A cárie oculta, também conhecida como síndrome do flúor ou cárie escondida, surge quando as bactérias ultrapassam o esmalte dental, que é a parte mais externa do dente, e começam a corroer a estrutura. Exatamente por esse motivo, casos do tipo costumam ser descobertos em um estágio avançado.
Como não deixa vestígios evidentes, sejam os famosos pontinhos pretos ou a típica dor de dente, é preciso ficar atento. Kamila Godoy, membro da Associação Brasileira de Ortodontia e pesquisadora da Faculdade de Odontologia da USP, dá mais detalhes para AnaMaria Digital de como o problema acontece.
“A cavidade no esmalte é tão pequena que se torna praticamente impossível identificar a olho nu ou mesmo com o exame intrabucal (na cavidade bucal), quando se examina inicialmente a saúde da boca do paciente. Daí o termo ‘cárie oculta’, por ser uma lesão na dentina sob a superfície do esmalte dental que, aparentemente, está saudável, porém, desmineralizado por dentro”, diz.
QUAIS SÃO AS CAUSAS?
Apesar de a ciência odontológica não chegar a um consenso sobre a origem do problema, existe uma série de determinantes prévios que podem facilitar o aparecimento da cárie oculta. Confira!
- Uso de fluoretos (composto químico muito comum em géis e substâncias para bochecho): Eles fortalecem o esmalte dentário, mas não a dentina. Assim, através das fissuras na superfície oclusal, ocorre contaminação e destruição do tecido dentário, e não do esmalte.
- Ingestão frequente de açúcares, em especial, do tipo sacarose: O consumo facilita a multiplicação de bactérias, podendo evoluir para a formação de placas bacterianas.
- Defeitos estruturais no dente: O problema pode evoluir em dentes quebrados ou fraturados, pois, ainda que não haja desgaste do esmalte dentário, as bactérias conseguem penetrar facilmente na estrutura e corroer a dentina e a polpa dentária.
E OS SINTOMAS?
Eles são bem parecidos com os de uma cárie comum, uma vez que se caracterizam pela corrosão de partes do dente devido à multiplicação bacteriana na cavidade bucal. Os maiores incômodos são:
- Mau hálito;
- Hipersensibilidade a alimentos e substâncias em temperatura quente ou gelada;
- Inchaço na gengiva;
- Desconforto ao mastigar alimentos;
- Incômodo ao passar o fio dental entre os dentes.
No entanto, é importante ressaltar mais uma vez que, diferentemente da cárie comum, a oculta não apresenta pontinhos ou orifícios visíveis no esmalte dentário e se torna não perceptível a olho nu. “Por isso o diagnóstico é mais complexo, quando comparado à disfunção comum, que deixa marcas facilmente identificadas na dentição”, reforça Kamila Godoy.
DIAGNÓSTICO
O exame clínico visual não costuma identifica a presença da cárie oculta. Por isso, a indicação é que o dentista faça uma radiografia interproximal, que registra a coroa dos dentes inferiores e superiores em um raio-X, aumentando as chances de localizar os possíveis danos causados na parte interna do dente.
“Importante saber que o uso da sonda exploradora para exame clínico não é indicado, uma vez que essa técnica pode gerar perfurações na área cariada”, alerta a dentista.
TRATAMENTO
Dependendo do estado de comprometimento do dente, o tratamento é o mesmo utilizado para a cárie comum, onde é realizado a restauração dentária para controlar o avanço da doença e recuperar o dente cariado. O processo inclui a remoção da parte desgastada.
Depois da limpeza, a cavidade dental é novamente preenchida com um material específico, que pode ser desde porcelana até resinas compostas. Em casos mais avançados, porém, o paciente pode passar pelo tratamento de canal (remoção da polpa do dente contaminada pela ação bacteriana) e até mesmo pela extração dentária.
Segundo Kamila, a melhor opção para tratar uma cárie oculta é a técnica da réplica oclusal, que reproduz detalhes anatômicos da cavidade bucal. Em estágios menos avançados, ela consegue agilizar o tratamento, minimizando os possíveis danos.
“Para evitar este e outros problemas, o ideal é sempre a prevenção, tendo cuidado com os hábitos alimentares, evitando uma dieta rica em açúcares e doces, fazendo a escovação com higienização lingual diariamente e sendo acompanhado frequentemente pelo dentista”, conclui a especialista.