Trocar a cor dos olhos definitivamente deixou de ser algo exclusivo das lentes de contato ou, até, de pessoas com heterocromia. Agora, um novo procedimento cirúrgico chamado ceratopigmentação — também conhecido como cirurgia para mudar a cor dos olhos — tem ganhado destaque no mercado estético.
Originalmente criada para fins médicos, a operação é indicada, na maioria das vezes, para pessoas com cegueira ou com baixa visão extrema. O objetivo da cirurgia é recuperar a aparência de um olho normal. Porém, ela agora atrai pessoas que desejam alterar a cor dos olhos sem condições médicas.
Essa técnica, comparada a uma “tatuagem no olho”, insere micropigmentos na córnea para alterar sua coloração. No entanto, especialistas alertam: o procedimento de R$ 70 mil é considerado de alto risco e não é recomendado para fins estéticos. Ainda assim, a busca por olhos azuis ou verdes, como os de apenas 15% da população mundial, continua crescendo.
Como funciona a cirurgia para mudar a cor dos olhos?
A ceratopigmentação foi desenvolvida como uma solução médica para pacientes cegos ou com manchas brancas nos olhos, visando melhorar a aparência ocular. Durante o procedimento, micropigmentos são implantados nas camadas mais internas da córnea, alterando sua cor de forma permanente.
Em entrevista à Agência Brasil, a oftalmologista Juliana Feijó Santos explica que, em casos médicos, a cirurgia é indicada para quem não se adapta às lentes de contato cosméticas ou não pode usar próteses oculares.
Segundo a especialista, “a técnica é voltada para recuperar a autoestima de pacientes com comprometimento visual significativo. Para fins estéticos, ela é contraindicada devido aos riscos e à falta de evidências científicas sobre sua segurança a longo prazo.”
Os riscos incluem infecções graves, lesões na córnea, sensibilidade à luz e até a possibilidade de cegueira permanente. Além disso, o pigmento utilizado pode dificultar exames futuros, como mapeamento de retina ou cirurgias de catarata.
Por que o procedimento é arriscado?
Mesmo quando utilizado para fins médicos, a cirurgia para mudar a cor dos olhos é considerada invasiva e requer extrema cautela. O Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO) alerta que os principais perigos incluem:
- Infecções graves, que podem atingir o interior do olho;
- Lesões na córnea, com risco de perfuração;
- Dores persistentes, sensação de areia nos olhos e aversão à luz
- Dificuldade de enxergar, que pode evoluir para cegueira permanente.
“O estado prévio do olho a ser operado é determinante. Córneas finas, neoplasias não diagnosticadas ou transplantes de córnea anteriores aumentam o risco de complicações”, complementa Feijó.
Outro ponto destacado pelo CBO é a necessidade de cuidados rigorosos durante e após a cirurgia, incluindo infraestrutura adequada, uso de colírios específicos e acompanhamento clínico frequente.
Como trend nas redes sociais
Apesar das restrições e riscos, a cirurgia para mudar a cor dos olhos ganhou popularidade nas redes sociais, com vídeos mostrando transformações dramáticas. Em um dos casos mais comentados de 2024, uma brasileira com visão saudável realizou a ceratopigmentação na Suíça. O vídeo, publicado pela clínica responsável, já soma mais de 14 milhões de visualizações.
Esse tipo de conteúdo alimenta a curiosidade sobre a cirurgia e atrai pessoas dispostas a pagar altos valores para mudar a cor dos olhos. No entanto, o Conselho Federal de Medicina (CFM) reforça que o uso da técnica em pacientes saudáveis é considerado antiético e desaconselhado no Brasil.
“Não podemos ignorar que a busca por um ideal estético pode colocar a saúde em risco. É nosso dever alertar sobre os perigos associados a esse procedimento”, afirma Wilma Lelis, presidente do CBO.
Alternativas para quem deseja mudar a cor dos olhos
Para quem deseja alterar a cor dos olhos sem colocar a saúde em risco, as lentes de contato coloridas continuam sendo a melhor opção. Elas permitem mudanças temporárias e são muito mais seguras, desde que usadas com acompanhamento oftalmológico.
“Mesmo as lentes de contato exigem cuidado. Elas interferem na biologia lacrimal e podem causar irritações se não forem higienizadas corretamente ou usadas de forma inadequada”, explica Lelis.
O mercado global de estética, que movimenta mais de US$ 120 bilhões por ano, continua explorando novas técnicas e procedimentos. No entanto, quando se trata de saúde ocular, a recomendação dos especialistas é sempre priorizar a segurança e evitar procedimentos de alto risco, como a ceratopigmentação para fins estéticos.
Leia também:
6 plásticas ao mesmo tempo? Entenda o que deu errado na cirurgia da empresária
O que é blefaroplastia? Entenda a cirurgia feita por Ana Paula Siebert