O Instituto Nacional de Câncer (INCA) estima que, para cada ano do triênio 2020/2022, sejam diagnosticados no Brasil 66.280 novos casos de câncer de mama, com um risco estimado de 61,61 casos a cada 100 mil mulheres.
Para quem enfrentou a doença, na maioria das vezes, outras batalhas se travaram além do tratamento: o resgate à autoestima, especialmente de mulheres que tiveram perda total ou parcial das mamas. E, o que poucos sabem, é que a cirurgia plástica surgiu para corrigir deformidades que traziam prejuízos funcionais e, em menor escala, estéticos – foi aí que ela nasceu como cirurgia reparadora.
Valéria Destéfani, cirurgiã plástica, enfatiza: “Esse assunto é importante e necessita ser falado tanto pela prevenção, tratamento e o pós, pois muitas mulheres chegam ao consultório com zero autoestima. Todo o processo e as consequências do tratamento mexem tanto com o físico quanto com a saúde mental, e poder devolver a elas a vontade de voltar a se olhar no espelho é uma questão de qualidade de vida”.
A psicóloga, coach e terapeuta comportamental, Simone Rosa, também discorre sobre a importância de cuidar da mente e, assim, resgatar o ânimo, a aceitação e o amor-próprio.
DO PONTO DE VISTA MÉDICO
- O câncer de mama é devastador na vida de uma mulher. Pensar na possibilidade de viver sem um órgão tão importante para a feminilidade e que representa tanto para as mulheres em vários sentidos compromete (e muito) a autoestima.
Do ponto de vista da saúde mental de quem precisa retirar o órgão, a cirurgia reparadora pode ser primordial. Então, se existe a chance de reconstruir essa perda, não há razão para não ver vantagens.
Ela coloca novamente a mulher no status de feminina e eleva sua autoestima de forma indiscutível. Se olhar no espelho e gostar do que se vê reflete em todos os aspectos da vida da paciente. A cirurgia pode devolver a alegria de viver para quem já passou por momentos tão difíceis.
- Outra vantagem do procedimento é deixar as duas mamas mais parecidas novamente como eram antes da doença. Poder usar um sutiã sem diferenças, sem prejuízos por conta da assimetria das mamas, também devolve a motivação às pacientes.
- Mesmo com todo esforço, tratamento prolongado e, muitas vezes, desgaste que é a reconstrução da mama, sem dúvida, ao final do tratamento, todas as pacientes se tornam mais confiantes, alegres e seguras de si, comprovando que a relação custo-benefício vale muito a pena.
DO PONTO DE VISTA PSICOLÓGICO
- Partindo do princípio de que o seio tem um significado de poder, força e feminilidade, tê-lo reconstruído favorece o fortalecimento da autoconfiança e a autoestima através da apreciação da autoimagem satisfatória.
- É interessante trazer à luz a representatividade que o seio tem na vida de uma mulher. A partir desse entendimento, é possível inferir o impacto que a mastectomia provoca no seu emocional. Pode-se começar com a observação da sensação de falta, de inadequação. Quantas vezes ouvimos as expressões ‘De peito aberto’, ‘ Mulher de peito’, ‘No peito e na raça’?
Essas expressões revelam o quanto o peito traz uma sensação de poder e coragem, além de legitimar a identidade feminina, sendo zona erógena e, até mesmo, fonte de alimento. É um complexo de significados que, a sua mutilação, impacta diretamente na desconstrução da identidade e autoestima dessa mulher.
- Estudos revelam que uma pessoa com baixa autoestima apresenta uma diminuição na função do seu sistema imunológico. Entendemos então que o advento da reconstrução mamária impacta positivamente na autoimagem e autoestima da mulher, trazendo uma resposta positiva para o funcionamento do seu sistema imunológico.
Também é possível que haja regulação do seu ânimo e humor, promovendo ações de autocuidado e alcance da melhoria de sua qualidade de vida.