A atriz Mabel Calzolari morreu, na última terça-feira (22), aos 21 anos de idade. A artista lutava contra a aracnoidite torácica, uma condição rara que começou a se manifestar logo após dar à luz Nicolas, seu primeiro filho, em 2019. Trata-se de uma inflamação da aracnóide, uma das três membranas que revestem o cérebro e a medula. Ela tem o formato de uma aranha, por isso o nome.
“Nessas cavitações, corre o líquido encéfalo raquidiano. Quando há uma inflamação dessa membrana, é chamado de aracnoidite – uma inflamação da aracnóide. Ela é muito comum no pós-traumático ou em pacientes que lesionaram a coluna, por exemplo, e estão estáveis”, explica o neurologista Felipe Gargioni Barreto, da Clínica Personal Ortopedia.
As complicações vividas por Mabel desde quando teve o filho por meio de uma cesária são muito raras. O acúmulo de líquido nessa região é chamado de siringomielia. Isso faz com que piore a circulação do líquor – produzido no cérebro, responsável por transportar nutrientes e agir contra infecções.
“Começa a gerar pressão no sistema nervoso, fazendo com que ele não funcione direito, levando a dores, dificuldade de caminhar, má coordenação motora, ou somente dores. Os sintomas são bem variáveis”, conta o médico. Com o passar do tempo, o paciente pode sentir dores e movimentos involuntários que culminam em paraplegia e tetraplegia caso não sejam tratados.
COMO RESOLVER?
De acordo com o neurologista, o tratamento vai depender dos sintomas do paciente. Eles podem ir de simples fisioterapias a cirurgias contínuas. Antes de falecer, a atriz de 21 anos chegou a fazer nove cirurgias no intervalo de seis meses para fazer a manutenção de uma válvula, responsável por drenar o líquido acumulado na medula.
“Geralmente, a cirurgia já resolve e o paciente fica com sintomas mais leves e tratáveis. Mas existem casos em que, mesmo com várias cirurgias, nunca se consegue a cura. É uma doença relativamente rara, e com várias apresentações”, explica o especialista.
COMPLICAÇÕES
A atriz Monique Curi, amiga de Mabel, comentou que o excesso de cirurgias para a manutenção da válvula pode ter ocasionado uma série de sintomas na jovem, como convulsões e perda de memória, ocasionando mais tarde as paradas respiratórias e cardíaca que a mataram. O especialista, porém, ressalta que o caso muito provavelmente foi uma fatalidade.
“Não é comum que pacientes desse tipo evoluam para a siringomielia. Casos como a paraplegia são mais vistos do que a morte propriamente dita. Quando há necessidade de cirurgia, existe um grau de falha alto. Assim como os traumas, a cirurgia vai fazer cortes e imobilizar a medula. Pode resolver o problema e melhorar, mas também existe a possibilidade de gerar mais inflamação. Não é comum precisar de mais de uma cirurgia. Acredito que, se o procedimento fosse tão agressivo, pensariam em tratar de outra forma. Foi inesperado”, avalia.