Olá! Essa semana falo um pouco sobre a audição das crianças. A ideia veio por conta de uma frase que ouço com frequência no consultório: meu filho não me escuta! Tal situação é bem frequente com os pequenos, podendo ocorrer algumas situações diferentes. Caso haja perda auditiva, ela pode estar sendo causada por diversos fatores, como:
- Otite: as otites são inflamações no ouvido. Na maioria das vezes, há retenção de secreção na orelha média, o que leva a redução da audição. Um dos tipos é a otite serosa e ela pode passar despercebida, já que não costuma causar dor ou febre. Algumas vezes pode acontecer com sintomas gripais ou crises de rinite, em que há secreção e obstrução nasal. Contudo, os sintomas nasais podem não estar presentes em todos os casos, ou seja, melhor ficar atento. A perda, neste caso, é na condução do som, sendo reversível.
- Perda auditiva neural: estas perdas auditivas têm a chance de acontecer em qualquer momento da vida. Podem ser congênitas e identificadas pelo teste da orelhinha após o nascimento, podendo iniciar na primeira infância ou adolescência de início súbito, ou lento. Nestes casos o teste da orelhinha é normal na triagem da maternidade e a perda auditiva se desenvolve depois. Desta forma, devemos ficar atentos a sinais de dificuldade auditiva nas crianças, visto que a audição pode variar durante a vida.
- Pós-infecções: como meningite e citomegalovírus
- Traumatismos
- Uso de medicações ototóxicas: como antibióticos e quimioterápicos
- Prematuridade.
E QUANDO NÃO HÁ PERDA AUDITIVA?
A audição, percepção e entendimento da fala dependem tanto do ouvido quanto da compreensão do som, o que acontece pelas vias auditivas neurais (nervo auditivo) e cérebro.
Mesmo que a audição esteja normal na orelha, porém haver alteração no processamento auditivo, ou seja, como o cérebro decodifica esse som e lhe dá significado. Assim, nós ouvimos com as orelhas, mas escutamos com cérebro.
Para que uma conversa ocorra, além da audição, há necessidade de outros fatores – como atenção e memória. Para determinar onde está o problema, existe uma série de exames disponíveis – basta procurar um médico otorrinolaringologista para ajudar.
DICAS DE COMO SABER SE O SEU FILHO OUVE OU ESCUTA:
- Dificuldade para se comunicar em lugares ruidosos.
- Pedido frequente para repetir o que foi dito: utiliza “Hã” ou “que” com frequência.
- Necessidade de leitura labial durante a conversa.
- Dificuldade para ouvir aparelhos eletrônicos.
- Há atraso de linguagem ou troca de fonemas.
- Dificuldade para interpretar mensagens
- Dar respostas inapropriadas ou inconsistentes ao que foi pedido ou perguntado.
- Dificuldade em manter a atenção
- Distrai-se com facilidade
- Dificuldade em seguir ordens ou comandos auditivos complexos. Por exemplo: “Pega a blusa no quarto e guarda na bolsa que está na sala.”
- Dificuldade em localizar a fonte sonora.
O QUE FAZER?
Desligue a televisão, tablet e smartphone. As crianças não aprendem a falar através destes aparelhos eletrônicos, pois não há interação ou conversa. Aliás, nas crianças menores, esses aparelhos são altamente prejudiciais. Isso porque, quando a TV está ligada, as pessoas conversam menos.
Além disso, crianças até 5 anos não tem maturação da via auditiva completa, tendo dificuldade para ouvir em ambientes com ruídos complexos e flutuantes. Ou seja, a criança pequena tem dificuldade em ouvir bem quando falamos com a TV ligada ou no carro, por exemplo.
Essa maturação ocorre gradualmente entre os 5 e os 12 anos, quando há melhora da percepção de fala com ruído de fundo. E o cérebro só registra aquilo que ouve com clareza. Assim, estes ruídos de competição pioram o desenvolvimento auditivo.
Resumindo: Muitas vezes, a criança não escuta o que falamos mesmo! Algumas vezes é por problemas auditivos, mas, em outras, é por excesso de informação auditiva simultaneamente. Fique atento as dicas acima e, na dúvida, procure seu médico.
*DRA. MAURA NEVES é formada na Medicina pela Faculdade de Medicina da USP. Residência em Otorrinolaringologia pelo HC- FMUSP. Fellow em Cirurgia Endoscópica pelo HC- FMUSP. Doutorado pela Faculdade de Medicina da USP. Médica Assistente do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo -SP. Aqui na Revista AnaMaria, trará quinzenalmente um conteúdo novo sobre a saúde do ouvido, nariz e garganta. Instagram: @dra.mauraneves