“É muito difícil lembrar exatamente como tudo aconteceu. Parece que você fica anestesiada.” Foi assim que Kamila Signorelli, de 40 anos, começou a contar ao Uol a história do dia em que seu único filho, Theo, partiu sem aviso.
Em 6 de junho de 2024, um dia aparentemente comum, Theo — um bebê saudável, de apenas 1 ano e 8 meses — faleceu de forma inesperada enquanto dormia. Na ocasião, Kamila e o marido, Raul, estavam em Campinas (SP) a trabalho, e quem cuidava do pequeno era a avó materna.
Theo passou o dia mais quieto, sem apetite, mas ainda brincou, pediu para tirar um cochilo e foi colocado para dormir. Minutos depois, a avó teve um pressentimento e correu até o quarto. Encontrou o neto de bruços, sem respirar.
Apesar das tentativas de reanimação no hospital, o menino não resistiu. A causa da morte foi considerada indeterminada, um diagnóstico que se encaixa na chamada síndrome de morte súbita infantil ou, quando ocorre após o primeiro ano de vida, na morte súbita inesperada na infância.
Como a síndrome de morte súbita infantil é diagnosticada?
A síndrome de morte súbita infantil (ou SMSI) é uma condição que afeta bebês com menos de um ano e que, geralmente, acontece durante o sono. Segundo a neurologista Magda Lahorgue Nunes, o diagnóstico só é confirmado quando exames detalhados — como autópsia, análise do local da morte e histórico médico — não explicam o motivo do falecimento.
Apesar de rara, a SMSI é uma realidade e, infelizmente, ainda existem muitas dúvidas em torno do que provoca esse tipo de perda. Em alguns casos, como o de Theo, bebês com mais de um ano também podem falecer subitamente, o que se enquadra na chamada morte súbita inesperada.
Quais são os principais fatores de risco da síndrome de morte súbita infantil?
De acordo com especialistas, diversos fatores aumentam o risco da SMSI. Prematuridade, infecções respiratórias recentes e até a posição em que o bebê dorme estão entre eles. Além disso, estudos apontam que meninos, filhos de mães com menos de 20 anos e bebês expostos ao tabagismo têm risco mais elevado.
A médica Letícia Sampaio, presidente da Liga Brasileira de Epilepsia, explica que, em muitos casos, a morte súbita do lactente pode estar ligada a alterações no sistema de controle da respiração e do coração — especialmente quando há algum fator externo, como abafamento.
Cuidados simples ajudam a prevenir a síndrome de morte súbita infantil
Mesmo sem uma causa única, alguns cuidados ajudam a reduzir as chances da síndrome de morte súbita infantil. Segundo o pediatra Gustavo Moreira, do Departamento de Medicina do Sono da SBP, a posição do bebê ao dormir é um dos principais pontos de atenção.
A recomendação é que o bebê durma de barriga para cima, com roupas leves, em colchão firme e sem brinquedos ou cobertores soltos no berço. Dormir na cama dos pais, embora confortável, pode representar riscos.
Além disso, evitar o uso de álcool, cigarro ou outras substâncias durante a gestação e após o parto também é essencial para diminuir os riscos.
Luto materno: como continuar depois da morte súbita inesperada
Kamila descreve o luto como uma pedra no bolso. “Ela não some, mas você aprende a carregar.” Hoje, ela tenta transformar a dor em aprendizado, valorizando os momentos simples da vida, como o filho fazia.
Essa é uma forma de manter Theo vivo em sua memória — e também de alertar outras famílias sobre os cuidados e a importância de conversar com o pediatra sobre o sono seguro.
Resumo final:
A história de Kamila e do pequeno Theo mostra como a síndrome de morte súbita infantil pode ser devastadora — e silenciosa. Embora não haja prevenção absoluta, alguns cuidados simples ajudam a proteger os bebês durante o sono. Dormir de barriga para cima, evitar excesso de cobertores e manter o ambiente arejado são medidas fundamentais. Além disso, acolher o luto com amor e empatia também é parte do processo.
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