Luiz Inácio Lula da Silva passou por uma trepanação para drenar uma hemorragia intracraniana na última segunda-feira (10). O procedimento é consequência do acidente doméstico sofrido pelo presidente da República em outubro. O político bateu com a cabeça ao cair no banheiro da residência oficial.
O procedimento consiste em perfurações feitas no crânio tratar diversas condições. No caso da operação feita em Lula, a trepanação foi realizada para a inserção de um dreno, por onde sai o sangue acumulado após a hemorragia.
Segundo o médico do presidente, Roberto Kalil, os orifícios feitos no crânio de Lula são pequenos e terão cicatrização espontânea. O profissional garantiu que não houve lesão e que não há nenhum risco cerebral. Além disso, geralmente não há sequelas depois de uma intervenção do tipo.
A história da trepanação
A trepanação é utilizada a intervenção cirúrgica cerebral mais antiga de que se tem registro. A primeiras evidências do procedimento são datadas no Neolítico, fase da pré-História entre 7.000 a.C. e 2.000 a.C.. Os relatos indicam o uso por parte dos chineses, egípcios, gregos indianos, romanos, e civilizações mesoamericanas primitivas.
Na Europa, foram identificados cerca de 450 casos durante o Neolítico. A taxa de sobrevivência era de 70%, mas caiu quase a zero na Idade Média. No passado, o método era mais invasivo do que as pequenas perfurações realizadas atualmente.
Uso da trepanação contra demônios?
As motivações para o uso da técnica também são outras. Além do uso semelhante ao atual, como no tratamento de ferimentos na cabeça, a trepanação era utilizada em vários tipos de doenças, principalmente as vistas como transtornos mentais.
Segundo um artigo publicado no MIT Press Reader, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT),t extos do século XVIII recomendavam abrir os crânios para que “os humores e o ar pudessem sair e evaporar” durante o tratamento para epilepsia.
Outro uso comum da técnica na Antiguidade era durante práticas religiosas, em rituais como sessões de exorcismo. De acordo com a BBC, a trepanação era usada na pré-história e na Antiguidade para “eliminar os maus espíritos e demônios do paciente”, que se acreditava serem causadores de doenças.
A técnica na medicina atua
As vantagens terapêuticas práticas no procedimento só foram constatadas posteriormente. Segundo o artigo do MIT, o uso chegou perto da finalidade atual na Grécia Antiga, durante a época de Hipócrates, que é considerado o ‘Pai da Medicina’.
A perfuração na cabeça era realizada para permitir que o sangue saísse da cabeça. Mais tarde, a trepanação já era amplamente utilizada no tratamento de fraturas no crânio. Atualmente, o método é utilizado em condições rigorosamente controladas em ambientes hospitalares.
Ao contrário da craniotomia ou craniectomia, que exigem aberturas maiores no crânio, a trepanação é um pequeno orifício, próximo ao tamanho de uma moeda de 1 real (24 milímetros). O furo feito com uma broca especializada e projetada especialmente para a técnica.
Atualmente, é o procedimento é utilizado drenar sangue de um hematoma intracraniano ou para implantar dispositivos como shunts, eletrodos ou cateteres. Estes equipamentos são usados no tratamento de diversas condições neurológicas, como tumores, lesões traumáticas, infecções e malformações vasculares