Arrotar é um processo natural do corpo humano, no qual o gás acumulado no estômago é expelido pela boca. No entanto, em algumas culturas, ato é visto como inadequado se feito em público, podendo até mesmo ser visto como falta de educação.
Ainda assim, é essencial para o bom funcionamento do aparelho digestivo, e pode indicar uma saúde estável. Afinal, trata-se de uma demanda fisiológica que, quando atendida, só denota algo comum e necessário para o funcionamento do aparelho digestivo.
Segurar esse impulso pode gerar desconfortos, e, em casos mais graves, até problemas de saúde. Quando o processo de arrotar não ocorre de maneira natural, pode ser indicativo de alguma disfunção que impacta tanto a saúde física quanto a emocional.
O que acontece quando não conseguimos arrotar?
Embora muitas pessoas considerem o ato de arrotar um simples reflexo do corpo, ele tem um papel importante na liberação de gases do estômago. O acúmulo desses gases pode gerar dor abdominal, sensação de inchaço e até dificuldades em realizar outras funções corporais, como o vômito.
Quando o impulso de arrotar não é atendido, pode ser um sinal de uma condição conhecida como Disfunção Cricofaríngea Retrógrada (DCR). De acordo com a médica otorrinolaringologista Luciana Costa, do Hospital Paulista, essa patologia ocorre quando um músculo localizado entre a faringe e o esôfago não relaxa adequadamente, impedindo a liberação dos gases.
“Trata-se do músculo cricofaríngeo, que é o principal responsável pelo componente contrátil que permite que o alimento siga da faringe para o esôfago. Ele relaxa quando ingerimos algo e mantém certa pressão em momentos de repouso, fechando-se para proteger as vias aéreas de um possível refluxo e da ingestão de ar durante a respiração”, explica.
Ela acrescenta que, quando esse músculo não relaxa, o gás fica preso no esôfago, gerando desconforto físico e até psíquico, atribuídos à Disfunção Cricofaríngea Retrógrada.
Consequências físicas e psicológicas da dificuldade em arrotar
Além dos sintomas físicos como flatulência, dor abdominal e distensão, a dificuldade de arrotar pode ter impactos significativos na saúde mental. Pacientes com Disfunção Cricofaríngea Retrógrada frequentemente apresentam quadros de irritabilidade, ansiedade e inibição social.
Essa condição está associada a um aumento de desconforto psicológico, que pode afetar a qualidade de vida dos indivíduos, gerando até uma diminuição da produtividade no trabalho ou escola, devido ao mal-estar constante.
“Em busca de alívio, eles acabam fazendo modificações no estilo de vida, alteram seu regime de exercícios, limitam ou modificam sua dieta e evitam situações sociais. Essa situação, segundo relatos de pacientes, costuma ter início na adolescência e tendem a piorar na idade adulta”, explica Luciana.
Diagnóstico e tratamentos para a Disfunção Cricofaríngea Retrógrada
O diagnóstico da DCR é complexo e não existe um exame específico para confirmá-lo. Ele é geralmente feito por exclusão, considerando o histórico clínico do paciente e os sintomas relatados. A médica explica que o tratamento mais comum para essa condição é a aplicação de toxina botulínica, que tem como objetivo enfraquecer o músculo cricofaríngeo.
Esse procedimento, minimamente invasivo, pode ser realizado no consultório médico ou, em casos mais graves, no centro cirúrgico. A aplicação da toxina proporciona alívio imediato, e o efeito tende a durar por um período prolongado, permitindo que o paciente volte a liberar os gases de maneira natural, sem os sintomas dolorosos e os impactos psicológicos da disfunção.
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