Quando se fala em diabetes, a primeira imagem que vem à mente costuma ser a do controle da glicose — a insulina, o monitor, a dieta rigorosa. Mas o verdadeiro perigo da doença pode estar em outro lugar: dentro dos vasos sanguíneos. O excesso de açúcar no sangue, segundo especialistas, age como uma ferrugem silenciosa, corroendo aos poucos as paredes das artérias e alterando o fluxo da circulação.
De acordo com o cirurgião vascular Caio Focássio, membro da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular, essa deterioração começa cedo e passa despercebida. “O diabetes não afeta só o sangue, ele muda o caminho por onde o sangue passa. É uma doença vascular sistêmica”, explica. “Quando o açúcar se acumula, ele danifica as paredes internas das artérias e acelera o envelhecimento dos vasos, mesmo em pessoas jovens”, diz.
Pesquisas recentes, segundo o médico, indicam que pacientes diabéticos por volta dos 40 anos podem ter vasos sanguíneos semelhantes aos de alguém de 60. Isso explica por que tantas pessoas com a doença desenvolvem problemas cardíacos, derrames ou má circulação nas pernas antes mesmo de envelhecer.
O início do problema: um machucado que não cicatriza
Os primeiros sinais desse desgaste circulatório muitas vezes aparecem nos pés. O chamado pé diabético é um dos exemplos mais conhecidos — pequenas feridas que demoram a fechar, perda de sensibilidade e infecções recorrentes são sintomas comuns.
A neuropatia diabética, condição que reduz a sensibilidade, faz com que o paciente nem perceba machucados simples. E sem uma boa irrigação sanguínea, essas lesões não cicatrizam, abrindo caminho para infecções graves. “A amputação é o fim de uma história que poderia ser reescrita com prevenção, controle da glicemia e avaliação vascular regular”, alerta Caio.
No Brasil, o diabetes é responsável por mais de 70% das amputações não traumáticas, e 85% delas poderiam ser evitadas com diagnóstico precoce e acompanhamento médico contínuo.

Cuidar dos pés é cuidar da circulação
O cirurgião recomenda o autoexame diário dos pés como uma medida simples e eficaz de autocuidado. “Observar a pele, secar bem entre os dedos, evitar andar descalço e procurar um vascular diante de qualquer ferida são atitudes que fazem diferença”, orienta.
A atenção deve ser redobrada porque o diabetes também afeta a microcirculação — os pequenos vasos que levam oxigênio aos tecidos. Quando eles sofrem danos, a cicatrização se torna mais lenta e o risco de infecção aumenta. “Uma bolha em um pé diabético não é apenas uma bolha. É um sinal de que a microcirculação está em alerta”, explica.
A importância de olhar além da glicemia
Para Caio, é fundamental que o acompanhamento do diabetes vá além do controle da glicose. Exames simples, como o Doppler vascular e a palpação de pulso, podem identificar obstruções arteriais muito antes dos sintomas. “O check-up vascular deveria ser tão comum quanto o exame de glicemia. Ele mostra se o sangue realmente está chegando onde precisa”, afirma.
Ignorar o fluxo da circulação é ignorar a base de todo o funcionamento do corpo. “O açúcar em excesso é como ferrugem para os vasos: corrói silenciosamente, até causar uma ruptura. A prevenção é o melhor remédio”, conclui o médico.
Resumo:
O diabetes vai além do controle da glicose — ele altera o funcionamento dos vasos sanguíneos e acelera o envelhecimento da circulação. A falta de sensibilidade nos pés e feridas que não cicatrizam podem ser os primeiros sinais do problema. Check-ups vasculares e autocuidados simples ajudam a evitar complicações graves, como infecções e amputações.
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Lígia Menezes
Lígia Menezes (@ligiagmenezes) é jornalista, pós-graduada em marketing digital e SEO, casada e mãe de um menininho de 3 anos. Autora de livros infantis, adora viajar e comer. Em AnaMaria atua como editora e gestora. Escreve sobre maternidade, família, comportamento e tudo o que for relacionado!







