Ondas de calor, suores noturnos e o fim da menstruação são os sintomas mais conhecidos da menopausa. Mas, para muitas mulheres, a transição hormonal chega de forma sutil – e quase imperceptível. O fenômeno, conhecido como “menopausa silenciosa”, pode afetar a saúde física, mental e metabólica, sem que a mulher perceba que está entrando no climatério.
Segundo dados do IBGE, cerca de 30 milhões de mulheres brasileiras estão na faixa etária da menopausa e do climatério, mas menos de 240 mil foram diagnosticadas pelo SUS. Isso revela um cenário de desinformação e sofrimento silencioso.
“Muitas vezes, ela não apresenta essas ondas de calor e nem percebe as mudanças imediatas no ciclo menstrual, mas começa a sofrer com sintomas como insônia, dificuldade de concentração, cansaço persistente, alterações de humor e até mesmo ressecamento vaginal severo”, explica a endocrinologista Elaine Dias JK, PhD pela USP.
Esses sintomas, por não serem imediatamente associados à menopausa, costumam ser confundidos com estresse, sobrecarga ou quadros emocionais como ansiedade e depressão. “A mulher se sente exausta, com lapsos de memória, sono leve e não reparador, e começa a duvidar de si mesma. Muitas vezes, ela ouve que tudo é emocional, quando há, sim, uma base fisiológica e hormonal para o que está vivendo”, destaca a médica.
Outro sinal frequente é a redistribuição de gordura corporal. “As pacientes, quando estão no climatério, nesse período de pré-menopausa, que começa até oito ou dez anos antes da menopausa, apresentam uma redistribuição de gordura. A gordura começa a se acumular na região visceral, no abdômen, o que é muito comum. Também é frequente o ganho de peso, a diminuição do metabolismo e o aumento da vontade de comer doce”, acrescenta.
Um estudo publicado na revista Climateric mostra que 73,1% das brasileiras entre 46 e 48 anos relatam sintomas climatérios, e 78,4% continuam apresentando essas manifestações mesmo após a menopausa. Como a intensidade e a regularidade variam bastante, muitas mulheres acabam não reconhecendo esses sinais como parte da transição hormonal.
Consulte sempre um especialista
Mesmo sem oferecer riscos imediatos, a menopausa mal conduzida pode causar impactos relevantes na saúde. A queda do estrogênio está relacionada à perda de massa muscular, distúrbios do sono, piora da memória de curto prazo, alterações no humor, aumento da glicose e do colesterol, além da secura das mucosas, especialmente na região vaginal.
“O corpo da mulher muda por completo, mas, como essas mudanças não vêm acompanhadas de sinais drásticos, elas vão sendo administradas erroneamente ou ignoradas. Muitas pacientes relatam que sentem como se tivessem deixado de ser quem eram. Isso é extremamente doloroso e, infelizmente, ainda é pouco falado”, afirma Elaine.
Para a especialista, a menopausa precisa deixar de ser tratada como um tabu. “Precisamos romper o silêncio e criar espaços de escuta e acolhimento. Menopausa não é doença, mas pode se tornar um problema de saúde se ignorada ou mal conduzida”, alerta.
O diagnóstico da menopausa silenciosa é feito com base na escuta atenta da paciente, na análise clínica e em exames hormonais. O tratamento é individualizado e pode incluir desde mudanças no estilo de vida até terapia hormonal, se não houver contraindicações.
“Cada mulher tem sua própria história, seu próprio ritmo de transição hormonal. O papel do médico é respeitar essa individualidade e oferecer cuidado integral, com orientação clara, sem tabu e com empatia”, finaliza a médica.
Resumo:
A menopausa pode se manifestar de forma sutil, com sintomas como insônia, cansaço e alterações de humor. Reconhecer esses sinais precocemente é essencial para garantir qualidade de vida nessa fase de transição.
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