“Éverdade que na terceira idade a pessoa não pode consumir bebida alcoólica?”
R. N., por e-mail
Idosos podem ingerir bebidas alcoólicas, mas deve-se ter cuidado ainda maior com os excessos. Falando do lado bom, auxilia na
socialização, que melhora a saúde mental. O álcool em pequenas quantidades pode ajudar a pessoa a viver mais. O vinho faz parte da dieta mediterrânea – baseada em castanhas, peixes, azeite… – e que comprovadamente pela ciência vem se mostrando como uma das mais saudáveis. Mas lógico que também há malefícios. Primeiramente, porque o álcool pode cortar o efeito de certos medicamentos que
são de suma importância. A combinação de remédios e álcool pode dar reação com consequências graves. Além disso, por alterar os sentidos, pode levar a acidentes. Lembre-se: quando se é jovem, a recuperação é mais rápida. Imagine uma queda por conta da bebida? Pode até ser fatal, levando-se em conta o tipo do trauma e a recuperação difícil. Compara-se a queda de um idoso aos danos de um acidente de carro para um jovem. Quanto às doenças, não pense apenas que a cirrose é a vilã. Os efeitos do alcoolismo podem se manifestar sobre diversos outros órgãos. Hepatite alcoólica, a pancreatite, a desnutrição de vitaminas do complexo B e suas consequências, a gastrite alcoólica… Pode também afetar, a longo prazo, a região responsável pela memória e elevar as chances da doença de Alzheimer. Até mesmo uma cervejinha além da conta pode ser ruim: o idoso tem menos água corpórea por natureza e a cerveja é um grande diurético. Ou seja, durante idas e vindas ao banheiro, pode-se perder diversos nutrientes e até mesmo levar ao desmaio e à desidratação. Nunca deixe de curtir a vida em todas as idades, mas prudência é sempre importante, principalmente para o idoso.
Alcoolismo em idosos
Segundo um estudo realizado pela Universidade de São Paulo (USP) em 2010, 8% dos idosos enfrentam problemas com o alcoolismo.
Segundo dados da Unifesp, são 10% dos idosos e esse número é parecido em todas as faixas etárias (18 a 25 anos; 26 a 45; 45 a 60; e mais de 60). Esses números são bem alarmantes, pois, no Brasil, o número de pessoas com problemas com álcool não diminui e isso vai
na contramão da maioria dos países em que o alcoolismo diminui com a progressão da idade.
O vinho, desde que em pequenas quantidades, pode até auxiliar a pessoa a viver mais. Mas também pode cortar o efeito de certos
medicamentos que são de suma importância ou mesmo levar a acidentes. Será que vale a pena?
PAULO CAMIZ é geriatra e professor da Faculdade de Medicina da USP. É também idealizador do projeto “Mente Turbinada”, que desenvolve exercícios para o cérebro. Para ler outros artigos escritos por ele, acesse ogeriatra.com.br
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