O uso de testosterona entre mulheres tem crescido, impulsionado por promessas de mais energia, rejuvenescimento, emagrecimento e aumento de massa muscular. No entanto, três das principais entidades médicas do país divulgaram uma nota de alerta sobre os riscos e limitações desse tipo de tratamento.
A Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO), em conjunto com a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) e o Departamento de Cardiologia da Mulher da Sociedade Brasileira de Cardiologia (DCM – SBC), esclarecem que não há respaldo científico para o uso de testosterona em mulheres saudáveis com esses objetivos. “Só há indicação médica respaldada por evidências para prescrição de testosterona em situações muito específicas, como o tratamento do transtorno do desejo sexual hipoativo em mulheres na pós-menopausa e, mesmo assim, somente depois de avaliarmos e descartarmos outras causas para essa condição”, explica a presidente da FEBRASGO, Maria Celeste Osorio Wender.
Quando o uso é realmente necessário?
Segundo as diretrizes nacionais e internacionais, a testosterona só deve ser prescrita a mulheres após a menopausa, e apenas no caso de diagnóstico de transtorno do desejo sexual hipoativo – uma condição caracterizada pela perda persistente de interesse por sexo que causa sofrimento à mulher.
Antes de considerar essa prescrição, o médico deve investigar e descartar outras possíveis causas da perda de libido, como alterações hormonais (principalmente a queda do estrogênio), efeitos colaterais de medicamentos, depressão, conflitos no relacionamento e questões emocionais.
Para que a testosterona NÃO deve ser usada?
Apesar de muitas promessas feitas em redes sociais e consultórios que atuam fora das recomendações científicas, a testosterona não é um tratamento indicado para objetivos estéticos ou de bem-estar generalizado. A nota conjunta das entidades médicas é enfática ao afirmar que não há respaldo científico para o uso desse hormônio em mulheres saudáveis nessas situações.
Portanto, a testosterona não deve ser usada para:
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Ganho de massa muscular – O uso com essa finalidade está associado a riscos à saúde e pode causar efeitos colaterais indesejados, como alterações na pele e masculinização.
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Emagrecimento – Não há evidência de que a testosterona seja eficaz na perda de peso em mulheres. Pelo contrário: o uso inadequado pode levar ao desequilíbrio hormonal e prejuízos metabólicos.
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Rejuvenescimento – Embora esteja associada à vitalidade em alguns discursos, a testosterona não tem indicação médica para esse fim e pode causar alterações irreversíveis, como engrossamento da voz.
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Melhora de disposição ou energia – A fadiga pode ter múltiplas causas, e o uso de hormônios como solução rápida pode mascarar problemas de base, além de colocar a saúde em risco.
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Prevenção de doenças cardiovasculares – Não existe benefício comprovado nesse sentido. Na verdade, o uso indevido da testosterona pode aumentar o risco de problemas cardíacos.
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“Regular hormônios” na menopausa – Esse é um dos mitos mais difundidos. A regulação hormonal da menopausa deve ser feita com terapias adequadas, sob orientação médica, e a testosterona não faz parte desse protocolo padrão.
Além disso, os implantes subcutâneos manipulados de testosterona, que têm sido amplamente divulgados nas redes sociais, são desaconselhados. Eles não têm aprovação da Anvisa, não garantem controle preciso da dose e estão associados a maior risco de efeitos colaterais.
“Nosso compromisso é com a saúde da mulher. É preciso combater os mitos que circulam nas redes sociais e alertar sobre os reais riscos do uso indiscriminado de testosterona”, destaca Dra. Maria Celeste.
E os riscos?
Entre os principais efeitos adversos do uso indevido de testosterona em mulheres, os especialistas apontam:
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Aumento de pelos no rosto e no corpo;
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Acne;
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Queda de cabelo;
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Alterações no colesterol;
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Problemas no fígado;
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Maior risco de doenças cardiovasculares;
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Engrossamento da voz e masculinização;
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Dependência psicológica.
Outra recomendação importante é que não se deve solicitar exames de dosagem de testosterona para investigar baixa libido, a menos que haja suspeita de excesso do hormônio, como em casos de síndrome dos ovários policísticos ou tumores hormonais.
“Em tempos de pseudociência e divulgação de tantas notícias falsas, errôneas e com informações pela metade, a FEBRASGO reafirma o seu papel na divulgação e na consolidação da informação científica de qualidade”, ressalta Lia Cruz Vaz da Costa Damásio, Diretora de Defesa e Valorização Profissional da entidade.
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