Seis pacientes receberam órgãos infectados com HIV em cirurgias de transplante realizadas no estado do Rio de Janeiro. O grupo foi testado e recebeu o resultado positivo para a doença. O laboratório privado apontado como culpado pelos exames errados foi interditado.
O caso está sendo investigado pelo Ministério da Saúde e pela Polícia Civil do RJ. A informação foi divulgada pela BandNews FM nesta sexta-feira (11). De acordo com as autoridades, o caso é inédito no sistema, que existe desde 2006 no estado.
“Esta é uma situação sem precedentes. O serviço de transplantes no Estado do Rio de Janeiro sempre realizou um trabalho de excelência e, desde 2006, salvou as vidas de mais de 16 mil pessoas”, comentou a Secretaria Estadual de Saúde do Rio de Janeiro (SES-RJ).
A secretária estadual de Saúde do Rio de Janeiro, Claudia Maria Braga de Mello, falou à imprensa sobre o caso dos órgãos infectados com HIV. À BandNews FM e ao g1, ela se solidarizou com a vítima, mas ressaltou que os transplantes seguem ocorrendo: “O sistema de transplantes no Brasil é seguro e merece confiança. A população precisa ter certeza que é um caso sem precedentes e não se repetirá”.
Como os órgãos infectados com HIV foram descobertos?
O caso dos órgãos infectados com HIV foi descoberto em 10 de setembro. Na ocasião, um paciente transplantado foi ao hospital com sintomas neurológicos. Ao fazer o teste para HIV, recebeu o resultado positivo — ele não tinha o vírus.
A partir daí, as autoridades iniciaram uma investigação para encontrar o possível causador do vírus. O paciente havia recebido um coração em janeiro. Como as instituições mantêm amostras dos órgãos doados, foi possível realizar um novo teste. Na contraprova realizada pelo pela SES-RJ, o resultado foi positivo.
A organização rastreou outros dois recém-transplantados, que receberam 1 rim cada. Em ambos, o teste para HIV também deu positivo. Além do coração e dos rins, o fígado e as córneas do mesmo doador também foram utilizados em outros pacientes.
- A receptora das córneas, órgão que não é tão vascularizado, deu negativo;
- A receptora do fígado morreu pouco depois do transplante. Porém, o quadro dela já era grave, e a morte não teria relação com o HIV.
Depois, a receptora de outra doadora, que recebeu o órgão em 3 de outubro, também testou positivo para HIV. Antes das doações, todos os órgãos foram liberados. Todos os testes foram realizados na empresa PCS Lab Saleme, de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense.
A PCS Lab Saleme
O Governo do Estado culpa a PCS Lab Saleme pelos órgãos infectados com HIV. O estabelecimento foi contratado pela SES-RJ em um processo de licitação emergencial de R$ 11 milhões, em dezembro de 2023. O local deveria fazer a sorologia de órgãos doados.
No entanto, segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o local nem mesmo dispunha dos kits para realização dos exames de sangue. A PCs também não apresentou o documento que comprova a compra dos itens. Por isso, a suspeita é de que os testes não foram feitos e tiveram o resultado forjado.
Como medida de segurança, todos os exames de sorologia dos doadores desse laboratório foram transferidos uma unidade de saúde estadual, o Hemorio. Segundo Cláudia Mello, o departamento vai retestar o material armazenado de 286 doadores.