A recente tragédia envolvendo a morte de uma mulher que caiu na piscina durante sua festa de casamento levanta questões sobre um fenômeno: a fobia de água – um medo intenso e irracional que pode ter consequências graves e até trágica, como foi o que aconteceu em Limeira, no interior de São Paulo. Para entender mais sobre essa condição e seus desdobramentos, AnaMaria conversou com Wimer Bottura, psiquiatra e especialista em saúde mental.
O que é fobia de água?
A fobia de água é caracterizada por um medo irracional e intenso, levando a reações extremas quando exposto ao elemento, como taquicardia, sudorese e até mesmo desmaios. Segundo Bottura, essa fobia muitas vezes está relacionada a um sentimento de perda de controle, levando a uma espiral de evitamento constante do objeto do medo.
“Alguns autores falam em traumas passados, outros falam em sofrimento intrauterino, tem várias teorias, e nenhuma delas se aplica a todas as pessoas. O que a gente tem mais claro é que são pessoas muito controladoras. E, quando estão em situação que elas não podem controlar, entram em desespero. Neste caso, a água é o objeto do medo, mas pode ser elevador ou quaisquer outras circunstâncias que não tenham o controle da situação”, explica o especialista.
Seja em uma banheira ou até mesmo em uma pequena quantidade de água, a fobia pode desencadear reações extremas, muitas vezes relacionadas ao simbolismo associado ao elemento. Embora o tratamento seja complexo, terapias como regressão hipnótica e o uso de antidepressivos podem ajudar a pessoa a superar esse medo paralisante.
As consequências da fobia ou do medo de água podem ser extremamente graves, como evidenciado pelo trágico caso da mulher que faleceu afogada na piscina de sua própria casa durante sua festa de casamento. Embora não se possa determinar com certeza se a fobia foi diretamente responsável pelo incidente, Bottura destaca que a presença desse medo paralisante pode ter desempenhado um papel significativo.
O comportamento de evitação associado à fobia de água pode comprometer as escolhas da pessoa, levando-a a evitar situações potencialmente perigosas, mas também essenciais para sua qualidade de vida. No caso específico mencionado, a mulher foi encontrada na piscina rasa e foi rapidamente retirada, não apresentando sinais de afogamento.
O médico avalia que ela tenha sofrido uma parada cardíaca, possivelmente desencadeada por uma manifestação clínica relacionada à sua fobia. É plausível que outros fatores, como um possível estreitamento das artérias, tenham contribuído para o desfecho trágico. Essa situação ilustra a complexidade e os riscos associados à fobia de água, destacando a importância de buscar tratamento adequado para lidar com esse transtorno psicológico.
Fobia: problema que precisa ser tratado com respeito
Como tratar a fobia de água?
O tratamento da fobia de água pode ser complexo, mas há abordagens terapêuticas eficazes disponíveis para ajudar os pacientes a superar esse medo paralisante. De acordo com Bottura, uma dessas técnicas é a Terapia Multimodal de Lazarus, que se mostrou bastante eficaz no tratamento das fobias em geral.
Essa abordagem terapêutica envolve uma aproximação progressiva, cuidadosa e sistemática, na qual o paciente é gradualmente exposto ao objeto de sua fobia. Esse processo permite que o indivíduo entre em contato com seu medo e, eventualmente, explore e compreenda as raízes traumáticas subjacentes à fobia. Mesmo a Terapia Multimodal de Lazarus seja uma opção terapêutica eficaz, muitos indivíduos recorrem ao uso de antidepressivos para lidar com os sintomas da fobia de água.
“Embora os antidepressivos possam proporcionar alívio sintomático, é fundamental reconhecer que a fobia de água não é apenas um problema isolado. Ela pode acarretar uma série de complicações adicionais na vida do paciente, afetando seu desenvolvimento, estudo, trabalho, relacionamentos e até mesmo sua capacidade de desempenhar papéis parentais”, destaca o psiquiatra.
Portanto, é crucial entender que tratar a fobia de água não se limita apenas a superar o medo do objeto específico. Ao abordar a fobia, os pacientes também podem resolver uma série de questões subjacentes que afetam sua qualidade de vida e bem-estar geral.
“Imagina que você tem uma rede e dá um nó nela. A fobia é um nó. Então, você prejudicou boa parte da rede, toda a sua função, o seu funcionamento. E muitas vezes a pessoa não associa, não percebe que aquela fobia e as defesas que ela adota contra a fobia tiram a sua vida do eixo. Ou seja, consegue um equilíbrio precário para sobreviver com muitas perdas. E se é um pai ou uma mãe, isso pode reverberar na educação dos filhos”, pondera Bottura.
Então, uma fobia não é uma coisa isolada, traznedo grandes complicações caso não tratada. Ao reconhecer e buscar tratamento para o medo de água ou qualquer outro tipo de fobia, os indivíduos podem recuperar o controle sobre suas vidas e desfrutar de uma maior liberdade e satisfação pessoal.
E o medo de águas profundas?
O medo de águas profundas, também conhecido como talassofobia, é uma fobia específica caracterizada por um medo irracional e persistente de corpos de água vastos, como oceanos, mares, lagos profundos ou até mesmo piscinas fundas. Indivíduos que sofrem de talassofobia experimentam ansiedade intensa e desconforto ao se deparar com águas profundas ou ao pensar na ideia de entrar nelas.
Essa fobia pode ser desencadeada por uma variedade de fatores, incluindo experiências traumáticas passadas relacionadas à água, preocupações com o desconhecido ou o que pode habitar nas profundezas, e a sensação de falta de controle ou segurança em ambientes aquáticos vastos e imprevisíveis.
Assim como outras fobias, o medo de águas profundas pode ter um impacto significativo na vida diária do indivíduo, interferindo em atividades recreativas, viagens, ou mesmo causando dificuldades em situações cotidianas, como atravessar pontes sobre rios ou dirigir próximo a corpos de água profundos.
O tratamento para talassofobia pode envolver terapias cognitivo-comportamentais, exposição gradual à água e técnicas de relaxamento para ajudar o paciente a enfrentar e superar seu medo. A abordagem terapêutica escolhida dependerá das necessidades individuais do paciente e da gravidade de sua fobia.
LEIA MAIS
Medo do dinheiro e até de sentar: conheça as 7 fobias mais raras e incomuns
Qual é a real diferença entre sentir medo e sofrer de fobia?