O transtorno do estresse pós-traumático (TEPT) é uma síndrome psicológica em que a mente do paciente resgata, de maneira involuntária, momentos traumáticos anteriores. Entre os possíveis agentes causadores, estão agressões, acidentes, desastres naturais e outros.
Neste último, se enquadra a recente tragédia climática que atingiu o Rio Grande do Sul. O estado foi atingido pela maior enchente de sua história, que atingiu 467 dos 497 municípios. As chuvas deixaram mais de 500 mil pessoas desabrigadas, além de 41 desaparecidos e 172 vítimas fatais.
Como achar pets perdidos? Conheça o app criado para reencontrar animais em enchente no RS
Além das consequências práticas, desastres climáticos como esse têm profundos efeitos na saúde mental. Uma pesquisa desenvolvida na Universidade da Califórnia destacou aumentos significativos nos sintomas de transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), como ansiedade e depressão, entre os diretamente e indiretamente afetados por desastres ambientais nos Estados Unidos.
De acordo com o estudo, 35% das pessoas diretamente expostas relataram sintomas agravados de TEPT, com ansiedade e depressão também prevalentes. Até mesmo aqueles que apenas testemunharam o desastre, mas sem perdas pessoas, apresentaram problemas de saúde mental elevados.
Risco de leptospirose aumenta em meio a inundações no RS; saiba como se proteger
O TEPT
O estresse pós-traumático acontece quando, diante de uma situação de catástrofe, a pessoa começa a ter flashbacks do evento traumático. Os momentos resgatados pela mente ocorrem de diferentes maneiras, como pesadelos e pensamentos involuntários, evidenciando o TEPT.
Além disso, o TEPT apresenta outros sintomas, como:
- Insônia;
- Sentimentos de ansiedade;
- Isolamento social;
- Reações físicas e problemas fisiológicos, como sudorese, náusea ou tremores;
- Irritabilidade intensa.
A médica psiquiatra Jéssica Martani, observership em neurociências pela Universidade de Columbia em Nova Iorque, explica: “Isso acontece porque áreas cerebrais como amígdala, área responsável pelas emoções, o hipocampo, responsável pela formação de memórias e o córtex pré-frontal, área da tomada de decisões, podem sofrer uma série de alterações neurobiológicas complexas, levando a dificuldades em regular emoções intensas e em processar a avalanche de informações”.
Segundo a especialista, as alterações cerebrais são uma resposta de luta ou fuga que fazem com que os sintomas físicos de ansiedade apareçam, intensificando as respostas emocionais e a hipervigilância em relação a possíveis novas ameaças.
O diagnóstico de TEPT
O diagnóstico do transtorno do estresse pós-traumático é feito com base nas orientações do DSM-IV (Manual de Diagnóstico dos Distúrbios Mentais) e o CID-10 (Classificação Internacional das Doenças), que estabeleceram alguns critérios.
Inicialmente, o médico especialista precisa identificar o evento traumático (agente estressor). Vale ressaltar que o paciente não precisa ser diretamente afetado para receber o diagnóstico. Testemunhas de agressões, acidentes, tragédias climáticas e outros eventos também podem desenvolver o problema.
Essa perturbação – seja ela direta ou indireta, contra familiares, por exemplo, precisa representar sofrimento significativo ou outro prejuízo àquela pessoa. Tais sintomas devem ser evidenciados por pelo menos um mês para o TEPT ser comprovado.
Além disso, é dever do médico responsável checar se os problemas em questão são causados por outros fatores, como o uso de medicamentos, drogas ou álcool, além de outros transtornos mentais, como ansiedade e depressão.
Tratamento contra a TEPT
Quando o transtorno do estresse pós-traumático, inicia-se a estratégia para tratar o problema. O tratamento deve ser feito sempre com base nas orientações médicas, e pode ser medicamentoso, psicológico ou com suporte psicossocial.
“Envolve uma combinação de psicoterapia e, em alguns casos, medicamentos como antidepressivos para ajudar a reduzir os sintomas, mas cada pessoa irá reagir de um modo, por isso cada uma precisa ser tratada de maneira individualizada”, explica a psiquiatra.
O psicólogo clínico Vitor Friary, especialista em Terapia Cognitiva Baseada em Mindfulness, recomenda o uso da técnica em alguns casos. De acordo com ele, a atenção plena, como também é conhecida, é uma ferramenta para mitigar os impactos na saúde mental do trauma após desastres ambientais.
5 sintomas menos conhecidos da depressão
A estratégia, que foca na atenção e concentração do tempo presente, ajuda o indivíduo a se distanciar ou desapegar de pensamentos e emoções angustiantes. Assim, promove meios de lidar com sensações complexas e difíceis.
Segundo especialista, há estudos que evidenciam que a atenção plena pode reduzir sintomas de ansiedade e depressão e melhorar funções cognitivas, como atenção e regulação emocional: “No contexto do trauma climático, a atenção plena permite que os indivíduos processem seu luto e ansiedade sem serem dominados por esses pensamentos e emoções”.
Friary também destaca a importância de um forte apoio familiar, amizades próximas e um senso de comunidade, que previnem o desenvolvimento de problemas de saúde mental: “Também é importante reconhecer que a atenção plena e a psicologia positiva não são soluções universais. Adaptar as intervenções para atender às necessidades e contextos individuais será a chave para seu sucesso”, finaliza.
Como ajudar alguém com depressão? Aprenda como acolher o próximo