O caso da fisioterapeuta Talyssa Oliveira Taques, que caiu da janela do seu quarto de hotel, no Rio de Janeiro (RJ), depois de apresentar um episódio de sonambulismo, chamou a atenção de muitos internautas em fevereiro passado.
A jovem moradora de Cuiabá (MT) vinha de uma rotina intensa, trabalhando na linha de frente da pandemia da Covid-19, quando aproveitou o final de semana de folga para ir à praia na capital carioca.
O sonambulismo acontece quando a pessoa que está dormindo, em um estágio mais profundo do sono e apresenta transições ineficazes com algo que é chamado de ‘vigília’. Ou seja, partes do cérebro estão adormecidas, enquanto outras estão acordadas.
“As transições podem ser demoradas, então existe uma dificuldade de se passar de um estado para o outro”, explica o neurologista Fábio Porto, do Hospital das Clínicas de São Paulo (HC-FMUSP) à AnaMaria Digital. Ele ressalta que o sonambulismo, porém, não costuma ser frequente.
“Os episódios costumam acontecer mais durante a infância, já que o cérebro da criança ainda não está desenvolvido plenamente. Além disso, normalmente começa a melhorar conforme o paciente vai envelhecendo”, ressalta.
Mas isso não impede que um adulto tenha um episódio de sonambulismo, assim como aconteceu com a fisioterapeuta. Alguns dos fatores externos que podem levar ao sonambulismo são justamente privação do sono, horários de ir para a cama muito irregulares, ansiedade e estresse.
“Mesmo pessoas que não eram sonâmbulas na infância, caso uma série de fatores ambientais aconteçam, podem acabar apresentando um episódio de sonambulismo”, explica.
TEM TRATAMENTO?
Existem métodos para prevenir e reduzir as chances de vivenciar episódios de sonambulismo. Entretanto, a primeira providência é receber o diagnóstico da doença. Isso porque existem muitas condições que podem estar disfarçadas no sintoma, como crises epilépticas durante a noite ou outros distúrbios na fase REM, o ponto mais profundo do sono.
No exame da polissonografia, uma câmera filma a pessoa dormindo, enquanto alguém monitora as ondas cerebrais. “É aí que se vê a pessoa na fase de ondas lentas e , de repente, começa a ter movimento. O problema é que ainda está em transição de ondas lentas para a vigília. Isso significa que essa transição é muito lenta ou ineficaz”, detalha.
Com um diagnóstico fechado, é possível investigar fatores externos que podem estar causando o sonambulismo, tais como estresse, falta de sono, se tem algum remédio que está causando o sonambulismo e se a pessoa apresenta outros problemas de sono, como apneia.
Além da investigação, é possível fazer uso de tratamento farmacológico. O neurologista conta que os remédios mais utilizados nos casos de sonambulismo são antidepressivos do tipo benzodiazepínicos de longa duração, como o clonazepam, mais conhecido como rivotril.
TEM RISCOS?
O sonambulismo não apresenta riscos para as funções cerebrais em si. O principal problema para os sonâmbulos são os acidentes nos quais podem se envolver. Assim, o médico ressalta a importância de tomar algumas precauções.
Para além dos riscos com o sonâmbulo, também é válido lembrar que, quando eles são despertados, não estão racionais ou conscientes, o que pode apresentar reações adversas, como irritação e violência.
“Normalmente a pessoa pode acordar confusa, é como se fosse um despertar incompleto do sono de ondas lentas. A pessoa está no sono profundo, no qual o cérebro fica muito alentecido, e, de repente, acorda no meio da fase e a transição para a vigília não é completa”, conta.