tabaco para produzir fumaça, os vapes funcionam a partir do aquecimento de um líquido, conhecido como e-liquid ou juice, que geralmente contém nicotina, propilenoglicol, glicerina vegetal, e aromas variados. Esse vapor, diferente da fumaça de cigarro, não contém alcatrão, monóxido de carbono ou muitas das outras substâncias tóxicas presentes no tabaco queimado.
O líquido utilizado nos vapes pode variar em composição, permitindo uma gama de sabores que vai desde frutas e doces até sabores mais tradicionais de tabaco. Essa variedade, aliada à percepção de que o vape é uma alternativa menos prejudicial ao cigarro convencional, tem atraído muitos usuários, especialmente entre os jovens. No entanto, embora o vape seja frequentemente promovido como uma alternativa “mais segura”, ele ainda apresenta riscos significativos à saúde, especialmente por causa da presença de nicotina, que é altamente viciante.
Além disso, estudos recentes indicam que o uso de vapes pode estar associado a uma série de problemas de saúde, incluindo doenças respiratórias e cardiovasculares. A popularização do vape, muitas vezes visto como uma “moda” entre adolescentes e jovens adultos, levanta preocupações sobre o impacto a longo prazo desse hábito, tanto para a saúde geral quanto para a saúde bucal.
O que o uso de vape causa nos dentes?
O uso de vape, assim como o cigarro convencional, pode causar diversos problemas nos dentes e na saúde bucal como um todo. Abaixo, a cirurgiã-dentista Beatriz Bussab lista e explica alguns dos principais impactos que esses dispositivos podem ter na estética e saúde dos dentes:
- Manchas nos dentes: o vape, assim como o cigarro convencional, contém nicotina, uma substância que se adere facilmente ao esmalte dos dentes. Com o tempo, essa exposição constante à nicotina pode levar ao desenvolvimento de manchas amareladas ou marrons nos dentes, comprometendo a estética do sorriso. Essas manchas podem ser difíceis de remover com a escovação regular, exigindo tratamentos profissionais para clareamento dental;
- Escurecimento dos dentes: além das manchas, o uso contínuo do vape pode levar ao escurecimento generalizado dos dentes. A exposição prolongada aos compostos químicos presentes nos líquidos de cigarro eletrônico pode resultar em uma pigmentação mais profunda do esmalte dental, tornando os dentes mais escuros e menos brilhantes. Esse escurecimento é muitas vezes irreversível sem intervenção profissional, o que pode impactar significativamente a aparência do sorriso;
- Problemas na salivação: o vape pode interferir na produção de saliva, essencial para a manutenção da saúde bucal. A produção inadequada de saliva, conhecida como xerostomia ou boca seca, aumenta o risco de cáries, doenças gengivais e infecções orais. Embora o impacto do cigarro eletrônico na produção de saliva seja menos intenso do que o do cigarro convencional, muitos usuários relatam sensação de boca seca, especialmente quando usam líquidos com alta concentração de propilenoglicol, um dos componentes comuns nos e-liquids;
- Problemas na cicatrização: o fumo, seja de cigarro convencional ou vape, pode prejudicar a circulação sanguínea e o suprimento de oxigênio nos tecidos orais. Isso resulta em uma cicatrização mais lenta após procedimentos dentários, como extrações, implantes ou tratamentos de gengiva. Além disso, a capacidade de regeneração dos tecidos orais fica comprometida, aumentando o risco de complicações pós-operatórias, como infecções e falhas em implantes dentários;
- Infecções: o uso prolongado do vape pode comprometer o sistema imunológico da boca, facilitando o desenvolvimento de infecções orais, como gengivite e periodontite, que são doenças inflamatórias das gengivas e dos tecidos de sustentação dos dentes. Além disso, a boca seca provocada pelo uso do cigarro eletrônico pode criar um ambiente propício para infecções fúngicas, como a candidíase, que se manifesta com manchas brancas ou vermelhas dolorosas na mucosa oral;
- Outros problemas: o fumo está associado a uma série de outros problemas bucais, incluindo um risco aumentado de câncer oral, mau hálito persistente (halitose) e problemas periodontais graves. Estes últimos afetam diretamente os tecidos que sustentam os dentes, podendo levar à perda dentária se não forem tratados adequadamente. Além disso, o uso de vape pode mascarar sinais precoces de doenças bucais, retardando o diagnóstico e tratamento, o que pode agravar a condição.
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