Sentir dor durante a relação sexual ainda é um tabu cercado de silêncio. Muitas mulheres acreditam que o problema é psicológico, outras se conformam achando que é algo “normal” com o tempo, e há quem simplesmente desista do prazer. Mas a verdade é clara: sexo com dor não é normal e nunca deve ser naturalizado.
O que é dispareunia
O urologista Alexandre Sallum Bull, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), explica que o nome clínico para dor persistente durante a penetração é dispareunia.
“Esse incômodo pode ser superficial, na entrada da vagina, profundo, durante o ato, ou mesmo após a relação. E embora existam causas ginecológicas, emocionais e até hormonais, as causas urológicas muitas vezes passam despercebidas, o que atrasa o diagnóstico e perpetua o sofrimento”, afirma.
Causas urológicas que podem estar por trás da dor
Entre os fatores que merecem atenção, uma das principais origens é a infecção urinária de repetição. A condição causa ardência e sensibilidade, além do medo inconsciente de urinar após o sexo. Com a repetição desse ciclo, o corpo passa a associar prazer à dor, gerando bloqueios físicos e emocionais.
Outra causa frequente é a atrofia urogenital, comum em mulheres após os 40 anos ou na menopausa. A queda dos níveis hormonais leva ao afinamento e ressecamento da mucosa vaginal e uretral, deixando a região mais sensível e propensa a microlesões.
Doenças pélvicas crônicas também podem estar associadas. A cistite intersticial, inflamação da bexiga que provoca urgência urinária e dor persistente, é um exemplo que interfere diretamente na vida sexual e no bem-estar.
Quando procurar ajuda
A dor durante o sexo nunca deve ser ignorada. Se for recorrente ou estiver interferindo na vida emocional, sexual ou relacional, é hora de investigar. O urologista pode atuar junto com outros especialistas, ampliando o olhar sobre o problema. “Não é apenas ginecológico, não é só psicológico e não é frescura. É saúde”, reforça Sallum.
O diagnóstico envolve escuta atenta, exames clínicos e investigação de fatores como infecções, alterações hormonais, inflamações crônicas e disfunções da bexiga.
“O tratamento depende da causa, mas pode envolver desde o uso de antibióticos para infecções urinárias mal resolvidas, terapia hormonal local para regenerar a mucosa vaginal, fisioterapia pélvica para reeducação muscular, até medicações para controle de inflamações e dor crônica”, conclui o especialista.
Romper o silêncio é parte do tratamento
Mais do que tratar os sintomas, é essencial resgatar a confiança no próprio corpo e a segurança emocional. O prazer faz parte da saúde sexual, e ninguém precisa conviver com dor. Procurar ajuda especializada é o primeiro passo para quebrar o ciclo do silêncio e reconquistar qualidade de vida.
Resumo:
O sexo com dor não deve ser considerado normal. Identificar a origem, buscar atendimento especializado e falar abertamente sobre o problema são caminhos para recuperar saúde e prazer.
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