A receita prática que faltava no seu repertório, a dica fitness que vai transformar seu corpo, aquele cosmético que vai salvar sua pele… em poucos minutos rolando o feed do Instagram ou TikTok somos bombardeadas por informações e estímulos diversos. E se você já se sentiu culpada por passar mais tempo nas redes sociais do que gostaria (ou deveria), saiba que mais pessoas compartilham o mesmo sentimento.
As redes sociais são arquitetadas para nos manter o máximo de tempo possível engajadas em rolar o feed. “Isso acontece, em grande parte, devido à dopamina: um neurotransmissor associado ao prazer, ao desejo e à motivação”, explica Nataly Martinelli, psicóloga especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental e no tratamento de fobias.
A química do prazer (e além)
Conhecida como substância química do prazer, a dopamina é um neurotransmissor importante no funcionamento do cérebro. Mas ela não é liberada apenas quando sentimos prazer. “Ela é, sobretudo, ativada pela expectativa de recompensa. A cada deslizar de dedo, o cérebro se coloca em estado de prontidão, como se dissesse: ‘o próximo post pode ser interessante’”, detalha Nataly.
Ou seja, não é que o conteúdo mostrado na tela seja particularmente interessante, mas, sim, a possibilidade do que vem adiante, no próximo post – e é aqui que mora o perigo: a busca constante pela publicação mais impactante pode desencadear processos de ansiedade.
É o que a neurociência chama de reforço intermitente variável, um tipo de recompensa que acontece de forma aleatória, como nos cassinos. De acordo com a especialista, essa expectativa deixa o cérebro em estado de alerta, sempre à espera da próxima liberação de dopamina.
Os sinais da dependência
Com o tempo, o padrão de busca pela próxima liberação de dopamina pode se consolidar como um comportamento compulsivo. Passamos a conferir o celular diversas vezes ao dia, e muitas vezes, sem ao menos perceber, sempre em busca da sensação de prazer gerada pela atualização constante.
A dependência das redes sociais afeta diretamente nosso comportamento e, principalmente, nossa saúde mental. “A atenção se fragmenta, o foco se reduz e a tolerância ao tédio diminui drasticamente. E assim, as pessoas buscam um alívio imediato para qualquer vazio emocional, substituindo pausas por estímulos”, alerta Nataly.
Além disso, o vício em dopamina influencia nos relacionamentos. “Relações reais exigem escuta, presença e tempo. A mente se acostuma a receber pequenas doses de prazer imediato e, quando não encontra isso na interação humana, pode se desconectar, se frustrar ou até se isolar”, acrescenta Brunna Dolgosky, psicóloga e hipnoterapeuta.
Será que sou viciada?
É considerado vício todo comportamento prejudicial, mesmo que seja inconsciente. Por isso, se você notar que, em momentos de desconforto emocional, quando há tédio, ansiedade, solidão ou até mesmo frustrações cotidianas, é irresistível “dar uma olhadinha” nas redes sociais, fique atenta.
As especialistas listam outros sinais que indicam dependência:
- Diminuição da produtividade ou da qualidade do sono;
- Perda de interesse em atividades antes prazerosas ou responsabilidades reais;
- Comparações constantes, que alimentam insatisfação com a própria vida;
- Isolamento social offline;
- Sintomas como ansiedade, impaciência ou irritação.
Retome o controle do seu tempo nas redes
Tenha rituais sensoriais longe das telas: cozinhar, caminhar, observar atentamente cores e cheiros ou até mesmo atividades manuais, como pintura ou jardinagem.
Redesenhe seus limites com leveza: reserve vinte minutos do seu dia para se permitir fazer nada, o chamado “tédio criativo”.
Reconecte-se com o tempo profundo: sabe aquela amiga que você não vê faz tempo? Que tal marcar um encontro presencial? Esteja presente!
A recaída é um lembrete, não como fracasso: “Você vai deslizar o dedo, abrir a rede no automático, esquecer os limites. Tudo bem. O vício se desfaz não na perfeição, mas na repetição consciente”, pontua Nataly.
Saiba quando buscar ajuda!
Se, mesmo assim, ainda é difícil controlar o comportamento compulsivo, é preciso considerar a ajuda profissional especializada. Nesses casos, é possível contar com auxílio psicológico ou psiquiátrico, ou terapias alternativas, como a hipnoterapia, que acessa uma camada mais profunda da mente, identificando a causa emocional por trás desse automatismo.
“A arte, especialmente quando usada de forma terapêutica, ajuda a trazer a pessoa de volta para o aqui e o agora. Quando a mente reaprende a lidar com o silêncio, com o tempo real e com a autoexpressão, a dependência por estímulos externos tende a diminuir”, recomenda Brunna.
A matéria acima foi produzida para a revista AnaMaria Digital (18 de abril). Se interessou? Baixe agora mesmo seu exemplar da Revista AnaMaria nas bancas digitais: Bancah, Bebanca, Bookplay, Claro Banca, Clube de Revistas, GoRead, Hube, Oi Revistas, Revistarias, Ubook, UOL Leia+, além da Loja Kindle, da Amazon. Estamos também em bancas internacionais, como Magzter e PressReader.
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